POLIS

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O projeto nasce com foco no comportamento político nas sociedades contemporâneas e nos efeitos dos movimentos sociais e políticos atuais sobre as liberdades e processos emancipatórios, bem como seus impedimentos em escala local, nacional e global. Tem por objetivos o desenvolvimento de um campo interdisciplinar de reflexão e prática investigativa e divulgadora, reunindo debates em torno de questões como: preconceito, racismo, sexismo, xenofobia, movimentos sociais, violência coletiva social, relações de poder, movimentos emancipatórios de povos e nações, valores democráticos e autoritarismos, laicidade, análises de discursos e ideologias, de universos simbólicos e práticas institucionais. Nessa perspectiva, o Polis atua desde sua criação formal em 2013, como projeto de extensão e em 2015 como Blog para divulgação e atualização.

terça-feira, 3 de abril de 2018

MUITO PIOR QUE EM ALEPO




Antonio C. R. Tupinambá

Ghouta é um enclave na periferia de Damasco, capital da Síria e ocupada pelos rebeldes ao regime do ditador Bashar-al-Assad, o protegido de Putin, o presidente russo. O avanço das tropas do governo tem acontecido sem que as funestas consequências para a população acossada encontre alguma forma de proteção. Sem chances sequer de ser alcançada pelo comboios humanitários da ONU ou por algum acesso aos “corredores” que as possibilitem evacuar e escapar dos bombardeios generalizados, vivem à espera de algum milagre pois não há qualquer lugar seguro na região. Ve-se anunciada uma catástrofe ainda maior que aquela de Alepo, cidade ao norte do país que foi destruída em combate anterior e em moldes semelhantes. Ghouta Oriental — o último grande reduto dos rebeldes no país governado por Bashar al-Assad é estratégica para seu governo, o que justifica um ataque àqueles que são considerados terroristas remanescentes. Com eles, contudo, está uma gente que já não sabe o que é (sobre)viver e nem ousa ter qualquer esperança de fuga ou proteção. Os bombardeios por meio de drones ou incursões militares diretas não conhecem o perdão e em um intervalo de 48 horas conseguiram matar mais de 150 pessoas e ferir mais de 800. Em um período de menos de um mês, em uma área que é habitada por 400 mil pessoas, os bombardeios e ataques ininterruptos já deixaram mais de 600 mortos (Observatório Sírio para os Direitos Humanos). Mais parece que o regime quer dizimar a própria população e a esse preço tirar o território das mãos dos seus inimigos, mesmo que o resultado disso signifique uma conquista de ruínas em uma cidade fantasma. Mais parece que o sócio russo do massacre ratificou a campanha de aniquilação da população civil em Ghouta e, com isso, quando os comboios da ONU conseguem se acercar da região para assistir os doentes e famintos, soam como se trouxessem uma “ última ceia”. Os países ocidentais se comportam como se estivessem acostumados a tais catástrofes humanitárias na Síria e já não se preocupam em buscar meios para impedi-las. Esse estranho costume em ver o avanço de ataques bélicos que atingem de frente a população civil do país leva o povo, dentro e fora da Síria, a pensar que é normal matar e morrer, sejam as vítimas crianças, idosos, mulheres ou mesmo profissionais de saúde em ação nos hospitais e postos médicos arranjados, ou no que deles ainda restou. O conceito de dignidade humana e liberdade já não se aplica a esse povo esquecido e abandonado à própria sorte.

O TIBETE NÃO É A CHINA




Antonio C. R. Tupinambá

 
A Índia já foi um porto seguro para os tibetanos refugiados do regime chinês e de seus algozes na região do Himalaia. Tibetanos que testemunharam os desmandos diuturnos dos ocupantes chineses, que anexaram seu território sem conhecer limites para forçar um domínio a ferro e fogo. Desde perseguição religiosa a um projeto de dizimação da cultura local, o governo central da China, nesse continuum de atrocidades e desmandos perpetrados na ponta se seus fuzis, lança mão das mais improváveis estratégias para consumar a ocupação e o domínio de um povo e uma região que tem tanto de chineses como temos, nós brasileiros, de guianenses. É como se o Brasil resolvesse invadir o Uruguai por já ter dividido, no passado, um reino em comum. No 59. aniversário do levante tibetano contra o domínio chinês, dezenas de pessoas protestaram em frente à embaixada chinesa na capital da Índia. Já não podem faze-lo com a liberdade de outrora na república vizinha, que tradicionalmente, no seu espírito democrático recebeu refugiados tibetanos permitindo-lhes, por muito tempo, viabilizar suas vidas em uma nova “pátria”, depois de ter deixado para trás suas histórias, famílias e projetos de vida. O interesse econômico que se reflete na busca de aproximação dos dois países leva o governo indiano a mudar de postura e coibir demonstrações e protestos contra a China em seu território. Esse é o novo cenário inamistoso para aqueles que ora vivem como refugiados em solo indiano. O mais famoso desses refugiados, o líder espiritual dos tibetanos, Dalai Lama, se mantém discreto no país que o acolheu e prefere rodar o mundo com suas falas de apoio ao povo do seu país, o Tibete. Com todas essas restrições ainda se pode ver cerca de 50 pessoas protestando em frente à embaixada chinesa na Índia, carregando cartazes com dizeres contra a ocupação. Para conte-los e até mesmo dete-los, a tropa de segurança indiana contava com quase duas centenas de policiais. Apesar dessa mudança de rumo na política externa indiana que visa a uma reaproximação com o vizinho, o Congresso da Juventude Tibetana continua tentando organizar, corajosamente, esses protestos, uma vez que nesses 59 de ocupação chinesa do Tibete, o seu povo vem sofrendo uma perseguição implacável da força militar de execução e de apoio à invasão, o que ceifa vidas e destrói qualquer plano de futuro da população local. Uma “aculturação chinesa forçada” que se encontra em curso na região Himalaia visa à descaracterização da cultura e dos costumes locais, incluindo língua e religião, passando pela arquitetura e pela destruição do meio ambiente para fins comerciais: “o tempo que durar a ocupação, o tempo que o governo comunista continuar com suas políticas ‘linha dura’ - a luta e a resistência dos tibetanos continuarão”, afirma o presidente da TYC, Tenzing Jigme (Tibetan Youth Congress). A estatística da resistência à ocupação chinesa é cruel: desde 2009, mais de 152 tibetanos se auto-imolaram dentro do próprio território tibetano. Segundo o ativista Tenzing Jigme, essas auto-imolações ocorreram como protesto contra as regras do governo central chinês e suas estratégias de domínio a qualquer custo imposta desde 1950 à área de maioria budista. A posição indiana de proibir os protestos anti-China em seu território, tendo em vista seus novos interesses que implicam numa busca de reaproximação com os ditadores chineses, ficou evidente nesse último aniversário de 59 anos do levante contra a invasão do Tibete, quando agiram com truculência face aos protestos dos jovens tibetanos e simpatizantes da causa. Isso significa a necessidade de difusão, ao redor do mundo, desses ações de protesto e demonstrações de não aceitação da postura bélica chinesa contra o povo tibetano, que reivindica, com razão, seus direitos de autodeterminação. Como diz um dos cartazes durante o último protesto em Nova Dehli: O TIBETE NÃO É PARTE DA CHINA.