POLIS

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O projeto nasce com foco no comportamento político nas sociedades contemporâneas e nos efeitos dos movimentos sociais e políticos atuais sobre as liberdades e processos emancipatórios, bem como seus impedimentos em escala local, nacional e global. Tem por objetivos o desenvolvimento de um campo interdisciplinar de reflexão e prática investigativa e divulgadora, reunindo debates em torno de questões como: preconceito, racismo, sexismo, xenofobia, movimentos sociais, violência coletiva social, relações de poder, movimentos emancipatórios de povos e nações, valores democráticos e autoritarismos, laicidade, análises de discursos e ideologias, de universos simbólicos e práticas institucionais. Nessa perspectiva, o Polis atua desde sua criação formal em 2013, como projeto de extensão e em 2015 como Blog para divulgação e atualização.

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

ENTRE DAMASCO E ISTAMBUL ESTÁ O BRAVO POVO CURDO[1]

 



                                            Rojava (50 000 km2) Foto: Kurdische Gemeinde Deutschland e.V.




 


Sete anos após seu nascimento, o que resta do projeto pluralista e democrático concebido pelo PYD [Partido da União Democrática (PYD), ramo sírio do Partido Popular Curdo (PKK), com os dois outros componentes principais da população de Rojava: árabes e cristãos siríacos]? Nossa jornada começa no leste, no campo de refugiados de Newroz, em Derik, não muito longe das fronteiras da Turquia e do Iraque. Leila M. nos conta sobre seus seis êxodos desde 2018. “Minha família e eu somos de Afrin. Quando os turcos chegaram, fugimos para Chabab, depois para Alepo. De lá fomos para Kobane. Então meu filho encontrou emprego em Ras al-Ain. Após o ataque turco, tivemos de fugir descalços para Tall Tamer, e agora estamos neste campo.” Derwich F., pequeno agricultor em Tell Abyad, também relata sua fuga, no outono passado. “Vivíamos felizes. O sistema político funcionava muito bem. Então o presidente turco nos bombardeou com seus aviões. Todos os curdos foram embora.”[2]


 

No meio do caminho, entre Damasco e Istambul, por onde correm os rios  Tigre e  Eufrates, está o povo Curdo de Rojava. A maior etnia sem nação própria, nunca conseguiu reunir seu povo em um território que juntasse partes de diferentes países onde vivem e têm suas terras cortadas por diversas fronteiras. A Turquia, maior opositora desse projeto curdo perfila soldados com seus mísseis na fronteira com a Síria, região que compreende o Curdistão do Oeste, termo cunhado pelos curdos para o território sírio por eles habitado. Essa área predominantemente curda é conhecida como Rojava e se situa ao norte do país sírio, na fronteira com a Turquia. "Rojava fica no norte da Síria e na parte ocidental do chamado Curdistão. A área estende-se por mais de 2.000 quilômetros quadrados e é composta por três cantões Afrîn, Kobanê e Cîzire. Os cantões estão entre o rio Eufrates e o Tigre, um dos centros agrícolas mais antigos do mundo. As maiores cidades são: Kobanê, Amuda, Afrin, e Qamişlo…"[3]

Nela vivem mais de 300 mil curdos-sírios. A região que se encontra sob o controle do Partido da União Democrática (Partiya Yekîtiya Demokrat – PYD em curdo) desde 2012, conta com as Unidades de Proteção Popular (Yekîneyên Parastina Gel - YPG, em curdo), consideradas "a força síria mais efetiva na luta contra o Estado Islâmico. Além disso, o PYD é aliado ao Partido dos Trabalhadores Curdos da Turquia. O Estado Islâmico também se opõe aos curdos, que por sua vez tinham o apoio dos Estados Unidos e também da Rússia”[4]. Esse apoio foi covardemente retirado em 2019 pelo governo americano, o que deixou os curdos à própria sorte e uma isca para os planos de limpeza étnica da Turquia: "A retirada das forças norte-americanas do norte da Síria, em outubro de 2019, permitiu que o Exército turco atacasse Rojava, o enclave onde populações curdas e árabes tentam colocar em prática os princípios de um comunalismo democrático. Agora, a sorte desse território depende cada vez mais das negociações entre Ancara, Damasco e Moscou".[5] São exatamente muitas das guerreiras curdas do YPG que se expõem na linha de frente da batalha contra os fanáticos na Síria. "Todas são voluntárias, e muitas nunca haviam pegado em armas antes. O grupo começou em 2012, com o intuito de defender a população curda do regime de Bashar al-Assad, ditador sírio. À medida que a guerra civil síria se intensificou, com a entrada do Estado Islâmico, as mulheres passaram a combater os terroristas. Em agosto, em Raqqa, elas já resgataram centenas de civis e derrotaram dezenas de extremistas".[6]

Com a formação de um governo nessa região ao norte do país sírio, o PYD passou a empreender em 2012, um grande esforço para expandir seu controle territorial e consolidar um novo tipo de experimento político, tendo como fundamento teórico as ideias de Öcalan: o confederalismo democrático. Diversos encontros foram realizados durante o ano de 2013, culminando em uma Conferência, no dia 12 de novembro, com a participação de mais de 35 diferentes organizações, incluindo as diversas etnias da região, como curdos, árabes, assírios e yazidis”.[7] Esse potencial de se organizar em Rojava por meio de uma Revolução Socialista Libertária veio após a eclosão da guerra síria em 2011. (Moraes e Vieira, 2017).

Esse "Curdistão do Oeste", habitat sírio dos seus povos curdos que abriga os Combatentes do Partido da União Democrática Curda (PYD), o braço sírio do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK, rebeldes curdos da Turquia) e sempre prontos para o combate contra rebeldes de cidades sírias fronteiriças da Turquia. Mas isso não é bem visto pelo governo em Ancara. Até que ponto não se tornaria esse território um ambiente propício para abrigar membros em guerra do PKK? Quais seriam os reflexos dessa região “autônoma" dentro da Síria sobre o próprio Curdistão turco? Não por menos a decisão do governo bélico turco de instalar, com aval da OTAN, mísseis antiaéreos em sua fronteira com a Síria, o que leva a crer, ao contrário do que se escuta em Ancara sobre mecanismos de autodefesa, seja a concretização do desejo de continuar atacando o povo curdo, inclusive além fronteiras. Juntos, curdos dissidentes originários do Curdistão e os curdos sírios pretendiam, segundo relatos de militantes[8] locais formar uma força militar unificada para se defenderem de ataques rebeldes. Novamente os Curdos, perseguidos no Curdistão e na Turquia e com sua longa história de perseguição em outros países a que pertencem, correm sério risco de ter que passar por mais perdas e sofrimento. Não há como esquecer os ataques químicos que sofreram durante a ditadura de Saddam Hussein na região iraquiana em que vivem. Em 16 de março de 1988, cerca de 5.000 curdos iraquianos, em sua maioria mulheres e crianças, foram assassinados pelo exército de Saddam Hussein por meio de bombardeamento com gases na cidade de Halabja, nordeste do país. Após uma longa história de catástrofes voltam a se preocupar com sua sobrevivência enquanto nação dentro de outras nações; desta feita na Síria, pelo perigo da violência turca.

Apesar de ser os responsáveis pelo exitoso combate ao terrorismo do Exército Islâmico no país sírio durante a guerra, são tratados como terroristas.  Suas composições políticas e militares em Rojava que visam à autodefesa foram, sem razão, condenadas pelos governos turco e americano. Por conta desse erro, a Turquia e os Estados Unidos cometem uma grande injustiça com o projeto de prosperidade que esse povo implementava na região. Há uma defesa implícita da democracia nesse projeto dos curdos de Rojava e a construção de novas formas de governar, nas quais opressão e neoliberalismo são excluídos. "Embora, no Iraque, os curdos tenham conquistado sua própria região autônoma em 2003, essa foi uma conquista instituída pelos Estados Unidos, quando invadiram o país, e imposta às outras forças políticas[…] Foi, portanto, uma autonomia imposta de cima para baixo, e dependente do apoio dos americanos […] Em contraposição, o experimento de autonomia democrática em Rojava foi promovido pelos próprios curdos da região, ainda que contando com algum apoio militar dos EUA na luta contra o Estado Islâmico. Dentre os fatores mais específicos, para além do problema da identidade, que desencadearam a revolta curda contra o regime de Assad, destaca-se: falta de infraestrutura, desemprego, baixa mobilidade social, e o aumento da população jovem[…] Diferentemente dos curdos do Iraque, que reivindicam o estabelecimento de um Curdistão independente, o movimento de libertação dos curdos sírios acredita que o Estado-nação está ultrapassado no mundo da globalização; eles reivindicam algo mais democrático, feminista e etnicamente inclusivo, e dizem estar tentando construir isso em Rojava”.[9] Notável e única trata-se, talvez, da revolução mais explicitamente feminina já testemunhada na história recente. Em seu texto onde se pergunta como o Oriente pode se livrar do caos, Cemil Bayik cita a relevância da revolução Rojava ser feminina. "O fato de a revolução em Rojava colocar as mulheres em primeiro lugar é uma garantia da sua sobrevivência e sustentabilidade. O desenvolvimento do patriarcado está intimamente relacionado ao surgimento e ao desenvolvimento do sistema centralizado de governo. O sistema de civilização centralizadora é um sistema de negação da vida.”[10] Uma região cujas mulheres eram em sua maioria camponesas e destinadas ao trabalho doméstico, tendo o casamento infantil como uma prática comum sofreu mudanças civilizatórias e culturais impensáveis. "Essas tradições foram derrubadas: casamento infantil, por exemplo, agora é ilegal. Há organizações de mulheres paralelas em cada campo, de uma milícia separada feminina, o YPJ, até comunas e cooperativas femininas paralelas. Autodefesa é um princípio da revolução de Rojava, por isso as mulheres são tão ativas na luta armada — mas o conceito se estende para o direito de autodefesa contra todas as práticas e ideias contra mulheres, incluindo aquelas da sociedade tradicional, não só contra a violência extrema do Daesh”.[11] Daesh é uma sigla em árabe formada a partir das letras iniciais do nome árabe do grupo - 'al-Dawla al-Islamiya fil Iraq wa al-Sham. Daesh soa como um verbo árabe que significa pisar ou esmagar algo e tem, portanto, um sentido depreciativo, sendo utilizado como uma forma de tirar a legitimidade do grupo, devido às conotações negativas que evoca.

Comparações do que se passava em Rojava com a Espanha de 1934-36 não são incomuns: trata-se de uma experiência feminina “inspirada nas concepções de um teórico libertário, Murray Bookchin, que é chamado de municipalismo libertário: secularismo, conselheirismo, ecologismo, igualitarismo, igualdade de gênero, respeito pelas minorias. As minorias culturais, é claro, não faltam em Rojava: yezidis, turcomanos e tantos outros, e na capital, Qamishlo, muitos cristãos assírios - os primeiros perseguidos pelo DAESH nos dias mais trágicos. Utopia? Não: implementação pragmática da liberdade e da fraternidade”.[12]

Ilham Ehmed, co-presidente do Conselho Democrático da Síria, alerta para as atrocidades que podem vir com a já conhecida hostilidade característica do exército e militares turcos, desta feita nos territórios curdos da Síria, inclusive com a estratégia de povoamento árabe para enfraquecer a presença curda na região. “A Turquia não apenas destruirá o projeto Rojava, mas também ameaça realizar uma transferência da população, assentando alguns dos três milhões de refugiados sírios que agora estão na Turquia. Esses refugiados sírios não são dessa região, mas do extremo oeste da Síria. Essa transferência populacional significa uma limpeza étnica (ou seja, uma violação do artigo 49 da Quarta Convenção de Genebra, de 1949)”.[13]

Essa presença ostensiva e destrutiva do  Exército turco já se percebe desde outubro de 2019 no nordeste da Síria, controlando uma faixa de 150 quilômetros de comprimento e 30 quilômetros de largura entre as cidades de Tell Abyad e Ras al-Ain (Serekaniye, em curdo), quando suas forças militares já estavam presentes mais a oeste, após o avanço sobre Afrin e seus arredores, em janeiro de 2018, impedindo a continuidade territorial da região curda politicamente autônoma desde 2013, conhecida como Rojava (“o oeste”, em curdo) ou como Federação Democrática do Norte da Síria. Um governo que tem como princípio não deixar que os curdos tenham paz e consegue por em xeque uma aliança político-militar estabelecida pelo Partido da União Democrática (PYD), ramo sírio do Partido Popular Curdo (PKK), com os dois outros componentes principais da população de Rojava: árabes e cristãos siríacos: "Essa aliança, que leva o nome de Forças Democráticas da Síria (FDS), cujo braço político é o Conselho Democrático da Síria (CDS), também deve contar com as tropas de Bashar al-Assad, que não desistiu de assumir controle de toda essa região, da qual se retirou em 2012”[14].


Rojava vinha se tornando o único enclave seguro no meio do caos sírio, até que as ameaças e ataques do Estado Islâmico se multiplicassem e atingissem vários pontos da região. As forças das Unidades de Proteção ao Povo (YPG), eficazes combatentes dos terroristas do E.I. pareciam estar perdendo o controle regional para os inúmeros atentados e ataques. O apoio estadunidense e turco em entrar no combate curdo ao E.I. veio somente após a sua ameaça em invadir Kobani, cidade-chave a poucos quilômetros da fronteira turca e até mesmo Ankara, capital do país. (Carranca, 2015).[16] O apoio que garantiu vitórias para o povo curdo contra o sanguinário exército terrorista em várias cidades de Rojava se desfez em 2019, o que jogou novamente os curdos no abandono.

A guerra civil na Síria de 2012 tem suas raizes mais superficiais ainda em 2011, quando manifestantes foram às ruas de Deraa, cidade no sul do país reivindicando a liberação de 14 estudantes de uma escola local. "Os alunos haviam sido presos e supostamente torturados por terem escrito no mural do colégio o conhecido slogan dos levantes revolucionários na Tunísia e no Egito: 'As pessoas querem a queda do regime’".[16] O regime de Bashar al-Assad tratou de reprimir com brutalidade a manifestação, levando, posteriormente, o protesto a atravessar as fronteiras de Deera.

Quando a guerra civil chegou a Aleppo, ao norte do país,  destruiu praticamente toda a cidade. Em início de 2016 já se viam dezenas de milhares de refugiados na fronteira do país fugindo de bombardeios da força aérea russa e de ataques de tropas leais ao regime de Bashar al-Assad. Aleppo, a maior cidade da Síria e um tradicional centro comercial do país se tornou uma das principais frentes dessa guerra sem fim. A nação síria é dominada pelos conflitos internos mas com larga contribuição de vários entes externos, a exemplo da Rússia, Irã, Arábia Saudita, Estados Unidos da América e Turquia. O recrudescimento e manutenção da guerra parece ser um objetivo e não algo a ser superado pela negociação. Desde julho de 2012, constantes batalhas entre as tropas do regime e rebeldes que querem derrubar o presidente Bashar al-Assad, além da presença destruidora do Daesha só causam morte e destruição sem promessas de superar a barbárie. O número de pessoas que conseguem fugir das áreas em guerra só cresce, tendo por corolário uma catástrofe humanitária sem precedentes. Essa guerra, que teve início em 2011 é, portanto, considerada a maior crise humanitária do século XXI.


O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) estima que houve, até o presente, 5,5 milhões de refugiados sírios e 6,6 milhões de deslocados internos no país (ACNUR/Global Trends, 2016). Desde o início do conflito, o número de pessoas severamente feridas é de mais de 2 milhões e o número de mortos já passa os 511 mil de acordo com Syrian Observatory for Human Rights (SOHR), sendo que 85% foram vítimas de ataques do governo ou de forças aliadas (SOHR, 2017). Segundo Syrian Center for Policy Research (SCPR), dos 20,8 milhões de habitantes que o país possuía em 2011, 11,5% foram mortos ou sofreram ferimentos graves. Atualmente a população da Síria é de aproximadamente 18,4 milhões (SCPR, 2017).[17]

 

Nessa guerra que envolve tantos interesses externos, várias etnias e conflitos históricos, a questão curda, apesar de extremamente relevante, é apenas um dos seus elementos. Muitos grupos e países, cada um com suas próprias agendas, estão envolvidos, tornando a situação muito mais complexa e prologando a guerra. Dentre outras acusações a de terem cultivado o ódio entre os grupos religiosos na Síria, colocando a maioria muçulmana sunita contra o setor xiita alauíta do presidente. Esse mosaico cultural, religioso, as muitas divisões e as diferentes ingerências externas no país fazem da paz apenas um elemento cada vez mais distante de ser alcançado.

 

Se você tirar a liberdade, todas as quatro estações e eu morreremos[18]

 

Se dos meus poemas

você arranca a flor

das quatro estações da minha poesia

uma delas morrerá.

Se você excluir o amor

duas delas morrerão

Se você excluir pão

três delas morrerão.

E se você tirar a liberdade

todas as quatro estações e eu morreremos.

(Sherko Bekas - poeta curdo)

 

Fortaleza, 9 de novembro de 2020.


Referências


[1] Este texto se refere, principalmente, ao que ocorria no ápice da guerra civil na Síria em 2012. Em novembro de 2020, continua se discutindo o destino de Rojava, o que nos faz continuar atentos com o que se passa na região.  Quando os Estados Unidos deixaram unilateralmente a Síria, viabilizaram os planos da Turquia e do seu sanguinário presidente Erdogan para possivelmente cometer mais um genocídio contra o povo curdo em suas terras já liberados. Kobane, ora em suspenso, é o retrato do medo. A ameaça que antes vinha do E.I. agora vem do exército turco e suas milícias. Cinco anos após a vitória de 2015, pergunta-se que futuro é reservado para Rojava.

[2] Court, M.; Hond, C. D. O futuro suspenso de Rojava. Disponível em: <.https://diplomatique.org.br/o-futuro-suspenso-de-rojava/>. Acesso em novembro de 2020.

[3] O municipalismo libertário e a revolução em Rojava Isaías Albertin de Moraes Fernando Antonio da Costa Vieira Crítica e Sociedade: revista de cultura política, Uberlândia, v. 7, n. 2, 2017 , p. 84-85.

[4] Soares, J. V. S. A Guerra Civil na Síria: Atores, interesses e desdobramentos. Série Conflitos Internacionais. Observatório de Conflitos Internacionais da Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC) da Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho (UNESP) - Campus de Marília – SP, vol 5, n.1, fevereiro de 2018. Disponível em: <https://www.marilia.unesp.br/Home/Extensao/observatoriodeconflitosinternacionais/serie---a-guerra-civil-na-siria---atores-interesses-e-desdobramentos.pdf>. Acesso em: novembro de 2018.

[5] O futuro suspenso de Rojava.Mireille Court e Chris Den Hond.https://diplomatique.org.br/o-futuro-suspenso-de-rojava/). Disponível em: <https://diplomatique.org.br/o-futuro-suspenso-de-rojava/>. Acesso em: novembro de 2020.

[6] Quem são as mulheres curdas que combatem o Estado Islâmico? Disponível em: <https://veja.abril.com.br/mundo/quem-sao-as-mulheres-curdas-que-combatem-o-estado-islamico/> Acesso em: novembro de 2020.

[7] Nassera, R. M.; Roberto, W. M. A questão Curda na guerra da Síria: Dinâmicas internas e impactos regionais. São Paulo: Lua Nova, 106: 219-246, 2019, p. 228. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/ln/n106/0102-6445-ln-106-219.pdf>. Acesso em: novembro de 2020.

[8] Irã alerta oposição síria; rebeldes e curdos preparados para guerra. Disponível em: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2012/11/ira-alerta-oposicao-siria-rebeldes-e-curdos-preparados-para-guerra.html>. Acesso em: novembro de 2020.

[9]Sacramento Moreira, Vitória. O experimento de Rojava como politização do internacional e do feminismo. Dissertação de Mestrado - Mestrado em Relações Internacionais. Universidade Federal da Bahia, 2019, p. 80.

[10]  Bayık, C. Wien kann sic der Mittlere Osten com Chaos befreien? IN: Anja Flach; Ercan Ayboğa; Michael Knapp. Revolution in Rojava.  Frauenbewegung und Kommunalismus zwischen Krieg und Embargo. Eine Veröffentlichung der Rosa-Luxemburg-Stiftung in Kooperation mit der Kampagne TATORT Kurdistan, p. 20.

[11]A revolução mais feminista que o mundo já testemunhou. Disponível em: <https://www.vice.com/pt/article/9kwpzv/revolucao-mais-feminista>. Acesso em: novembro de 2020.

[12] Le Rojava : la fin d’une expérience encombrante ? Disponível em: <http://eurojournalist.eu/le-rojava-la-fin-dune-experience-encombrante/>. Acesso em novembro de 2020.

[13] Se você tirar a liberdade, todas as quatro estações e eu morreremos. Disponível em: <https://www.brasildefato.com.br/2019/10/14/se-voce-tirar-a-liberdade-todas-as-quatro-estacoes-e-eu-morreremos>. Acesso em: novembro de 2020.

[14] Coourt, M.; Den Hond, C. O futuro suspenso de Rojava. Disponível em: https://diplomatique.org.br/o-futuro-suspenso-de-rojava/>. Acesso em: novembro de 2020.

[15]Carranca, A. Ameaça ao último refúgio. Mundo, Jornal O globo. 20/09/2015, p. 41

[16]Entenda o conflito na Síria. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2012/07/120718_entenda_conflito_siria_lgb>. Acesso em: novembro de 2020. 

[17] O municipalismo libertário e a revolução em Rojava Isaías Albertin de Moraes Fernando Antonio da Costa Vieira Crítica e Sociedade: revista de cultura política, Uberlândia, v. 7, n. 2, 2017 , p. 62-63.

[18] Carta semanal 41 (2019): se você tirar a liberdade, todas as quatro estações e eu morreremos. Disponível em: <https://www.thetricontinental.org/pt-pt/newsletterissue/carta-semanal-41-2019-se-voce-tirar-a-liberdade-todas-as-quatro-estacoes-e-eu-morreremos/>. Acesso em: novembro de 2020.

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Terror, Martírio e Morte. Em nome de Deus?


                                                    Mapa de Moçambique


 

 

A província de Cabo Delgado localizada a Nordeste de Moçambique tem 17 distritos e cinco municípios; Pemba é sua capital portuária que desfruta o título de terceira maior baía do mundo. A província também é rica em gás em um país que contabiliza uma das maiores reservas mundiais desse recurso natural. Cabo Delgado faz fronteira a norte com a Tanzânia, dela separada pelo rio Rovuma, a oeste com a província do Niassa e a sul com a província de Nampula, na margem posterior do rio Lúrio, que deságua no Oceano Índico. Cabo Delgado.  além das grandes reservas de gás natural, possui petróleo na Bacia do Rovuma. Durante a guerra de libertação de Moçambique contra o colonialismo de Portugal, Cabo Delgado foi um bastião da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique). Nos dias de hoje, a província passou a frequentar os noticiários não por sua riqueza natural, mares de água cristalina, diversidade marinha que convidam principalmente europeus a visitar um outro lado de um paraíso quase desconhecido com mares azuis tocando um céu de anil, também um convite para os amantes do mergulho e da pesca. Desta feita o que motiva a província a estampar manchetes do noticiário internacional são doutra natureza e muito graves. A província de Cabo Delgado vem sofrendo, há três longos anos, uma guerra provocada por agentes malignos de além fronteiras e estranhos a sua vida e cultura.

Adeptos ao Estado Islâmico levam a Cabo Delgado suas ações de escárnio e terror, destruindo qualquer rastro do que se preservou de cultura autóctone e, apesar dos desmandos coloniais, do que se atingiu de civilidade humana em terras já tão castigadas pelas brutais ações de pilhagem dos invasores europeus. Recuperando-se desse rastro de destruição do passado colonial e ainda buscando a reconstrução nacional, o país sofre reveses em sua caminhada para o futuro sonhado de independência e autoafirmação por conta da ingerência bélica e prática do terror do Estado Islâmico  (E.I.) em suas terras.  As inimagináveis atrocidades do E. I. contra o país irmão Moçambique beiram a catástrofe e desafiam qualquer julgamento sobre onde pode chegar a maldade humana.  Desta feita os infames ataques terroristas atingiram as aldeias da província de Cabo Delgado. Um fato recente: o grupo terrorista atacou disparando sua artilharia contra a população local e incendiou muitas de suas casas. O quadro de terror é abominável: os testemunhos relatam várias decapitações e violações de mulheres. "Os atacantes gritaram “Allahu Akbar” (Alá é grande) antes de dispararem”[1].Mas o que pode haver de “grande” no ato de estuprar mulheres e matar pessoas inocentes? O que há de humano em tamanha barbárie? Qual religião aceitaria essas práticas de destruição e crueldade?

Mas não para por aí o rol de atrocidades. Os atos chegaram  ao ponto mais alto do macabro para assinalar os ditames da disfunção religiosa desses algozes e para anunciar ao mundo o grau de fanatismo dos jihadistas. Ao transformarem um campo de futebol em campo de extermínio e continuarem sua sanha de degenerados assassinos, o feito macabro culmina com a decapitação de meia centena de pessoas. Sua desumanidade é  coroada por essa prática medieval para que a marca indelével dos seus demônios fosse identificada e não permitisse ser ultrapassados nem pelos piores crimes de guerra já praticados contra a humanidade. Os jihadistas do Estado Islâmicos em ação em Moçambique se juntam, em perspectiva histórica, aos contra-exemplos de destruição e barbárie: Hitler,  Pol Pot, Suhato… Deixam-se, voluntariamente, se contaminar pelo veneno da pseudo-religião que querem impor para continuar destruindo e matando, negando qualquer fio de humanidade que lhes pudesse restar. Atos que se repetem face à impotência do governo moçambicano em frear a catástrofe islamita/jihadista. Surpreendem as populações com seus ataques e tentam recrutar jovens locais para seus exércitos de perversos e dessa forma, compulsoriamente, aumentar sua influência islâmica na região. Mais de 2.000 pessoas já foram assassinadas e centenas expulsas das suas casas por esses grupos fanáticos. O que precisa mais acontecer para que a ajuda internacional se una às forças moçambicanas em combate aos assassinos travestidos de religiosos? A simples, apesar de veemente, condenação do Secretário Geral da ONU sobre os ataques terroristas não é suficiente para dete-los. Há de se pensar estratégias de defesa incisivas para levar à região e combater de fato o exército de fanáticos, única linguagem que os bárbaros do Estado Islâmico reconhecem e pela qual podem ser intimidados e contidos em suas investidas contra o que nos resta de civilização.  A Anistia Internacional (AI) defendeu a criação de um mecanismo internacional independente para lidar com os crimes e violações de direitos humanos em Moçambique e criticou a inação da comunidade internacional face aos graves fatos ocorridos. “Há demasiado tempo que a comunidade internacional tem ignorado os horrores que acontecem em Cabo Delgado, e os nossos alertas sobre responsabilização pelos crimes chocantes ao abrigo da lei internacional e violações de direitos humanos, incluindo tortura, desmembramentos e execuções extrajudiciais têm sido ignorados pelas autoridades moçambicanas”.[2]

Donde provém estas forças malignas para o território de Moçambique? No caso específico de Cabo Delgado chegou a ser detido no passado recente um grupo de 12 iranianos em apoio ao terror jihadista. Iranianos que transportavam, numa embarcação, armamentos pesados na baía de Pemba foram detidos e feitos prisioneiros por suas ações de envolvimento com o terrorismo. Ainda há muito o que se descobrir sobre lideranças e origens desses grupos terroristas e jihadistas para que se evite seu crescimento e a consequente matança e recrutamento forçado do povo moçambicano seja freada. Uma crise humanitária naquele país está sendo moldada pelos canos de fuzis dos jihadistas a poucos palmos da visão das autoridades de Maputo e da ONU.

O terror  jihadista deve ser combatido  pois só dessa forma se frustará o gozo que têm ante a entrada do reino dos mortos que se acumulam por onde passam deixando, como uma Medusa, suas vítimas desfiguradas e inertes adornando esse covil.

Apesar dos massacres por grupos armados já durarem mais de três anos e a província de Cabo Delgado ter sido rapidamente dominada pelo medo e terror, a maior parte do mundo continua desconhecendo e indiferente aos que lá vivem e tentam escapar dos ataques. Dominados pelos terroristas, seus habitantes fogem para as matas e não conseguem retornar e sequer velar os seus mortos que ficaram para trás. Como diz o bispo[3] da província, é um verdadeiro martírio o que vive a população de Cabo Delgado.

 

Fortaleza, 12 de novembro de 2020.

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[1] Grupo do Estado Islâmico decapitou mais de 50 pessoas em Moçambique. Disponível em: <https://observador.pt/2020/11/10/grupo-islamico-decapitou-mais-de-50-pessoas-em-mocambique/>. Acesso em novembro de 2020.

[2] Cabo Delgado: ONG defende mecanismo internacional independente contra a violência. Disponível em: <https://www.plataformamedia.com/2020/11/12/cabo-delgado-ong-defende-mecanismo-internacional-independente-contra-a-violencia/>. Acesso em: novembro de 2020.

[3] Salcedas, R. "Martírio" em Cabo Delgado sem fim à vista: 50 decapitados em campo de futebol. Disponível em: <″Martírio″ em Cabo Delgado sem fim à vista: 50 decapitados em campo de futebol

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

A revolta de São Tomé contra o mal universal

 

                                 Cena de protestos da população são-tomense em frente à sede da IURD em São tomé. (foto Telanon).





A empresa/igreja do bispo Macedo enfrentou em 2019 a ira do povo de São Tomé e Príncipe, onde mantém seus negócios e segue sua atuação de empresa de manipulação da fé no país insular, como já o faz em outras pátrias africanas. Seus templos em São Tomé têm testemunhado vários protestos da população indignada com os métodos e ações medievais da empresa/igreja ultimamente revelados. A Constituição da pequena democracia à costa do continente africano assegura a liberdade religiosa, podendo seus cidadãos exercer esse direito abertamente e sem problemas. É o catolicismo uma herança da colonização portuguesa, sendo essa religião majoritária no país, entretanto crenças tradicionais e o sincretismo resistem na cultura de São Tomé e Príncipe. A pequena nação, com apenas 200 mil habitantes, é formada por duas ilhas principais situadas no Golfo da Guiné a uma distância de cerca de 300 quilômetros da costa ocidental africana continental. São Tomé e Príncipe é uma ex-colônia de Portugal, que além de suas duas ilhas principais tem vários outros ilhéus menores que compõem o seu território. É, portanto, o segundo menor país africano em território e o menor país de língua portuguesa. Apesar da língua oficial ser o português, dialetos crioulos como forro, angolar e principense são amplamente utilizados por seu povo; outro forte indício de resistência ao tempo de dominação colonial. Nos últimos tempos o país viu sua relativa tranquilidade ser abalada quando um pastor da Igreja Universal delatou, via redes sociais, as artimanhas criminosas de seus colegas de culto que se caracterizariam, segundo ele, como atitudes racistas, escravagistas, de apropriação de dinheiro oriundo de dízimos.... Discriminação de clérigos africanos, impedimento de casamentos ou obrigação de se submeter a vasectomia para que não tivessem filhos e dessa forma pudessem se dedicar totalmente ao empreendimento de uma suposta "teologia da prosperidade" são mencionados pelo pastor; naquela altura vivendo  na Costa do Marfim. Segundo a fala do pastor dissidente os bispos e pastores brasileiros da Universal se apropriariam de dízimos recebidos pela empresa religiosa, além de praticar atos humilhantes, insultos, e até mesmo “escravizar os pastores africanos”.  Denunciado por calúnias o pastor são-tomense foi preso, seria o estopim para que manifestantes saíssem às ruas de São Tomé exigindo sua soltura e retorno ao país natal. 


O sentido empresarial da igreja tem sido a razão do seu grande êxito na África. Atua como um “Balcão de orientação empreendedora e de negócios" ultraconservador, que visa a convencer a população a fazer parte da empresa/igreja para que possam prosperar na vida e ser "melhor que aquele seu vizinho sem fé", o que em contrapartida retornará a favor da empresa/igreja e fará o negócio da fé também prosperar. A devoção é então capturada por esse modelo pragmático de negócios, que pode ser uma perigosa somatória de estratégias administrativo-econômicas semelhantes àquelas desenvolvidas em instituições de apoio ao empreendedorismo, sendo, neste caso, ardilosamente dissolvidas no caldo de uma religião. Semelhante ao que Camila Sampaio, professora da Universidade Federal do Maranhão, denomina “pedagogia do empreendedorismo”, como estratégia de êxito da empresa/igreja em países africanos.

 

 

Autora de vários artigos sobre a presença internacional da Iurd, a cientista social Camila Sampaio, professora da Universidade Federal do Maranhão, diz que a igreja teve êxito em países africanos ao pregar uma "pedagogia do empreendedorismo".

Nessas nações, diz ela, muitas famílias egressas do meio rural encontraram na Iurd ensinamentos práticos sobre como se portar no "novo universo urbano".

"A igreja diz 'vou te ensinar como ser uma mulher moderna, trabalhar fora e cuidar do marido', ou 'vou fazer você prosperar, vou te ensinar a abrir um negócio e ser melhor que o do vizinho'. As pessoas se sentem contempladas nesse discurso", afirma.

Sampaio afirma que a igreja também soube se articular com figuras importantes dos países onde atua. Em Angola, por exemplo, a igreja tem entre seus fiéis altos dirigentes do MPLA, partido que governa o país desde 1975.

Segundo a professora, a expansão da Universal pela África atende a dois objetivos da igreja: ampliar o número de fiéis e ocupar um espaço simbolicamente importante para os seguidores brasileiros.

"Eles se orgulham de dizer que estão em vários países africanos, e os fiéis brasileiros gostam de ver a igreja fazendo obra na 'terra da feitiçaria,'" diz Sampaio.(1)

 

A Universal já foi suspensa em outros  países onde também atua. Portanto, não é a primeira vez que a empresa/igreja Iurd se vê envolvida em problemas na África.  Em 2005, foi acusada de “prática de satanismo” na Zâmbia e chegou a ter atividades banidas, o que depois seria revertida.  Um ano antes, um pastor foi condenado em um tribunal de Madagascar sob acusação de “queimar bíblias” e outros objetos religiosos durante um culto em que o tema da pregação era a “idolatria”. Em 2013, a igreja foi temporariamente suspensa em Angola após 16 pessoas morrerem pisoteadas num culto superlotado da igreja, propagandeado com “venha dar um fim a todos os problemas que estão na sua vida; doença, miséria, desemprego, feitiçaria, inveja, problemas na família, separação, dívidas etc. Traga toda a sua família”.(2)

Muito grave em todo esse imbroglio é a ida de um parlamentar brasileiro em viagem oficial defender os interesses da empresa/igreja universal em São Tomé. Questiona-se quem pagou as despesas para o bispo da Universal e deputado federal Márcio Marinho (Republicanos-BA) viajar a São Tomé para se reunir com autoridades locais e tratar assuntos de interesse da empresa/igreja Universal?!! Em consequência dessa revolta da população contra a igreja/empresa, o Parlamento de São Tomé e Príncipe passou a discutir a expulsão da Universal no país.(3) Talvez seja essa uma fresta de luz neste túnel e em busca de uma resposta da nação para que se impeça o alastramento tentacular desse  empreendimento que se nutre da manipulação e dos usos simbólicos da religião para o aprovisionamento cada vez maior de seus cofres,  também no além-mar.

 


Fortaleza, 9 de novembro de 2020.


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1)Revolta contra Igreja Universal gera morte e crise diplomática em país africano. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-50270551>. Acesso em 2019.

2)Agressões racistas causam revolta popular contra igreja Universal em São Tomé e Príncipe. Disponível em: <https://horadopovo.com.br/agressoes-racistas-causam-revolta-popular-contra-igreja-universal-em-sao-tome-e-principe/>. Acesso em 2019.

3)Revolta contra Igreja Universal gera morte e crise diplomática em país africano. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-50270551>. Acesso em 2019.



domingo, 8 de novembro de 2020

The soul of America!

 

                                "It is no longer the same, as it seems. It's a big change"

                    Elika Takimoto.





Kamala Devi Harris, "the lotus flower that blooms”(1), a lawyer and senator from California, was elected to the senate at the same time that Trump arrived at the White House in 2016. Thanks to the influence of her parents, she was involved in political activism from an early age; with them she learned about the civil rights movement "surrounded by adults who were committed to service and community involvement." The achievement of the United States' vice presidency, the country's second most important post, means for the daughter of a Jamaican father and an Indian mother once again her first time of many. On January 20th., Joe Biden will take the oath on the Capitol steps as the new president of the powerful American nation, and at the same time, the voice of a black woman from the top of that podium will echo around the world for the first time. She occupied spaces that were always previously reserved for men and whites, for exemplo when a prosecutor in the city of San Francisco at the age of 40; here also the first time that a woman and a non-white person held the position; and later when she became California's attorney general, again a pioneer.


The great wave of participation in the presidential elections of 2020 had a marked impulse of young people and women, managing, in this way, to eject from the chair of the White House the populist and aggressive businessman, who also led to the reputation of racist and xenophobic and even of being sympathetic to extremist and illegal movements like the Ku Klux Klan. Film director Spike Lee has already linked the image of the president to the far-right movement in a movie script. His famous phrases like “America first” and “Make America Great Again” appear in many lines of KKK members ". The election with the largest number of voters and the highest number of votes for a presidential ticket in the country prevented, for the first time in 30 years, the reelection of a president, and led to the position of vice-president for a woman, also for the first time. Symbols that must be taken into account as a rejection of the model proposed by defeated Trump and also sound like a message to the rest of the world, mainly in peripheral republics with similar and copied models that should start to lose strength.


Kamala's Indian ancestry was remembered in Thulasendrapuram, a city south of Chennai, where flowers and requests were deposited in Hindu temples  for the gods to help her to emerge victorious, which it seems the gods promptly attended to. 


In her words, the strength of diversity and the desire to build something better than what has been done so far: "This election is about so much more than Joe Biden or me. It's about the soul of America and our willingness to fight for it. We have a lot of work ahead of us. Let's get started", said Kamala. 







Antonio C. R. Tupinambá

Fortaleza, November, 7th., 2020.


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1) Kamala means the lotus flower that blooms. the lotus is a sacred flower for the Hindu culture. It is also one of the names of the goddess laksmi. In Sanskrit Kamala means lotus.