POLIS

POLIS
O projeto nasce com foco no comportamento político nas sociedades contemporâneas e nos efeitos dos movimentos sociais e políticos atuais sobre as liberdades e processos emancipatórios, bem como seus impedimentos em escala local, nacional e global. Tem por objetivos o desenvolvimento de um campo interdisciplinar de reflexão e prática investigativa e divulgadora, reunindo debates em torno de questões como: preconceito, racismo, sexismo, xenofobia, movimentos sociais, violência coletiva social, relações de poder, movimentos emancipatórios de povos e nações, valores democráticos e autoritarismos, laicidade, análises de discursos e ideologias, de universos simbólicos e práticas institucionais. Nessa perspectiva, o Polis atua desde sua criação formal em 2013, como projeto de extensão e em 2015 como Blog para divulgação e atualização.

terça-feira, 15 de março de 2022

Taiwan: a próxima vítima?

        Taipei (Taipé). Capital de Taiwan.


    Os portugueses foram os primeiros europeus a chegarem a Taiwan, ilha no Oceano Pacífico localizada a sul da China, hoje uma república e uma das poucas democracias consolidadas naquela região. Ao chegarem à ilha cheia de belezas naturais, não por acaso batizaram-na de Formosa. A região despertou, posteirormente, o interesse de outras nações estrangeiras desde que os portugueses anunciaram ao mundo a sua "descoberta": holandeses, britânicos, norte-americanos, japoneses e chineses. Hoje Taiwan se constitui uma nação moderna, com economia e governo sólidos, um bem sucedido modelo sócio-econômico, não por menos denominado “modelo Taiwan”, almejado por muitos países da região. Não só a natureza deslumbrante da ilha, mas também seu modelo de urbanização e os polos tecnológicos extremamente desenvolvidos com altos investimentos em educação tornam o país um lugar atrativo para investidores estrangeiros. Ademais, os “formosinos”, como em português são denominados seus habitantes, terminaram, por conta de sua posição estratégica, tanto geográfica quanto política, servindo de ponte para o comércio e o investimento proveniente da China, além de facilitar a grande expansão comercial e cultural para o lado do Ocidente, o que lhes trouxe grande benefício econômico. Apesar de continuar demonstrando características admiráveis, Taiwan já não é hoje uma ilha tão formosa como aquela que despertou a curiosidade e a admiração dos primeiros europeus que lá aportaram. No entanto sua economia continua apresentando sólido desempenho, a causar  emulação  a países da Ásia-Pacífico. O sistema político local tem seu lastro numa apregoada democracia eleitoral e imprensa livre, forjando um modelo taiwanês como fonte de inspiração junto a setores dos países em desenvolvimento, tanto no que diz respeito à organização do mercado, quanto à forma de governança. 

    Como bem assinala Paulo Pereira Pinto, autor do livro "Taiwan - um Futuro Formoso para a Ilha?”, há vários condicionantes para se pensar que futuro pode estar reservado a Taiwan. Os nacionalistas de Chiang Kai-shek se refugiaram na ilha e tomaram seu controle deixando morrer o sonho de Mao Tsé-Tung de reunificacão com o continente. O país ilhéu de 23 milhões de habitantes situa-se a cerca de 200 km da costa sudeste da China, o gigante imperialista que o considera apenas mais uma de suas províncias que com ele divide "cultura, valores, hábitos e até laços familiares”, sem esquecer de uma "crescente integração econômica, que fortalece a tendência no sentido da formação de uma grande China”. Como afirmou  Luis Cunha em matéria para o Jornal Diário de Notícias de 24 de outubro de 2021, o atual presidente chinês, Xi Jinping,  que não tem data-limite para abandonar o poder, "já deixou claro que a resolução da 'questão de Taiwan', herdada da guerra civil chinesa, deverá ser resolvida até ao fim do seu mandato. Por via negocial, preferencialmente, mas em último caso por 'meios não pacíficos', um eufemismo para a intervenção armada, como estipulado na lei antissecessão de 2005. A recusa da República Popular da China (RPC) em renunciar ao uso da força para resolver definitivamente a 'questão de Taiwan' transforma aquela região do globo num potencial foco para um conflito entre a China e os Estados Unidos, o incontornável aliado de Taipé”. 

    A palavra do ditador chinês é de pouca ou nenhuma valia, haja vista o que ocorreu em Macau e Hong Kong. Os ex-territórios, respectivamente, português e britânico, foram vítimas de burla quando proposta por Pequim a solução de seu retorno à China mantendo-se um status político diferenciado: “um país, dois sistemas”. Hoje a luta pela recuperação da liberdade e justiça, em suma, a luta pela democracia em Hong Kong faz ecoar em Pequim as vozes de protesto que vêm não só dos milhões de jovens nas ruas da cidade/Estado, mas também de muitos apoiadores ao redor do mundo. Essa luta por democracia, por autonomia no modelo de "um país e dois sistemas" como negociado e que já havia sido consolidado e aceito pela população local é alvo de ataques e desrespeito por parte dos ditadores chineses. Os ativistas mascarados nas ruas de Hong Kong gritam e confrontam as tropas policiais armadas mas terminam por cair na rede lançada pelos ditadores de Pequim, se tornando vítimas da draconiana Lei de Segurança Nacional, criada para acabar com o Estado de Direito no território. A imprensa e os políticos que ainda ousem desafiar as investidas e os ataques impiedosos a mando da máquina totalitária chinesa sobre Hong Kong sentem a força da opressão e do poderio desigual que vem do continente para massacrar qualquer um que grite por liberdade ou peça respeito às leis locais. A máquina liderada pelo presidente Xi Jinping com a ambivalência e cinismo político de quem não quer ser criticado ou observado de fora, age com a truculência característica de seu regime como já o faz em outras regiões, nomeadamente o Tibete, a região autônoma de Xinjiang, no noroeste da China dos uigures e onde quer que seja questionado seu poder absoluto. Com esses meios querem calar e retirar das ruas os estudantes e seus protestos, bem como reescrever leis a sua maneira mesmo que para isso tenham que manobrar os governantes locais, substitui-los e aniquilar a oposição política. 

    Taiwan assiste ao desenrolar dos desmandos chineses em Hong Kong e oferece apoio aos que queiram se abrigar dentro de suas fronteiras, sinal claro de que os taiwaneses não querem nem aceitam a mesma falácia chinesa de “um país, dois sistemas” para seu país. Trata-se da fórmula original de Deng Xiaoping (um país, dois sistemas) que também já havia sido pensada para se chegar a uma resolução pacífica da nomeada "questão de Taiwan”: "Na cerimónia da transição de Macau para a China, Jiang Zemin considerou que essa fórmula 'desempenha e desempenhará um papel exemplar de grande relevância para a solução definitiva da questão de Taiwan'. A maioria da população taiwanesa discorda dessa avaliação. Sondagens recentes revelam que mais de 80 por cento dos taiwaneses continuam a preferir a manutenção do statu quo - nem reunificação, nem independência. Numa tentativa de atrair Taiwan para a sua órbita, Pequim promete um elevado grau de autonomia, incluindo a conservação do governo local e até das forças armadas. Mas a decisiva intervenção do governo chinês em Hong Kong, impondo uma rígida lei de segurança nacional, deixou evidente que Pequim acelerou a transição para 'um país, um sistema'. Essa decisão poderá ter implicado a impossibilidade definitiva de uma reunificação pacífica com Taiwan”.(Cunha, Diário de Notícia, 24 out. 2021). Depois da invasão da Rússia à Ucrânia, comenta-se a possiblidade da China voltar-se a Taiwan e torná-la um alvo de reconquista. Não é impossível, dada a tradição ditatorial e imperialista de Pequim, que já invadiu o Tibete e oprime os uigures na província separatista de Xinjiang, além de desrespeitar os acordos assinados com os britânicos para a manutenção do sistema de governo em Hong Kong após seu retorno à China. Resta saber se ainda hoje haveria espaço no mundo, para a realização de um projeto megalômano de reconstrução de um grande império, mesmo que, como é previsível, ao custo da destruição do povo e da ilha formosa.    


        Mapa de Taiwan (Formosa)

quinta-feira, 3 de março de 2022

FUGINDO DA GUERRA, A COR DA PELE FAZ A DIFERENÇA / AUF DER FLUCHT MACHT DIE HAUTFARBEN DEN UNTERSCHIED*



Foto: AP Photo/Petr David Josek. Refugiados da Ucrânia a caminho da Polônia no fim de semana. Diz-se que aos negros, em particular, é dificultada a travessia das fronteiras.


Cada tanque russo destruído e cada soldado russo morto aumenta a coragem dos ucranianos para resistir. E cada ucraniano morto aprofunda o ódio dos ucranianos pelos invasores. O ódio é a mais feia das emoções. Mas para as nações oprimidas, o ódio é um tesouro escondido. Enterrado no fundo do coração, pode sustentar a resistência por gerações. Para restabelecer o império russo, Putin precisa de uma vitória relativamente sem derramamento de sangue que levará a uma ocupação relativamente sem ódio. Ao derramar cada vez mais sangue ucraniano, Putin garante que seu sonho nunca será realizado. Não será o nome de Mikhail Gorbachev escrito na certidão de óbito do império russo: será o de Putin. Gorbachev deixou russos e ucranianos se sentindo como irmãos; Putin os transformou em inimigos. (Yuval Noah Harari, The Guardian, 28.02.2022)


A independência da Ucrânia veio em 1991 e com ela o direito de autodeterminação e a soberania nacional. Com a revolução de 2013/2014 foi ratificada a escolha pela democracia e o distanciamento dos algozes russos, com uma clara rejeição ao paradigma soviético de submissão e colonialismo. Internamente isso não significou a conquista de respeito, liberdade e igualdade tais quais vivenciados pela Europa; muito foi mantido do modelo russo de intolerância, desrespeito e perseguição aos cidadãos, segundo suas características e grupos a que pertencem. Como em muitos países sem estabilidade e tradição democrática, as pessoas continuaram vítimas de violência de natureza diversa, seja antissemita, xenófoba ou de extrema direita. Baseados na etnia, cor da pele, religião ou orientação sexual, os conhecidos crimes de ódio prosperaram e integraram o discurso político, midiático e social. Nas novas repúblicas que se formaram a partir do desmembramento do bloco soviético ou ainda naquelas que integravam o bloco, pouco existe em estruturas civis de apoio a vítimas desse ódio discriminatório. Muito disso explica porque países como Hungria, Polônia etc. resistem a projetos que se comprometam em combater esses crimes e promover igualdade entre os distintos grupos étnicos e sociais. A prática de direitos humanos, combate a crimes de ódio e proteção de minorias ameaçadas bem como o desenvolvimento de estratégias que criem um ambiente respeitoso nunca foi amplamente discutido ou particularmente desejado nas políticas locais, a exemplo do governo da Ucrânia. Para que se pense em um novo conceito de país, os projetos deveriam, a longo prazo, "ajudar a reduzir o número de crimes de ódio e proteger os direitos humanos de minorias ameaçadas, aumentando a conscientização no ambiente social e ostracizando os perpetradores. Por um lado, isso requer uma base sólida na sociedade civil. No entanto, tais iniciativas só podem ter sucesso no longo prazo se os órgãos governamentais também estiverem envolvidos no debate, pois é uma tarefa genuína do respectivo estado (também em nível municipal) garantir a proteção de seus cidadãos contra violência, assaltos e discriminação de terceiros”.(1) Considerado o período pós-independência, o novo país ainda cultivava, aparentemente, alguns traços de tolerância e respeito ao diferente, apresentando-se como uma sociedade relativamente aberta em face de questões étnicas e de minorias, contrapondo-se aos vizinhos do leste, principalmente à Rússia com sua vocação racista, xenófoba e homofóbica. "A autopercepção tradicional dos ucranianos é a de um povo tolerante e de mente aberta em relação às minorias étnicas e sociais. Em contraste com essa autoavaliação, no entanto, os estudos sociológicos e a observação dos desenvolvimentos sociais nos últimos anos mostram uma tendência contrária. De acordo com os estudos disponíveis, o grau de tolerância social na Ucrânia diminuiu significativamente desde a independência em 1991 e também desde a Revolução Laranja em 2004”.(2)

Não é, portanto, surpresa, quando se constata por meio das diferentes mídias que cobrem a invasão russa e a atual guerra no país, relatos de racismo durante as tentativas de diferentes grupos populacionais fugir através das fronteiras terrestres. 

Aquele mantra vergonhoso de determinados grupos políticos e sociais alemães que teria sido utilizado durante a campanha eleitoral sobre a política de refugiados “2015 não deve ser repetido”, já não se aplica nos dias de hoje "— porque quem está pedindo para entrar são os europeus, não os afegãos como no final do verão de 2021, os sírios como em 2015 ou os africanos como em todos os anos —".(3) A ativa defesa das vítimas da mais brutal guerra de agressão na Europa desde 1945 une o continente e seu povo de maneira impressionante. O povo da Ucrânia não está sendo excluído, mas calorosamente recebido e saudado, ao contrário dos sírios depois de superar a rota dos Balcãs no outono de 2015. Em 2015, os sírios que fugiram para a Hungria foram recebidos com cassetetes e arame farpado. Em 2022, os refugiados ucranianos na Hungria podem viajar de trem gratuitamente".(4)

        A guerra que ora vitima o país com as "invasões bárbaras" russas também revela o lado racista e xenófobo não tão oculto na Europa e muito evidente na Ucrânia. Nas diferentes mídias sociais o racismo na guerra é abertamente exposto e atualizado. Quando os trens param e neles tentam entrar os milhares de fugitivos das cidades em batalha, os seguranças têm a última palavra para selecionar quem pode ou não neles embarcar. Na cidade de Lviv, a oeste do país, multidões se formam em frente às portas dos vagões mas enquanto os refugiados ucranianos podem embarcar, pessoas não-europeias são deixadas de fora ou até mesmo expulsas dos vagões. Ouve-se dos seguranças: “Primeiro os ucranianos!" Nem ao fugir de uma guerra somos todos iguais. As portas da Europa estão abertas mas de forma seletiva. A cor da pele pode determinar a quem é permitida a entrada.


__________________________________________

(1)Schiffer, S.; Katsbert, T.; Roßmann, S. Hate Crime in der Ukraine Opfergruppen und Beratungsangebote zivilgesellschaftlicher Akteure. Disponível em: <https://www.stiftung-evz.de/assets/4_Service/Infothek/Publikationen/EVZ-Studie-Hate-Crime-Ukraine-DE.pdf>. Acesso em: mar. 2022.

(2) idem.

(3) Compare:  Gänsler, K.Dunkle Haut kann Flucht erschweren.Disponível em: <https://taz.de/Flucht-aus-der-Ukraine/!5837996/>. Acesso em: mar. 2022.

(4)Johnson, D. Auf der Flucht sind nicht alle gleich. Disponível em:  <https://taz.de/Europas-Fluechtlingspolitik/!5835227/>. Acesso em: mar. 2022.



#################################################################


AUF DER FLUCHT MACHT DIE HAUTFARBEN DEN UNTERSCHIED*


    1991 erlangte die Ukraine ihre Unabhängigkeit und damit auch das Recht auf Selbstbestimmung und nationale Souveränität. Die Revolution 2013/2014 bestätigte die Entscheidung für die Demokratie und die Loslösung von den russischen Folterknechten und erteilte dem sowjetischen Paradigma der Unterwerfung und des Kolonialismus eine klare Absage. Im Inneren bedeutete dies nicht die Verwirklichung von Respekt, Freiheit und Gleichheit, wie sie Europa erfahren hat; vieles blieb vom russischen Modell der Intoleranz, der Missachtung und der Verfolgung von Bürgern aufgrund ihrer Eigenschaften und der Gruppen, denen sie angehören, übrig. Wie in vielen Ländern ohne Stabilität und demokratische Tradition wurden die Menschen weiterhin Opfer verschiedener Arten von Gewalt, sei sie nun antisemitisch, fremdenfeindlich oder rechtsextremistisch. Die bekannten Hassverbrechen aufgrund von ethnischer Zugehörigkeit, Hautfarbe, Religion oder sexueller Orientierung florierten und wurden Teil des politischen, medialen und gesellschaftlichen Diskurses. In den neuen Republiken, die nach dem Zusammenbruch des Sowjetblocks entstanden sind, oder sogar in denen, die Teil des Blocks waren, gibt es kaum zivile Hilfsstrukturen für die Opfer dieses diskriminierenden Hasses. Dies erklärt zu einem großen Teil, warum Länder wie Ungarn, Polen usw. sich Projekten widersetzen, die sich für die Bekämpfung dieser Verbrechen und die Förderung der Gleichheit zwischen den verschiedenen ethnischen und sozialen Gruppen einsetzen. Die Einhaltung der Menschenrechte, die Bekämpfung von Hassverbrechen und der Schutz bedrohter Minderheiten sowie die Entwicklung von Strategien zur Schaffung eines respektvollen Umfelds wurden in der lokalen Politik nie breit diskutiert oder besonders gewünscht, in den Regierungen, wie die Regierung der Ukraine. Um ein neues Konzept für das Land zu entwickeln, sollten die Projekte langfristig dazu beitragen, „die Zahl der Hassverbrechen zu verringern und die Menschenrechte bedrohter Minderheiten zu schützen, indem das soziale Umfeld sensibilisiert und die Täter geächtet werden. Dies erfordert zum einen eine solide Grundlage in der Zivilgesellschaft. Solche Initiativen können aber nur dann auf Dauer erfolgreich sein, wenn auch staatliche Stellen in die Debatte einbezogen werden, denn es ist eine genuine Aufgabe des jeweiligen Staates (auch auf kommunaler Ebene), den Schutz seiner Bürgerinnen und Bürger vor Gewalt, Übergriffen und Diskriminierung durch Dritte zu gewährleisten." (1) In der Zeit nach der Unabhängigkeit kultivierte das neue Land offenbar noch einige Züge von Toleranz und Respekt vor dem anderen und präsentierte sich als relativ offene Gesellschaft in Bezug auf ethnische und Minderheitenfragen, im Gegensatz zu seinen östlichen Nachbarn, vor allem Russland mit seiner rassistischen, fremdenfeindlichen und homophoben Ausrichtung. „Das traditionelle Selbstverständnis der Ukrainer ist das eines toleranten und aufgeschlossenen Volkes gegenüber ethnischen und sozialen Minderheiten. Im Gegensatz zu dieser Selbsteinschätzung zeigen soziologische Studien und die Beobachtung der gesellschaftlichen Entwicklungen der letzten Jahre jedoch einen gegenteiligen Trend. Den vorliegenden Studien zufolge ist das Maß an sozialer Toleranz in der Ukraine seit der Unabhängigkeit 1991 und auch seit der Orangenen Revolution 2004 deutlich zurückgegangen"(2).

Es ist daher nicht verwunderlich, wenn man in den verschiedenen Medien, die über die russische Invasion und den derzeitigen Krieg im Land berichten, Berichte über Rassismus bei den Versuchen verschiedener Bevölkerungsgruppen, über die Landgrenzen zu fliehen, findet. 

Das beschämende Mantra bestimmter Deutscher aus dem Wahlkampf zur Flüchtlingspolitik „2015 darf sich nicht wiederholen" gilt heute nicht mehr - denn diejenigen, die um Einreise bitten, sind die Europäer, nicht die Afghanen wie im Spätsommer 2021, die Syrer wie 2015 oder die Afrikaner wie in jedem Jahr -"(3) Das aktive Eintreten für die Opfer des brutalsten Angriffskrieges in Europa seit 1945 eint den Kontinent und seine Menschen auf beeindruckende Weise. Die Menschen in der Ukraine werden nicht ausgegrenzt, sondern herzlich aufgenommen und begrüßt, anders als die Syrer nach der Überwindung der Balkanroute im Herbst 2015. Im Jahr 2015 wurden Syrer, die nach Ungarn flohen, mit Schlagstöcken und Stacheldraht empfangen. Im Jahr 2022 können ukrainische Flüchtlinge in Ungarn kostenlos mit dem Zug reisen."(4)

Der Krieg, dem das Land jetzt durch die russische „barbarische Invasionen" zum Opfer fällt, offenbart auch die nicht so sehr verborgene rassistische und fremdenfeindliche Seite Europas, die in der Ukraine ganz offensichtlich ist. In den verschiedenen sozialen Medien wird der Rassismus im Krieg offen zur Schau gestellt und aktualisiert. Wenn die Züge anhalten und Tausende von Flüchtlingen aus den umkämpften Städten versuchen, in die Züge einzusteigen, haben die Sicherheitskräfte das letzte Wort bei der Entscheidung, wer einsteigen darf und wer nicht. In der westlichen Stadt Lviv bilden sich Menschenmengen vor den Waggontüren, aber während ukrainische Flüchtlinge an Bord gelassen werden, werden nichteuropäische Personen ausgeschlossen oder sogar aus den Wagen geworfen. Man hört vom Sicherheitspersonal: "Ukrainische Amerikaner zuerst!" Nicht einmal auf der Flucht vor einem Krieg sind wir alle gleich. Die Türen Europas sind offen, aber selektiv. Die Hautfarbe kann darüber entscheiden, wer eingelassen wird.


Literatur


* Deutsche Version von Regine Rehaag.

(1)Schiffer, S.; Katsbert, T.; Roßmann, S. Hate Crime in der Ukraine. Opfergruppen und Beratungsangebote zivilgesellschaftlicher Akteure. Verfügbar unter: <https://www.stiftung-evz.de/assets/4_Service/Infothek/Publikationen/EVZ-Studie-Hate-Crime-Ukraine-DE.pdf>. Aufgerufen März 2022.

(2) idem.

(3) Compare:  Gänsler, K.Dunkle Haut kann Flucht erschweren. Verfügbar unter: <https://taz.de/Flucht-aus-der-Ukraine/!5837996/>. Aufgerufen März 2022.

(4) Johnson, D. Auf der Flucht sind nicht alle gleich. Verfügbar unter: <https://taz.de/Europas-Fluechtlingspolitik/!5835227/>. Aufgerufen März 2022.