POLIS

POLIS
O projeto nasce com foco no comportamento político nas sociedades contemporâneas e nos efeitos dos movimentos sociais e políticos atuais sobre as liberdades e processos emancipatórios, bem como seus impedimentos em escala local, nacional e global. Tem por objetivos o desenvolvimento de um campo interdisciplinar de reflexão e prática investigativa e divulgadora, reunindo debates em torno de questões como: preconceito, racismo, sexismo, xenofobia, movimentos sociais, violência coletiva social, relações de poder, movimentos emancipatórios de povos e nações, valores democráticos e autoritarismos, laicidade, análises de discursos e ideologias, de universos simbólicos e práticas institucionais. Nessa perspectiva, o Polis atua desde sua criação formal em 2013, como projeto de extensão e em 2015 como Blog para divulgação e atualização.

quarta-feira, 16 de maio de 2018

ZÂMBIA: UMA TERRA SEM HORIZONTE


     Mukuni Village Zâmbia - Os órfãos do HIV


Zâmbia: uma terra sem horizonte

Antonio C. R. Tupinambá
maio de 2018


Sem saída para o mar e de certo modo, sem qualquer saída, a Zâmbia amarga índices de pobreza que se aprofundam desde que foi proclamada a sua independência da Grã-Bretanha em 1964. São 54 anos de declínio e desesperança. A cada ano diminuem os motivos para sua comemoração. Os problemas se avolumam, as pessoas não veem motivos para festejos em um cotidiano de luta pela sobrevivência. Uma população que teve a expectativa de vida decrescida de 54 anos na década de 1980 para 37 nos anos 2000, influenciada pela malária, má nutrição e Aids, esta atingindo proporções alarmantes, cerca de 20% da população.  Uma nação de órfãos: mais de 600 mil crianças zambianas são órfãs de pai e mãe. "Em muitas famílias é a avó ou a irmã mais velha (algumas vezes com 12 ou 13 anos) que tomam conta dos mais novos. As projecções indicam que, nos próximos cinco anos, vai haver na Zâmbia mais de um milhão de órfãos. Um terço das crianças entre os 7 e os 12 anos não frequentam a escola primária, e 75 por cento dos jovens entre os 13 e os 18 anos não frequentam a secundária. Dados recentes mostram que cerca de 60 por cento das crianças sofrem de má nutrição.(http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EEFZVEuZFlVAqngwEg, consultado em maio de 2018).

O Território da Zâmbia, que mede cerca de sete vezes o estado de Pernambuco, se localiza na porção centro-sul do continente africano, limitando-se com a República Democrática do Congo (ao norte), Angola (a oeste), Namíbia (a sudoeste), Zimbábue (ao sul e a sudoeste), Tanzânia (a nordeste), Moçambique e Malauí (a leste). A maioria da sua área é coberta por savanas e o país também abriga extensos rios, onde estão as famosas cataratas de Vitória.
            A Zâmbia (antiga Rodésia do Norte) conquistou a independência no dia 24 de outubro de 1964. Desde então, o país passou a integrar a Comunidade Britânica – bloco formado pelo Reino Unido e suas antigas colônias. O páis possui uma das economias mais pobres do planeta, tendo na extração e exportação de cobre a principal fonte de receitas. Outro minério importante para o país é o cobalto. A agricultura, em especial a de subsistência, emprega cerca de 70% dos zambianos, que cultivam batata, milho, mandioca, amendoim, café, algodão, cana-de-açúcar e tabaco. A indústria, pouco diversificada, atua nos segmentos de tratamento de minerais, produção de cimento e alimentício. O turismo também contribui para o Produto Interno Bruto Nacional (PIB). Esse setor é impulsionado pelos parques nacionais e pelas cataratas.

            A população, composta de cerca de 70 etnias distintas, sofre com diversos problemas socioeconômicos. A maioria dos habitantes vive abaixo da linha de pobreza, ou seja, com menos de 1,25 dólar por dia; o índice de analfabetismo é de 30 (https://brasilescola.uol.com.br/geografia/zambia.htm, consultado em maio de 2018)
            Não se deve esquecer o papel do país na luta contra o apartheid e o racismo na África do Sul e pela independência dos seus vizinhos, Moçambique e Zimbabwe. A transição democrática pós-colonial foi relativamente pacífica mas o novo regime sofreu as consequências de uma colonização predadora e com poucos investimentos para o desenvolvimento do próprio país e o bem-estar do seu povo, especialmente no que tange ao acesso à educação e saúde.
            O tempo pós colonialismo foi mal aproveitado pelos governantes locais e levaram ao aprofundamento de crises econômicas e sociais. A democracia que veio substituir um regime fechado de partido único não trouxe os resultados esperados: a esperança que suscitou nos seus primeiros tempos foi esmagada pelo pessimismo resultante de más administrações, abusos de poder, intrigas políticas, corrupção e desrespeito aos mais elementares direitos humanos que se possa nomear.  Some-se a todas essas mazelas a falta de apoio externo para o saneamento de dívidas e incremento do comércio internacional, essenciais para um novo posicionamento do país no cenário mundial.
            Os políticos corruptos e inescrupulosos se juntam a alguns líderes religiosos coniventes e oportunistas para se aproveitar da população com pouca educação e submetida a um “cristianismo de rebanho”, consolidando, assim, o círculo de exploração e miséria. Edgar Lungu, presidente eleito em 2015, busca a intervenção divina como ajuda para problemas de natureza terrena: a economia em crise, moeda em queda, colapso no preço das commodities, crise energética, só para citar algumas  dificuldades que assolam e impedem a governança da nação africana.  Decretar um dia de oração e jejum é uma das estratégias “políticas” do presidente Lungu que deve fundamentar ou até substituir ações governamentais para diminuir a miséria, tirar o país do caos e combater a crise em que se encontra.