POLIS

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O projeto nasce com foco no comportamento político nas sociedades contemporâneas e nos efeitos dos movimentos sociais e políticos atuais sobre as liberdades e processos emancipatórios, bem como seus impedimentos em escala local, nacional e global. Tem por objetivos o desenvolvimento de um campo interdisciplinar de reflexão e prática investigativa e divulgadora, reunindo debates em torno de questões como: preconceito, racismo, sexismo, xenofobia, movimentos sociais, violência coletiva social, relações de poder, movimentos emancipatórios de povos e nações, valores democráticos e autoritarismos, laicidade, análises de discursos e ideologias, de universos simbólicos e práticas institucionais. Nessa perspectiva, o Polis atua desde sua criação formal em 2013, como projeto de extensão e em 2015 como Blog para divulgação e atualização.

domingo, 26 de janeiro de 2020

Caos e fascismo na cultura



O dramaturgo de extrema-direita Roberto Alvim - nome artístico de Roberto Rego Pinheiro - então Secretário de Cultura- já havia protagonizado um ato digno de repúdio ainda quando ocupava cargo na Fundação Nacional de Artes - Funarte, nomeadamente um ataque à “padroeira" de todos os atores nacionais, a atriz Fernanda Montenegro. Isso já deveria ser motivo suficiente para alça-lo à condição de persona non grata no Brasil. Não bastasse esse descalabro, aquele tem no histórico a tentativa nepotista de emplacar a esposa em projeto da Funarte, além de ser o (ir)responsável pela indicação de Dante Mantovani, lunático com quem ainda não fecha o circo dos horrores dessa administração catastrófica para a cultura no Brasil. Há outros casos, no atual governo, de extrema direita que visam à destruição da educação e da cultura nacionais. O indicado de Alvim "se notabilizou por desatinos como uma declaração que associou o rock a uma surreal conspiração soviética para promover o aborto e o satanismo”. Na esteira de seus males feitos, em relação ao Prêmio Funarte de Apoio a Bandas de Música 2020, excluiu do edital, o gênero musical “rock". Via canal no Youtube, afirmou que os Beatles eram agentes comunistas infiltrados na Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA), associando o gosto pelo rock ao uso da droga, que “ativa a indústria do aborto.” Roberto Alvim (que não é Alvim e aqui me pergunto se ele reconhece valor do nome social de Travestis e Transgêneros como certamente quer que o seu seja reconhecido) seguramente já teria sido julgado, processado e punido por sua descarada apologia ao nazismo, realizada mediante um cargo público. O ex-secretário especial de Cultura que foi exonerado, não pelo que fez, mas pela repercussão do que fez: plagiar trechos do ministro nazista Joseph Goebbels em uma fala oficial sobre cultura. Apesar da catatonia política em que parece viver cerca de um terço da população brasileira, houve, em todos os níveis sociais que acedem à internet, uma reação generalizada de repúdio nas redes sociais, ao descalabro desse indivíduo travestido de autoridade. O vídeo foi, pasmem, publicado nas redes não em conta particular, mas pela Secretaria Especial de Cultura: 

"ao som de uma ópera de Richard Wagner – um compositor favorito dos nazista –, Alvim parafraseou um trecho completo de um discurso de Goebbels proferido em 1933 para a classe teatral da Alemanha: 'a arte brasileira da próxima década será heróica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa [...] ou então, não será nada'. Goebbels, em seu discurso havia dito: “A arte alemã da próxima década será heróica, será ferrenhamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande pathos e igualmente imperativa [...] ou então não será nada.1’”

Há uma deliberada propaganda de cunho fascista na base do governo atual, que beira o ridículo mas não é suficiente para despertar nas pessoas uma rejeição necessária para acabar com ela (e com o governo!). A proximidade do presidente com Israel é figurativa, para agradar uma horda de ignóbeis que associa aquele país com sítios e acontecimentos bíblicos. Certamente desconhecem o que ocorreu na história dos ancestrais e, menos ainda quem foi Goebbels e o que ele significa em termos de catástrofe humanitária e histórica.  Voltando à cultura nos perguntamos: mas será que nesse (des)governo essa situação ainda pode piorar? Há dúvidas pois a indicada para assumir o posto no lugar de Alvim deve ser a atriz Regina Duarte: 

A nomeação da atriz para a pasta é controversa mesmo dentro do meio artístico por conta do perfil de Regina, que é associada à defesa de pautas conversadoras na política e medidas neoliberais na economia. Ao longo de 2019, ela fez diferentes postagens nas redes sociais em que defendeu o presidente Bolsonaro e ministros como Sérgio Moro, da Justiça e Segurança Pública, e Paulo Guedes, da Economia… … A documentarista Debora Diniz se somou às reações críticas, afirmando que 'personagem e criatura se confundem na adoração que ela devota ao presidente Bolsonaro. Ela é a matéria que incorpora a libido do poder patriarcal. Uma mulher em submissão, encantada pela rede social.'  2

Uma figura que ao se encontrar com o ainda candidato à presidência da república demonstrou completa falta de empatia pelo social e humano, além de um julgamento raso e imbecilizado. Para tal veja sua fala em 2018 3:

Foi há uns dois ou três meses. Eu estava no armário, e meu filho mais novo começou a me contestar: já que sempre fui uma pessoa democrática, aberta, justa, como eu podia me fechar no conceito de que Bolsonaro é bruto, tosco, ignorante, violento. Você já chegou perto dele?" Respondi: "Não preciso me aproximar, sinto que é o candidato da raiva, da impotência, do ódio, contra a corrupção e não quero votar no emissário da raiva'. Mas, quando conheci o Bolsonaro pessoalmente, encontrei um cara doce, um homem dos anos 1950, como meu pai, e que faz brincadeiras homofóbicas, mas é da boca pra fora, um jeito masculino que vem desde Monteiro Lobato, que chamava o brasileiro de preguiçoso e que dizia que lugar de negro é na cozinha…

Não podemos ignorar sua postura face aos indígenas, que prova insensibilidade, falta de perspectiva humana e desejo de supremacia. O movimento indígena sempre foi por ela (Regina Duarte) criticado, especialmente no que concerne à questão da demarcação de terra. Nisso  fecha com os ruralistas, afinal é casada com um pecuarista, Eduardo Lippincot que atua no ramo há mais de 40 anos e juntamente com a indicada à secretaria de cultura tem livre trânsito nos espaços reservados ao poder e prestígio do agronegócio no Brasil:


Apesar de a Secretaria Especial de Cultura não ter ligação com demandas de reconhecimento e demarcação de terras indígenas, entidades que acompanham o tema se mostram críticas à nomeação da atriz para o cargo. 'A gente lamenta isso e acha que esse tipo de postura [dela] em nada vai contribuir pra cultura no Brasil e tampouco pra questão indígena, porque ela vai respaldar um governo que é contra as demarcações e os direitos indígenas. A nomeação dela vai significar simplesmente um reforço nessa postura extremamente preconceituosa e de ódio que está existindo no Brasil', avalia o secretário-executivo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Eduardo Cerqueira de Oliveira. 4




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