POLIS

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O projeto nasce com foco no comportamento político nas sociedades contemporâneas e nos efeitos dos movimentos sociais e políticos atuais sobre as liberdades e processos emancipatórios, bem como seus impedimentos em escala local, nacional e global. Tem por objetivos o desenvolvimento de um campo interdisciplinar de reflexão e prática investigativa e divulgadora, reunindo debates em torno de questões como: preconceito, racismo, sexismo, xenofobia, movimentos sociais, violência coletiva social, relações de poder, movimentos emancipatórios de povos e nações, valores democráticos e autoritarismos, laicidade, análises de discursos e ideologias, de universos simbólicos e práticas institucionais. Nessa perspectiva, o Polis atua desde sua criação formal em 2013, como projeto de extensão e em 2015 como Blog para divulgação e atualização.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

O ISIS, O TERROR E O OCIDENTE


Foto retirada da internet



Há mais em comum entre fundamentalismo religioso, terrorismo, fascismo, regimes ditatoriais e outros movimentos políticos totalitários do que se imagina. Todos querem representar um ser supremo, iludir seguidores e realizar planos paranoicos e narcísicos. Nazistas com a pseudoestética da perfeição racial e eugenia; fundamentalistas religiosos e a promessa de um mundo perfeito, sem conflitos, coeso, feliz aqui e alhures, geralmente no além; ditadores com supercontrole sobre vidas alheias, em busca da hipernormalidade, da supremacia financeira e do poder, que termina concentrado em seus iguais. Todos prometem o que não existe e o que não podem oferecer. Aproveitam-se da vulnerabilidade humana, mal-estar social e surgem como salvadores, enganam e fazem o inominável para perpetrar atos extremos que confundem e causam perplexidade. Há um show de horrores e de desrespeito inerente a qualquer opção desses agentes do terror para implementar projetos diabólicos. Não está em livros sagrados o que dizem retirar para seus gritos de guerra, nenhuma letra autoriza ou legitima o que fazem. Há, sim, em suas psicopatias e maldades o lastro para as interpretações e justificativas descabidas de atos extremistas e destruidores. O Estado Islâmico e seus similares emergem das profundezas das frustrações, invejas e ganâncias. Não se pode negociar com psicopatas fundamentalistas, pois eles não compartilham o mundo da razão, devem ser apenas combatidos. Somente uma firme ação de líderes legitimados para encontrar os meios de eliminar esse cenário destruidor. Os últimos atentados em Paris, que mataram mais de 120 pessoas; a decapitação de um jornalista americano; a morte de 19 pessoas em um hotel no Mali, para citar poucos eventos macabros que, mais uma vez, põem o mundo no foco do terrorismo fundamentalista; conflito e mortes na conta de radicais da Al Qaeda e do intitulado ISIS, ou Estado Islâmico, grupo autoproclamado califado na Síria e em solo iraquiano.  Na raiz de tudo a invasão do Iraque por um líder insano e seus seguidores irresponsáveis. Noah Chomsky já afirmava que nessa invasão do Iraque pelos Estados Unidos, com o apoio de seus aliados, foi plantada a semente do terrorismo cujos efeitos conhecemos hoje. De acordo com o cientista político, “a própria CIA reconhece que o Estado Islâmico é resultado da invasão estadunidense do Iraque: ‘o pior crime do milênio’ praticado pelos EUA. Centenas de milhares de pessoas foram mortas, torturadas, o país destruído, 4 milhões de pessoas deslocadas e 2 milhões de refugiados, sob os olhos de todo o mundo sem qualquer reação para proteger as vítimas do Iraque”.1 No quadro de desolação atual, as saídas desse imbróglio são escassas. Por mais que o governo estadunidense rejeite a ideia, uma opção viável para combater o ISIS seria, pasmem, a união de Assad, Irã e Rússia na região, sob a batuta do terceiro. Algo já vem se delineando nessa direção, a despeito da rejeição do governo dos Estados Unidos a qualquer plano e negociação de combate ao ISIS que inclua o presidente sírio. Não há muitas opções. A sorte está lançada.



1 Capturado em 21 de novembro de 2015 de:
HYPERLINK "http://www.revistaforum.com.br/mariafro/2015/11/18/chomsky-invasao-iraque-pelos-eua-e-raiz-terrorismo-e-o-pior-crime-milenio/" \t "_blank" http://www.revistaforum.com.br/mariafro/2015/11/18/chomsky-invasao-iraque-pelos-eua-e-raiz-terrorismo-e-o-pior-crime-milenio/.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

AINDA SOBRE A CRUCIFICAÇÃO NA PAULISTA


                                         Foto retirada da internet
…pois eu não volto pra cozinha, nem o negro pra senzala, nem o gay pro armário. o choro é livre ( e nós também)  Pitty Leone.
A metáfora da crucificação pode ser apropriada por qualquer cristão que se sinta, em sua vida, também “crucificado”. O que houve durante a parada da diversidade sexual no mês de junho deste ano na avenida Paulista, em São Paulo, foi um protesto da atriz Viviany Beleboni contra a arrogância, a maldade e a violência social, remetendo ao símbolo maior do cristianismo. Símbolo que não pode ser monopólio de alguns. Tampouco daqueles que se aproveitam de uma população aviltada para, aproveitando sua suscetibilidade, conseguir por meio de chantagem religiosa que moedas jorrem em sua direção: essa população, que explorada na sua vulnerabilidade, se ilude e acredita em falácias e rasas interpretações do Livro por falsos líderes no topo de sua ganância e oportunismo. Às vezes, práticas desonestas dessa natureza se dão nas empresas religiosas, noutras em um parlamento manchado pelo proselitismo. Quando se indignaram com a transexual que, literalmente, se crucificou na avenida Paulista, podem tê-lo feito pela incapacidade de simbolização, por conta da irreflexão, do desejo em monopolizar o saber sobre o cristianismo ou pelo cálculo dos dividendos que a deturpação do evento pode gerar. Desfigurar uma demonstração contra o sofrimento por meio do maior símbolo de amor e justiça do Ocidente é estratégico para alguns mal intencionados. Mas a TODOS, se assim o quiserem e independente de quem não o queira pertence o Deus. Quem são esses políticos raivosos arautos da retidão e do amor cristão? Muitos mergulhados em práticas espúrias, indiferentes ao sofrimento humano, julgando a todos com seu ódio peculiar. Muitos incentivando um bullying coletivo, cuja única justificativa seria a não aceitação das diferenças. Pensam agir como Jesus, mas na realidade o fazem, como os seus algozes. Viviani Beleboni atualiza o mito cristão do cordeiro de Deus sacrificado. Encarna a fé de milhares de homossexuais assassinados, pela violenta intolerância de parte da sociedade narcisista, que repudia a alteridade configurada pelo feminino. A atriz fez uma performance-manifesto, numa luta corajosa pela ressurreição de gays silenciados à força, por um machismo ignorante. Caso não se saiba, vale a pena lembrar que Deus é amor e não ódio assassino.
Fonte: publicado orginalmente no blog Controvérsia (www.controversia.com.br), em 27 de outubro de 2015.

O ANTI-CRISTIANISMO NA ÁFRICA





Ao longo dos últimos anos, o continente africano é palco de mudanças políticas, especialmente nos países que experimentaram o efeito da primavera árabe. Esse efeito não foi, contudo, democratizante, resultando muitas vezes na simples troca de ditadores por regimes temperados pelo fundamentalismo religioso, que jogam seus cidadãos na vala comum do totalitarismo e da extrema intolerância. Um alto preço a ser pago pelos que fogem aos seus ditames e prescrições comportamentais, principalmente, aqueles de natureza religiosa.
Notícias frequentes no quadro desolador desses muitos países giram em torno da insegurança com que vivem pessoas de confissão religiosa que se distancie ou se diferencie do islamismo. Muitos desses Estados que confundem práticas de governo e práticas religiosas veem em qualquer outro modo de vida uma razão certa para sua eliminação completa. No âmbito dessa arbitrariedade se encontram as minorias cristãs, que são perseguidas e, muitas vezes, vítimas de ataques que resultam na sua morte ou “recuperação” forçada, caso queiram continuar vivendo. Aos olhos passivos de governos ocidentais que se sensibilizam, profundamente, com qualquer gesto terrorista ou extremista religioso dentro de suas fronteiras, se sucedem e se alastram desmandos e tragédias por terras africanas. Suas raízes estão nos jogos de poder das diferentes facções criminosas/terroristas locais de fundamentalistas religiosos islamitas e de governos déspotas ou falidos.
Especula-se, por exemplo, que até 100 mil cristãos tenham deixado o Egito desde o levante de 2011, durante a primavera árabe. A perseguição ao grupo cristão aumentou em consequência do crescimento da influência de grupos islâmicos. As eleições parlamentares, que resultaram em uma grande vitória dos partidos islâmicos, especialmente a Irmandade Muçulmana e a linha-dura “salafistas Nour”, levaram grupos extremistas a querer introduzir a lei estrita da Sharia (islâmica) em todo o Egito, permitindo ataques a cristãos e a membros de outros grupos minoritários. Mas os cristãos não são a única minoria religiosa perseguida por fundamentalistas islâmicos ao redor do mundo. Os yezidi do Iraque, são também uma presa do autoproclamado grupo terrorista “Estado Islâmico”. Essa minoria conhecida por yezidi é uma comunidade ancestral que vive em zonas do Iraque, da Síria e da Turquia e tem na sua religião mistura de traços do zoroastrianismo, do islão e do cristianismo mas é particularmente odiada pelos islamitas, que os apelidaram de satânicos.
Exemplos iguais ou piores são vistos aquém e além-fronteiras: cristãos coptas egípcios têm direitos civis retirados ou limitados pelo “novo governo”; somalis cristãos, que se refugiaram em outros países, foram posteriormente sequestrados para decidirem entre sua execução ou sua “reabilitação muçulmana”; crianças de escolas cristãs da Nigéria foram sequestradas pelo grupo terrorista Boko Haram, sendo depois entregues em casamentos forçados com terroristas que integram o próprio grupo extremista.
A matança com que se banqueteiam os extremistas parece não ter fim. Nesta Páscoa, as notícias mais tristes de crimes de intolerância religiosa vieram do Quênia. A fúria jihadista atingiu mais cristãos naquele país, levando o Papa Francisco a se queixar de um “silêncio cúmplice” das pessoas perante o ocorrido.
Desta feita, uma tragédia se deu no campus universitário de Garissa, no Nordeste do Quênia, onde a milícia islamista Al-Shabab matou cerca de 148 pessoas. O grupo terrorista separou os muçulmanos dos não muçulmanos, mantendo os primeiros apenas como reféns enquanto executava os demais.

A mistura entre Estado e religião, algo comum nesses países, é combustível do totalitarismo regado a fundamentalismo religioso. Como afirma a jurista Flávia Piovesan: “confundir Estado com religião implica a adoção oficial de dogmas incontestáveis, que, ao impor uma moral única, inviabiliza qualquer projeto de sociedade aberta, pluralista e democrática. A ordem jurídica em um Estado democrático de direito não pode se converter na voz exclusiva da moral de qualquer religião” (O Globo). É exatamente em estados laicos que grupos religiosos têm o direito de constituir suas identidades em torno de seus princípios e valores, uma vez serem parte de uma sociedade democrática, sem, contudo, pretenderem se tornar hegemônicos. Uma lição que parece fazer falta aos países africanos, que a ferro e fogo querem teocratizar seus governos, hegemonizar suas culturas, tornando-se, dessa forma, coniventes com ações extremas de seus membros terroristas travestidos de religiosos.

Originalmente publicado no blog Controvérsia (www.controversia.com.br) em 08 de abril de 2015. 

ILHAS MALVINAS

Foto retirada da internet

As "Falkland Islands", conhecidas pelos sul-americanos como as Ilhas Malvinas, reacendem as tensões entre britânicos e argentinos no momento em que ocorre uma série de cerimônias e discursos inflamados para marcar o 30º aniversário do início da Guerra das Malvinas. Essa guerra teve o protagonismo dos dois países que disputam o domínio das ilhas de localização remota para os britânicos (a 12.800km de seu território) e próxima para os argentinos (a cerca de 500 quilômetros dasua costa). Ao todo, 255 soldados britânicos e 650 argentinos morreram no conflito, que começou com uma invasão argentina das ilhas no dia 2 de abril de 1982. No momento, acirra-se a polêmica sobre quem tem direito ao controle do arquipélago na ocasião desse 30º ano do episódio bélico que culminou com a vitória da Grã-Bretanha - e também não só com a derrota argentina, mas com a consequente queda do seu presidente militar Leopoldo Galtieri acusado, naquela altura, de incompetência à frente do evento. A questão atual mais em voga pode ser a dos interesses britânicos na exploração de petróleo naquela região, o que para o governo argentino violaria não apenas os direitos territoriais do país, mas também iria contra resoluções da ONU. Na disputa pelo território há acusações bilaterais sobre boicotes à população local por meio de bloqueios de suas embarcações em portos argentinos e sobre a militarização do Atlântico Sul pela marinha britânica. Mesmo que as ambições comerciais com o petróleo local não estivessem presentes nessa disputa territorial, descobertas recentes de grandes reservas de petróleo próximas às Ilhas justificariam o interesse atual dos dois países pelo controle do arquipélago, sendo, portanto, sua motivação principais. O "ouro negro" abundante poderá logo se sobrepor aos ideais nacionalistas que existiam nas raízes das disputas. Talvez com isso pouco se escute falar, daqui pra frente, de ovelhas, pinguins e baleias e da necessidade de preservação ecológica da região, que os britânicos acreditavam poder fazer melhor. Do mesmo modo, os cerca de três mil "kelpers", habitantes locais, também conhecidos como malvinenses ou malvinos, serão, provavelmente, mais utilizados do que protegidos nesse imbróglio político.




ANTONIO CAUBI TUPINAMBÁ
Artigo publicado originalmente no Caderno Opinião do Jornal Diário do Nordeste em 26 de abril de 2015. 
Professor da UFC
http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/opiniao/artigos-1.1277114

Religião e Terror


                                                    Foto retirada da internet



Os terroristas do autonomeado Estado Islâmico (E.I.) continuam na sua desenfreada incursão num Iraque já destruído por intervenções precedentes. Uma saga que remonta a período que antecede a invasão norte-americana em 2003. Após quase três anos da retirada das últimas tropas estadunidenses de solo iraquiano, eis que militantes extremistas do Estado islâmico tomaram Mosul - sua segunda cidade em importância. Ora se testemunha o avanço ofensivo de um grupo que carrega consigo as características de uma formação fanática, terrorista com devaneios de domínio de parte do mundo, para isola-lo num Estado islâmico e disseminar um horror pré-civilizatório.
Apedrejamentos, decapitações, crucificações, mutilações e escravização estão entre as atrocidades cometidas. Imagens de milhares de iraquianos da minoria étnica curda yazidi, encurralados nas montanhas, levaram governos ocidentais a lançar uma operação contra as posições chaves dos terroristas. Não se pode subestimar esse novo adversário, já em grande número e com estratégias terroristas dirigidas a todos que não comunguem com sua miopia religiosa. Organizados e equipados, demonstram capacidade de disseminar seus atos destruidores pelo mundo. Os últimos ataques perpetrados em Paris contra a sede da revista Charlie Hebdo, foram quase uma tragédia anunciada pelos extremistas islâmicos. A missão dos países ocidentais é, portanto, manter-se em vigília e combater esse emergente e delirante Estado terrorista e suas "metástases" ao redor do mundo para que o ódio e a irracionalidade não nos tirem o direito à liberdade.
Antonio C. R. Tupinambá
Professor da UFC
- Originalmente publicado no Caderno OPINIÃO do Jornal Diário do Nordeste em 14/01/2015. 

Sem Chance


                                                        Foto retirada da internet


A história da Indonésia traz fatos indigestos no que tange a direitos humanos e ações civilizatórias. Na sua definição territorial pós-independência, a promoção de massacres e carnificinas foi regra. Em 1949 os holandeses reconheceram sua independência, mas atribuíram a seu território mais oriental, Nova Guiné Ocidental, status diferenciado de “nação” étnica e geográfica autêntica, diferenciando-a do restante do novo país, como fizeram os portugueses com Timor Leste, sua ex-colônia naquela região.O plebiscito que resultou na “legitimidade” dessa anexação ocorreu sob a mira das armas do então ditador Suharto. A exemplo do que aconteceu no Timor Leste, a população da Nova Guiné Ocidental nunca aceitou sua anexação sob os moldes selvagens característicos da polícia de Estado indonésia. Nem mesmo Pol Pot, ditador cambojano, conseguiu assassinar, proporcionalmente, tantas pessoas quanto Suharto.A Indonésia tem, portanto, história de intolerância, governos totalitários e corruptos, que em muitos casos fazem vista grossa para a segregação, culminando com perseguição a minorias. É um país que não tem moral para punir alguém com a pena de morte, porque não pune sequer os seus muitos corruptos. Nunca saiu da lista dos países mais corruptos; invadiu e quase dizimou a população do Timor Leste, em sua maioria cristã, porque queria sua anexação. Enfim, não é qualquer modelo de democracia, tampouco sociedade de direito ou exemplo de respeito e justiça. Parabéns ao ministro das relações exteriores que apresentou o repúdio do governo brasileiro pela execução de Marco Archer, em face a sua condenação pelo tráfico de drogas naquele país. Apesar de todos os pedidos de clemência, ao condenado foi negada qualquer outra alternativa ou uma segunda chance.





Antonio Caubi Ribeiro Tupinambá

Texto originalmente publicado no Caderno OPINIÃO do Jornal O POVO em 07/12/2014.
http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2015/02/07/noticiasjornalopiniao,33896
02/sem-chance.shtml

Cultura e violência


 Jantar - Imagem de Stock (br.depositphotos.com)

Ao dizer à agente que era juiz e essa retrucar com a frase "juiz mas não Deus", recebeu voz de prisão notícia 


A agente de trânsito carioca Luciana Tamburini abordou, profissionalmente em uma blitz, um juiz que dirigia sem habilitação. O carro do magistrado não tinha placas e tampouco a exigida documentação, o que lhe custou o seu reboque. Ao dizer à agente que era juiz e essa retrucar com a frase “juiz mas não Deus”, recebeu voz de prisão. Julgado, o caso resultou em punição com multa para a agente. Esse poderia ser um exemplo emblemático para o psicólogo holandês Gert Hofstede, que estudou as “dimensões culturais” e os diversos aspectos de inúmeras culturas nacionais. Talvez não tenha nos seus manuais sobre o tema, melhor ilustração para o que descreve como uma de suas principais dimensões culturais, ou seja, a “distância de poder”. Distância de poder define o quanto as pessoas integrantes de uma determinada cultura aceitam que outros possam exercer sobre elas a força, seja com legitimidade ou não. Tais experiências, como a relatada, se avolumam em vários extratos sociais, comprovando que nessa dimensão o Brasil pontua bem mais, quando comparado a outras nações mais desenvolvidas. Isso significa termos uma população que reconhece e aceita uma grande desigualdade de poder entre as pessoas. Não nos enganemos achando que isso ocorre apenas nesses casos de “desigualdade padrão”, no qual se identifica uma clara diferença hierárquica ou econômica entre os envolvidos. Constataram-se essas tendências, em aceitar desigualdades de poder, também em situações cotidianas comuns, reforçando os achados típicos em países socialmente atrasados como o nosso. Quando alguém contrata uma empregada doméstica, por exemplo, verifica-se que essa pessoa tende a imprimir características de poder desproporcional na relação de trabalho, porque culturalmente isso é aceito e até desejado. A dificuldade em aceitar mudanças na legislação que coíbe esses abusos pode ser também explicada pela prevalência dessa dimensão cultural. Em sociedades como a nossa há, segundo estudos nessa área, uma tendência a aceitar mais o racismo e a opressão, caso partam de quem tem alguma forma de maior poder percebido. A burocracia, nesses países, também funciona para ratificar esses desníveis culturais. Há pessoas que dela lançam mão para justificar e viabilizar suas pretensões de domínio e poder. No caso de sociedades como a nossa, com maior “distância de poder”, atos de violência e exercício desigual de poder são justificados e até mesmo incentivados, caso seus agentes estejam em posição hierárquica superior ou em condição social “melhor” do que suas vítimas. Não por menos, testemunhamos em nosso país o apego desmedido a objetos ou símbolos de poder para cultivar distância, demonstrar superioridade, e, portanto, poder agir arbitrariamente, muitas vezes à margem da própria lei e com aceitação tácita dos pares.

Originalmente publicado no Caderno OPINIÃO do Jornal O POVO em 01/12/2014.

A Saga Copta - Originalmente publicado no blog Controvérsia (www.controversia.com.br) em 24 de março de 2015.



Prof. Antonio Caubi Ribeiro Tupinambá
E-mail: tupinamb@ufc.br

                                                                                                                  
A SAGA COPTA                                                                                                                                                      
Os coptas são povos originários do Egito de um tempo anterior à invasão árabe/muçulmana em torno de 641. A conversão dos egípcios ao cristianismo já no século I fez com que a invasão do Islã no século VII encontrasse um Egito completamente cristianizado. Daí a palavra copta significar a própria nacionalidade local, ou seja, “egípcio”, pois naquela altura “ser egípcio era ser cristão”, não sendo feita uma diferença entre os termos.
É exatamente no referido século VII o momento em que começa a saga do povo copta, perdurando por catorze séculos, isto é, até os dias atuais. Vivendo sob o domínio dos muçulmanos, os coptas vêm sendo lenta e progressivamente dizimados, juntamente com outras religiões e culturas outrora predominantes nessas terras tornadas “árabes”.
Assim como a palavra “judeu” representa um povo e uma religião, o termo “copta” representa uma parte do povo egípcio e sua religião cristã. O extermínio de culturas e religiões antes predominantes nessas terras hoje “islâmicas” tem apenas um de seus exemplos nos cristãos do Egito. De maioria absoluta, os coptas correspondem a apenas 12% da população local atual, ainda que representem a maior minoria cristã em todo o Oriente Médio. Uma minoria de 10 milhões que perde fôlego por conta da perseguição que sofre há séculos e recrudesceu após a queda da ditadura Kadafi em 2011. Mesmo nos dias de hoje se identificam estratégias de inspiração fundamentalista que buscam aniquilar religiões e culturas antes predominantes nesses territórios invadidos e dominados. Os coptas do Egito não são, portanto, o único exemplo de grupos que sofrem com esse tipo de perseguição. Essa prática se espalha por vários países africanos e atinge outras minorias, como se testemunha na Nigéria, onde o grupo terrorista Boko Haram tem travado vários ataques contra os cristãos; ou ainda no Sudão, onde a sharia (lei islâmica) é fonte de inspiração constitucional, o que permite perseguições a pessoas e a grupos de outras religiões.
Não bastasse serem perseguidos em sua pátria, os coptas viraram alvo do grupo terrorista Estado Islâmico (EI), que sequestrou e decapitou no início de janeiro de 2015, 21 de seus trabalhadores na Líbia, apenas por conta de sua origem e confissão religiosa. Os coptas decapitados haviam sido sequestrados entre dezembro de 2014 e janeiro de 2015 na cidade líbia de Sirte, que ora se encontra em controle dos jihadistas. Tratava-se de pessoas que faziam parte de um grupo de milhares de emigrantes egípcios que buscavam trabalho no país vizinho.
É hora de mostrarmos ao mundo a indignação com mais essa barbárie de terroristas do Estado Islâmico, dizendo que “somos todos coptas”.


Evento - Tibete Independente


Movimento de estudantes por um Tibete livre




Prof. Dr. Antonio Caubi Ribeiro Tupinambá e Prof. Dr. Jawdat Abu-El-Haj





Localização do Tibete


Tibete Independente: Ecos de uma luta



A FORÇA DO BRICS





Há quase uma década surgia um novo grupo ou uma elite entre países emergentes formado pelo Brasil, Rússia, Índia e China, que passou a ser chamado de “Bric”. Hoje, com a adesão da África do Sul, o bloco cresceu e viu ser acrescentado um “s” a sua sigla. A primeira visita oficial da presidente Dilma Rousseff à Índia, onde participa da IV Cúpula do Brics, não tem importância apenas simbólica. Na pauta da visita estão assuntos vitais para os países integrantes do bloco, como, por exemplo, a análise da crise mundial, seu impacto no comércio e a criação de um banco de desenvolvimento constituído com capital dos cinco países e que financiaria projetos nos próprios integrantes do Brics e em outras nações em desenvolvimento. A cúpula reúne, portanto, os líderes daquelas consideradas as principais economias emergentes do mundo. Para se sentir a importância crescente  desse grupo no cenário econômico mundial, basta observar o grau de sua participação na expansão da economia global em 2012.  Segundo o FMI, os países que formam o Brics serão responsáveis, neste ano, por cerca de 56% da economia mundial. A ideia de criar um banco de desenvolvimento reflete essa importância sem, necessariamente, comprometer a participação dos países integrantes em organismos multilaterais, aos quais essas economias emergentes ainda reivindicam uma maior presença e poder de voto nas grandes decisões. O crescente peso econômico do Brics ratifica a tese da mudança do centro de gravidade da economia mundial. Demografia, potencial de mercado e outros fatores justificam o tratamento especial ao grupo. Trata-se de um mercado que soma mais de 800 milhões de novos consumidores e um potencial para competir com os demais grupos econômicos. Vale a pena salientar que durante sua visita à Índia, a presidente Dilma debaterá, além desses temas eminentemente econômicos, assuntos de interesse bilaterais nas áreas científicas, tecnológicas, educacionais, de igualdade de gêneros e de cooperação. Isso reflete o reconhecimento, por parte dos dirigentes, da necessidade de atenção a outras questões que transcendam os interesses econômicos, especialmente aquelas de natureza cultural que pautam acordos internacionais. Dentro do Brics, temos o exemplo do caso indiano, no qual ainda se identificam a necessidade de investimento e o respeito a pequenas comunidades produtivas, comuns durante o movimento da luta pela independência do império britânico e que ainda hoje funcionam como bastiões da cultura local. Deve-se ficar atento a questões de natureza cultural e social no âmbito dos países do bloco. Essas questão se relacionam a políticas  consideradas “culturalmente corretas” e se ocorrem em respeito às comunidades locais, ou se, ao contrário, trata-se de simples estratégias para o combate a eventuais resistências a projetos dominantes. Apesar da extraterritorialidade de modelos econômicos, a condição humana demanda seus significados e seus sentidos. Não se pode esquecer dos efeitos radicalmente desiguais dessa nova condição globalizante que pode a ela se sobrepor.                                                                                                                                                                             
Antonio Caubi Ribeiro Tupinamba 
              Professor e Psicólogo 

ESTADO E LAICISMO


                              Francesco_Ammendola (fotospublicas.com)

Publicado no Caderno Opinião do jornal Diário do Nordeste em 25 de março de 2008.


O sábio Natan questiona se por acaso não somos homens, antes de judeus, muçulmanos ou cristãos. Tal pode se traduzir em um clamor social pela separação das forças públicas e religiosas para a viabilização de qualquer Estado moderno. Segundo Pierre Bayle, um bom cidadão ou um bom governante não tem que ser cristão nem adotar a expressão pública das crenças religiosas.O ateu pode ter um comportamento ético-social superior à prática de muitos crentes. A utilização política das religiões tem sido, historicamente, fonte de violência, fanatismo e guerra. Há um elemento constitutivo das religiões monoteístas que torna difícil o respeito e a tolerância às demais religiões e crenças. Estados, nos quais pensamentos religiosos ou valores escolhidos buscam o domínio do ideário e da existência de todos, pressupõem a prática de atos de base moral personalista em detrimento daqueles oriundos de princípios democráticos. Observam-se na busca da verdade, do bem viver e na defesa da justiça, da liberdade e dos direitos humanos, idiossincrasias de sociedades desenvolvidas e laicas. Mas tal privilégio não deve ficar circunscrito a poucas nações, pois diferentes povos têm, igualmente, lutado por liberdade e justiça. Parte dessa luta se define como a busca da consolidação de Estados laicos que atualizem as demandas de seus cidadãos.A utilização política das religiões tem sido historicamente fonte de violência, fanatismo e guerra. No fundo, há um elemento constitutivo de todas as religiões monoteístas que torna difícil o respeito e a tolerância das demais religiões e crenças. Se cada religião monoteísta, cada religião do Livro (cristianismo, islamismo e judaísmo) se apresenta como a única possuidora da Verdade em questões morais e de formas de vida, é impossível que não surjam conflitos entre elas.Por tudo isso, a laicidade e o laicismo podem se apresentar no mundo atual como uma ponte de diálogo entre as culturas e as religiões, já que promovem a tolerância das diferentes culturas e o respeito a todos os estilos de vida desde que não atentem contra os direitos humanos.


ANTONIO CAUBI RIBEIRO TUPINAMBÁPsicólogo e Professor

VENTOS DO LESTE


                                                                           Bandeira da Bulgária



Publicado no Caderno Opinião do DN em 15 de novembro de 2009


IDÉIAS

O futuro de uma disciplina é incerto. Isso também diz respeito à Psicologia. Certo é apenas que a todos os psicólogos interessa saber o porvir de sua disciplina, que há muito tempo vem sendo considerada a “ciência do futuro”. Os perigos que a humanidade enfrenta nesse século são objeto de estudo da psicologia e demandam mais cientificidade dessa ciência e uma maior ênfase em sua relevância social. Os problemas humanos são internacionais mas a Psicologia, nos moldes em que a conhecemos, limitou-se a crescer no Ocidente. Desconhecemos ou damos pouca importância ao que se faz nessa área noutras regiões do planeta. Apesar da grande contribuição de nomes oriundos de países como a Rússia, a antiga Alemanha Oriental, a República Tcheca ou a Hungria, pouco nos remete a essas regiões, quando se fala da Psicologia de hoje. Visando contribuir para mudanças de paradigma e buscando uma efetiva aproximação dos psicólogos, a Associação de Psicologia da Bulgária realizou o Congresso Internacional de Psicologia do Leste Europeu na cidade de Sofia neste mes de novembro de 2009. Na ocasião se testemunhou uma ampla produção científica em Psicologia no âmbito de países que formam o bloco de novos integrantes da União Europeia. O Congresso teve como objetivo principal apresentar um retrato da atualidade psicológica, das necessidades e das conquistas na região além do espírito de colaboração dos profissionais do leste europeu para com seus pares ao redor do mundo. Tudo isso com o claro intuito de superar um isolamento acadêmico histórico e indesejável, que já não faz mais sentido na atualidade. Psicólogos representantes das mais diversas nações se encontraram na Universidade de Sofia para compartilhar seus conhecimentos acadêmicos e profissionais e buscar novas formas de interação, antes não imaginadas por aqueles povos do Leste. Tendo em vista a farta produção científica em jogo, observou-se que a Psicologia da Europa Oriental continua sem receber, no Ocidente, a merecida consideração. Concluiu-se na ocasião, que o desenvolvimento da psicologia acadêmica e profissional na Europa e no mundo deve seguir sua característica de diversidade, mas não poderá continuar ignorando ideias e conhecimentos desenvolvidos pelos colegas psicólogos do Leste europeu.


ANTONIO CAUBI RIBEIRO TUPINAMBÁ - Psicólogo

A GUERRA JUSTA





Publicado no Caderno Opinião do DN em 20 de novembro de 2011
IDÉIAS

No congresso virtual intitulado A nova face da guerra (The Changing Face of War), que ocorreu entre os dias 14 e 20 de novembro de 2011, vários estudiosos abordam esse tema nas suas mais diversas perspectivas, formas e influências no mundo hodierno. A discussão sobre a possibilidade da existência de uma guerra que seja considerada justa ocupou um significativo espaço na sua programação. Tomando por base as ideias de Noam Chomsky sobre o tema fica fácil contra-argumentar autores como Michael Walzer e seu famoso livro guerra justa e injusta, no qual se constata uma falta de argumentos reais e sólidos para apoiar a ideia e o conceito de guerra justa que defende. Ao se tratar determinadas intervenções bélicas, fala-se também de outro conceito semelhante, nomeadamente, o de guerra preventiva. Como ocorreu no Afeganistão, na guerra do Iraque encontramos a falsa ideia de prevenção, quando o objetivo real dos invasores era manter o domínio do mundo pela força. Naquela altura, o governo estadunidense usou o Iraque como um ensaio para deixar claro ao mundo que suas intenções de domínio deveriam ser levadas a sério. O então presidente Bush pretendia usar quais fossem os meios para assegurar seu domínio sobre o mundo numa espécie de reinado supremo, e para fazê-lo, permanentemente, removeria qualquer desafio potencial que percebesse. Isso é o coração da doutrina da guerra preventiva, que não se distancia daquela da guerra justa (Chomsky, 2007). Enfim, observa-se que não é fácil encontrar argumentos convincentes e sérios para apoiar a guerra justa. Alguns deles não passam de opiniões pessoais, expressões de crenças ou imposições ideológicas e falaciosas. Comungando com o pensamento de Chomsky, o cientista social e crítico político mais atuante nos dias de hoje, diríamos acerca das afirmações de apoiadores da legitimidade da guerra justa, que lhes faltam argumentos sérios e fundamentados. Eles defendem o conceito tomando, por exemplo, casos como o do Afeganistão, como se tal representasse um triunfo da guerra justa, o que de fato e até o momento não se pode comprovar. Vê-se nesses discursos apenas o desejo de se converter a teoria da guerra justa em uma forma apologética para aquilo que favorece a prática de atrocidades de um Estado sobre outro.


ANTONIO CAUBI RIBEIRO TUPINAMBÁ - Psicólogo

BRIC e a Índia







Publicado no Caderno Opinião do DN em 03 de março de 2008.

IDÉIAS


Há cinco anos se cunhava uma nova sigla para designar um grupo de nações semelhantes em suas perspectivas econômicas futuras. Surgia uma elite entre os países emergentes forma da pelo Brasil, Rússia, Índia e China, o BRIC. Demografia, potencial de mercado e outros fatores justificam o tratamento especial ao grupo.Trata-se de um mercado que soma cerca de 800 milhões novos consumidores e um potencial para competir com outros grupos econômicos. Não há, contudo, características culturais tão comuns a essas quatro nações. 

Horizontes distintos e sérias restrições internas a um projeto aglutinador de tal magnitude podem dificultar o projeto. Mas ainda que os países do BRIC não cheguem a atender às expectivas de formar um ambiente favorável a novas estratégias de expansão, um processo já foi desencadeado nessa direção e exerce sobre seus habitantes efeitos que transcendem às mudanças econômicas previstas. O BRIC continua sendo uma união artificial por serem seus membros países continentais periféricos ao sistema econômico mundial e demonstrarem um desejo de aproximação limitado.

Nessa direção se observam apenas movimentos modestos entre os vizinhos Rússia e China ou iniciativas diplomáticas que incluem a Índia e mais timidamente o Brasil. A Índia, o mais diferenciado do grupo em termos de cultura e religiosidade, foi visto por um longo tempo como incapaz de absorver avanços econômicos nos moldes ocidentais. País marcado por profundas desigualdades sociais e uma cultura ancestral de difícil penetração por valores capitalistas, provoca questionamentos sobre o benefício social de sua acelerada política neo-liberal e globalização. Mas, pelo menos no caso indiano, ainda se identificam certo investimento e respeito a pequenas comunidades produtivas, organizações comuns durante o movimento de luta pela independência do império britânico. Vale questionar se, na Índia ou noutros países do bloco, tais políticas  ́culturalmente corretas ́ ocorrem em respeito às comunidades locais, ou se se trata de mais uma estratégia de combate a eventuais resistências a projetos políticos dominantes.


ANTONIO CAUBI RIBEIRO TUPINAMBÁ - Psicólogo