POLIS

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O projeto nasce com foco no comportamento político nas sociedades contemporâneas e nos efeitos dos movimentos sociais e políticos atuais sobre as liberdades e processos emancipatórios, bem como seus impedimentos em escala local, nacional e global. Tem por objetivos o desenvolvimento de um campo interdisciplinar de reflexão e prática investigativa e divulgadora, reunindo debates em torno de questões como: preconceito, racismo, sexismo, xenofobia, movimentos sociais, violência coletiva social, relações de poder, movimentos emancipatórios de povos e nações, valores democráticos e autoritarismos, laicidade, análises de discursos e ideologias, de universos simbólicos e práticas institucionais. Nessa perspectiva, o Polis atua desde sua criação formal em 2013, como projeto de extensão e em 2015 como Blog para divulgação e atualização.

sábado, 11 de janeiro de 2020

INDIGNAÇÃO SELETIVA



O canal do bispo que afirma, frente a uma platéia de ditos fiéis, que o espírito santo não quer aplausos e sim “dinheiro” reforça o seu falso moralismo e indignação seletiva, levando a multidão que a ele assiste para o lado do fanatismo e fundamentalismo. Não vamos, contudo, nos comportar como os Sheiks e fundamentalistas iranianos que condenam à morte com seus ultimatos macabros os que “ferem suas convicções religiosas", a exemplo do que fizeram com o escritor iraniano Salmon Rushde, obrigando-o ao exílio na Inglaterra. Taslima Nasrin, escritora bengali teve destino parecido em seu país Bangladesh por conta de um livro ali publicado. Este é o prêmio de fundamentalistas religiosos: perseguição, intolerância e cegueira, nada de incomum com as reações ao Porta dos Fundos. Os mesmos que pouco ou nada fazem para seus “irmãos" fugitivos das guerras santas e financeiras e amargam uma travessia forçada e perigosa rumo à Europa, continente que os acolhe, diferentemente dos países de seus irmãos muçulmanos que não os aceitam ou pouco fazem para salva-los da tragédia do exílio. Sobre a insistente criminalização do especial de natal do Porta dos Fundos e de sua trupe pela emissora do Bispo Edir Macedo no seu programa dominical houve também reação de mais sensatos a favor dos humoristas: ”nas redes sociais, muitos telespectadores ironizaram o fato da emissora pedir respeito aos cristãos. Alguns ainda lembraram a condenação do canal por preconceito contra religiões de matriz africana. '#DomingoEspetacular assim como os cristãos fazem diversos julgamentos a outras religiões, o #PortaDosFundos apenas fez o trabalho deles que é a comédia, achei ótima, engraçada, sem provocações apenas entretenimento', disparou um internauta. 'A Record surtando com o porta dos fundos, se fosse zuando a matriz africana não teria todo esse aue', disse outro usuário do Twitter. '#DomingoEspetacular com reportagem especial sobre o filme Especial de Natal Porta dos Fundos, programa cujo dono é um pastor que enriqueceu as custas da exploração da fé alheia', comentou um terceiro. 'Isso é um absurdo total, nem dá pra chamar de jornalismo. Que propriedade tem uma emissora que vive as custas do dinheiro dos fiéis pra exibir isso? Hipócritas que inclusive já foram condenados por intolerância religiosa. Isso é nojento e desrespeitoso. Lixo!', desabafou mais um.” (https://rd1.com.br/record-detona-porta-dos-fundos-e-web-lembra-de-detalhe-da-emissora/). No contexto atual em que o governo federal e seus representantes premiam atos de intolerância e buscam no seio dessas igrejas fundamentalistas apoio para seus pleitos políticos, nada a estranhar. Já no período pré-eleitoral, a tentativa era intervir em toda ação cultural ou individual para destilar intolerância e desrespeitar qualquer expressão que fosse de encontro aos pontos de vistas totalitários de candidatos de extrema direita e seus grupos apoiadores. Renata Carvalho, que sofreu as consequências dessas perseguições ideológicas sabe bem o que significa estar do lado da arte que não aceita a censura e a hipocrisia fundamentalistas: "Renata Carvalho conhece de perto o fanatismo religioso que motivou o atentado contra a produtora Porta dos Fundos. A atriz foi alvo de diversos ataques enquanto percorria o Brasil com o seu espetáculo 'O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu', no qual ela interpreta um Cristo transexual que vive nos dias de hoje. Desde a estreia, em 2017, até a última apresentação em terras nacionais, no início do ano passado, a peça foi censurada cinco vezes. Renata recebeu ameaças de espancamento e morte, chegou a atuar trajada com um colete a prova de balas e sobreviveu a uma bomba atirada no palco onde se apresentava, em Garanhuns, Pernambuco. — Conheço o ódio que os cidadãos de bem no Brasil costumam despejar. Achei que fosse morrer aos 35 anos, em cima do palco — conta a artista, que tinha certeza de que a onda de violência não era direcionada apenas a ela. — As pessoas acharam que toda aquela agressividade fosse parar na gente, como se a reação só existisse porque eu era uma trans interpretando Jesus. Mas hoje estamos vivendo uma ditadura eclesiástica armamentista. Eles acham que são donos de Cristo. Não protestam contra a miséria ou as queimadas na Amazônia, mas basta um Jesus gay para gerar um incêndio. Escrito pela britânica Jo Clifford, 'Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu' imagina um Cristo vivendo no tempo presente, na pele de uma mulher trans. Histórias bíblicas são contadas de forma a propor uma reflexão sobre a intolerância. A atriz, porém, se tornou alvo real do preconceito que a peça questiona. O espetáculo foi censurado em cidades como Salvador, Recife e Rio. No Festival de Inverno de Garanhuns de 2018, a prefeitura vetou sua apresentação, mas a produção fez uma vaquinha virtual e conseguiu encenar a montagem paralelamente ao evento, numa tenda alugada. Ao fim da primeira sessão, lotada, fanáticos atiraram bombas dentro do espaço. — O Porta dos Fundos está sentindo um pouco da violência que sofremos. Envio toda a minha solidariedade, é um absurdo o que fizeram contra eles — diz Renata. Porém, ao analisar as diferentes temperaturas da reação pública diante dos ataques que ela sofreu e do atentado à sede do grupo de humoristas, Renata diz que existe, no Brasil, uma espécie de 'militância seletiva'. De certa forma, a atriz de 38 anos lamenta que a perseguição contra sua peça não tenha gerado a mesma comoção nas redes que se viu depois do ataque terrorista na produtora em Botafogo, na Zona Sul do Rio. Para a ativista, fundadora do Coletivo T, formado por artistas trans, fica evidente que, mesmo entre supostos apoiadores da diversidade de gênero, muita gente também acha que uma travesti interpretando Jesus é afronta demais. — A nossa construção social não considera válido o corpo trans. É tratado como um corpo demonizado, um corpo doente. Somos atacadas diária e publicamente e ninguém fala nada. Até alguns artistas achavam que era demais uma travesti fazendo Jesus. Tudo por causa dessa imagem demonizada do corpo trans. A violência que sofremos não gerou hashtag, não chegou ao STF em um dia — questiona Renata. — Condeno a violência contra o Porta dos Fundos e acho ótimo que as pessoas estejam indignadas. Mas também acho que muitos estão defendendo o grupo porque são homens brancos famosos e cisgêneros. Durante meses, Renata achava que seria morta no palco, enquanto encenava o espetáculo. Sentiu-se tão oprimida que decidiu parar. Este ano, ela levou a peça a Glasgow, na Escócia. Mas não pretende mais montar a produção no Brasil. — Estamos em um mundo de pessoas armadas. Eu estava entrando em pânico. Consegui superar com ajuda da análise, mas decidi não encenar mais o espetáculo no Brasil. Por questões de saúde mental e por medo de morrer mesmo.” (https://blogdacidadania.com.br/2020/01/atriz-censurada-por-jesus-trans-defende-porta-dos-fundos/). Dois pesos, duas medidas: o "juiz que censurou Porta dos Fundos absolveu Bolsonaro em acusação de homofobia". No caso específico da defesa do presidente, Abicair, o juiz, afirmou que em uma democracia 'não se pode censurar o direito de manifestação’, explicitamente contraditório com sua decisão  sobre o especial de natal. Continuado: “Não vejo como, em uma democracia, censurar o direito de manifestação de quem quer que seja. Gostar ou não gostar. Querer ou não querer, aceitar ou não aceitar. Tudo é direito de cada cidadão, desde que não infrinja dispositivo constitucional ou legal”, escreveu o desembargador. O desembargador ainda citou que o CQC tinha um viés humorístico. 'Assim, não se pode negar que houve consentimento recíproco de todos os personagens do programa para que cada um se manifestasse, sem censura, sobre seus pensamentos, posições e divergências'". (https://revistaforum.com.br/politica/juiz-que-censurou-porta-dos-fundos-absolveu-bolsonaro-em-acusacao-de-homofobia/).

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