POLIS

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O projeto nasce com foco no comportamento político nas sociedades contemporâneas e nos efeitos dos movimentos sociais e políticos atuais sobre as liberdades e processos emancipatórios, bem como seus impedimentos em escala local, nacional e global. Tem por objetivos o desenvolvimento de um campo interdisciplinar de reflexão e prática investigativa e divulgadora, reunindo debates em torno de questões como: preconceito, racismo, sexismo, xenofobia, movimentos sociais, violência coletiva social, relações de poder, movimentos emancipatórios de povos e nações, valores democráticos e autoritarismos, laicidade, análises de discursos e ideologias, de universos simbólicos e práticas institucionais. Nessa perspectiva, o Polis atua desde sua criação formal em 2013, como projeto de extensão e em 2015 como Blog para divulgação e atualização.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Uigures: perseguidos e humilhados

 




                                                        Regiões onde vivem os Uigures.



Penso muito nos povos perseguidos: os rohingya, os pobres uigures, os yazidis - o que o Daesh fez com eles foi muito cruel - ou os cristãos no Egito e no Paquistão, mortos por bombas detonadas enquanto rezavam na igreja

Papa Francisco



Quem é o povo a que se refere o Papa Francisco no texto em epígrafe? Trata-se dos uigures, minoria étnica e religiosa que vive na porção noroeste da China; muçulmanos da região autônoma de Xinjiang, que faz fronteira com o Paquistão e o Afeganistão. Falam uma língua que divide raízes com o turco. O povo uigure também se sente mais ligado, cultural e etnicamente, à Ásia Central do que ao resto da China. Há semelhanças entre o que se passa com os Uigures e com os tibetanos, povo que não se considera chinês e tem sido também vítima de suas investidas colonialistas desde os anos 1950. Segundo o Dalai Lama líder espiritual dos tibetanos exilado na Índia, o Tibete foi transformado em um verdadeiro inferno com a morte de centenas de milhares de tibetanos resultante da ocupação chinesa em seu território. Ambos têm sonhos independentistas que são legítimos tendo em vista suas histórias respectivas. Ambos são, portanto, focos de perseguição por razões culturais, econômicas e religiosas. Há também queixas semelhantes dos dois povos: sentem-se igualmente excluídos política e economicamente por Pequim, não tendo, por esses razões, quaisquer motivos para fazer parte de um país que não cede a qualquer reivindicação e os trata com brutalidade e inferioridade. Apesar da distância geográfica, cultural e histórica há outras coincidências entre os dois povos e regiões. Habitam territórios de grande importância estratégica  para a China, com riquezas naturais e grandes áreas produtivas para a agricultura, o que faz a mão pesada de Pequim querer definir seus destinos. A perseguição étnica, religiosa e cultural deve continuar se aprofundando no Noroeste da China. Longe dos olhos da opinião pública internacional, a nação imperialista vende essa investida com feitio de terrorismo de Estado como luta antiterror para angariar simpatia do Ocidente a sua estratégia de aculturação forçada. Sabe-se, contudo, tratar-se muito mais de uma luta com alvo certo, a religião e a cultura que fazem dos Uigures, únicos na imensidão da China. As alegadas medidas de combate ao extremismo são de fato uma perseguição sistemática ao povo uigure devido, principalmente, além da questão econômica, a esses três fatores: etnia, religião e cultura. Há no passado recente o registro de um ataque terrorista na China atribuído ao povo uigure, que acirrou os ânimos no centro do poder do país e foi tomado para justificar atrocidades posteriores patrocinadas pelo governo. O ataque terrorista na região de Xinjang em 2014 matou 31 pessoas e feriu outras 94 e foi atribuído a separatistas uigures. Isso resultou na criação de um sistema de vigilância local e de campos de detenção em massa, chamados eufemisticamente de Centros de Treinamento em Formação Profissional, para o encarceramento compulsório e arbitrário de pessoas com perfil étnico determinado. Também há outras estratégias para tornar a região apenas mais um bloco chinês sob o mando inquestionável de Pequim. Urbanização, migração de trabalhadores, conexões de transportes para atingir os últimos rincões de Xinjiang, integrando-os a uma China que ainda lhes é estranha e ameaçadora; remanejamento de crianças para escolas chinesas para que abandonem sua identidade étnica e religiosa, prova clara de controle compulsório e desrespeito a um povo e sua cultura. Sequer aqueles poucos que conseguem fugir para longe se livraram da intimidação e ameaças do Estado chinês. Exilados em países longínquos, Uigures continuam sendo perseguidos e têm suas famílias que ficaram para trás feitas reféns para serem chantageados. A perseguição é estudada e executada com violência e desumanidade pelos mandantes de Pequim para eliminar todas as raízes religiosas e heranças culturais uigures, pretendento, desse modo, assegurar o domínio completo na região. A China não quer aceitar na sua dimensão continental o convívio de diferentes povos e culturas e muito menos que esses povos se beneficiem, ainda que seja com um mínimo de autonomia, da riqueza local. 




Um pastor da etnia uigur caminha com seu rebanho de ovelhas perto do Monte Tianshan em Aksu, Xinjiang, em 28 de julho de 2012 (© Reuters/Stringer). 


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