POLIS

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O projeto nasce com foco no comportamento político nas sociedades contemporâneas e nos efeitos dos movimentos sociais e políticos atuais sobre as liberdades e processos emancipatórios, bem como seus impedimentos em escala local, nacional e global. Tem por objetivos o desenvolvimento de um campo interdisciplinar de reflexão e prática investigativa e divulgadora, reunindo debates em torno de questões como: preconceito, racismo, sexismo, xenofobia, movimentos sociais, violência coletiva social, relações de poder, movimentos emancipatórios de povos e nações, valores democráticos e autoritarismos, laicidade, análises de discursos e ideologias, de universos simbólicos e práticas institucionais. Nessa perspectiva, o Polis atua desde sua criação formal em 2013, como projeto de extensão e em 2015 como Blog para divulgação e atualização.

terça-feira, 23 de março de 2021

Golpe militar em Mianmar: Os ditadores e a dama da paz

 

                                                 Protestos por democracia em Mianmar Wikimedia Commons/Reprodução 





A população de Mianmar se mobiliza em todo o país para dar um fim ao sangrento golpe perpetrado pelos militares em 1º de fevereiro. Dispostos a lutar pela recuperação da democracia perdida para o golpe, milhares de manifestantes marcham pelas ruas de Yangon, capital econômica do país, e na cidade de Mandalay, há dias sob forte repressão exercida pela junta militar golpista. Os mesmos militares, que há décadas comandam uma ditadura sanguinária intermitentemente, não aceitaram a vitória clara da oposição nas últimas eleições de novembro de 2020. O partido Liga Nacional para a Democracia, liderado pela Prêmio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi saiu vitorioso mas ficou pouco tempo no poder, sendo destituído pelos militares derrotados no pleito. Aung San continua detida juntamente com o presidente eleito Win Myint e outros líderes partidários por meio de alegações falsas e sem respaldo legal. Os militares golpistas são os mesmos que transformaram Mianmar em uma das mais pobres nações do planeta, com um crescimento vertiginoso de várias mazelas: aumento do trabalho infantil, decadência econômica e perseguição política generalizada. O povo birmanês contava com mudanças que poderiam vir com o novo governo por ele escolhido nas urnas, principalmente pela participação de Aung San na configuração da equipe do presidente eleito. O partido militar, grande derrotado nas últimas eleições, se recusou a aceitar os resultados e ter que abrir mão de seus privilégios, bem como do controle absoluto do país. A história já mostrou aos birmaneses o que significa esse controle: repressão da população, prisão arbitrária de políticos e religiosos que se manifestem contra desmandos e corrupção.  



                          Aung San Suu Kyi, 75, é a principal figura política do Mianmar. 

                 Ela já ganhou um Prêmio Nobel da Paz por sua postura não-violenta. 

                 Martin Schultz via Wikimedia Commons/Reprodução(1) 



Aung San continua sendo a esperança dos birmaneses para se somar ao combate à ditadura militar. A mando dos golpistas,  manifestantes pacíficos tem sido atacados com armas letais e muitos dos que sobrevivem aos ataques são feitos prisioneiros sem qualquer chance de defesa. Diariamente nas ruas das grandes cidades desde o dia do golpe, manifestantes sofrem a repressão sistemática com tiros e ocultação de pessoas desaparecidas. A Comissão das Nações Unidas para os Direitos Humanos (CNUDH) calcula que 138 pessoas, entre elas também crianças, foram mortas pelas forças de repressão, enquanto a Associação de Assistência a Prisioneiros Políticos (AAPP) calcula que esse número chega a pelo menos 261 pessoas. As forças de segurança espalham o caos por todo o país com o aumento da brutalidade no confronto com os manifestantes. "Mais de 2.100 pessoas, incluindo jornalistas, manifestantes, ativistas, oficiais do governo, sindicalistas, escritores, estudantes e civis foram detidos no meio da noite, de acordo com a ONG Assistance Association for Political Prisoners (AAPP)”.(2)  



Mianmar (antiga Birmânia) é um país do sudeste asiático que faz fronteira com a Índia, Bangladesh, China, Laos e Tailândia. Há mais de 100 grupos étnicos na região. Juliana Vitória/Guia do Estudante/Reprodução (3)



Antonio Guterres, secretário-geral da ONU, e o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken estão entre os vários líderes mundial que condenaram a prisão de Suu Kyi e pediram que os militares "respeitem a vontade do povo". Michelle Bachelet, alta comissária de Direitos Humanos da instituição, afirmou estar “'chocada' com a situação de Mianmar e com os 'ataques documentados contra equipes médicas de emergência e ambulâncias que socorrem os feridos'. Bachelet afirmou que, em alguns casos, as prisões constituem desaparecimentos forçados, e pede a libertação imediata de todos que foram presos de forma arbitrária".(4) Motivações políticas que infelizmente se sobrepuseram a questões humanitárias devem ter levado os países membros do Conselho de Segurança da ONU a condenar a violência em Mianmar, no entanto, sem reconhecer que de fato houve um golpe. Com essa omissão, A ONU erra e perde mais uma vez a chance de evitar o ocaso da frágil democracia birmanesa.


Antonio C. R. Tupinambá

Fortaleza, março de 2021.

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1)  Diaz, L. Mianmar: entenda o golpe de Estado e a história do país. Disponível em: <https://guiadoestudante.abril.com.br/atualidades/entenda-o-que-esta-acontecendo-no-myanmar/https://guiadoestudante.abril.com.br/atualidades/entenda-o-que-esta-acontecendo-no-myanmar/>. Acesso em mar. 2021.

2) Regan, H.; Yeung, J. Militares estão matando manifestantes em Mianmar; entenda o que acontece no país. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/2021/03/16/militares-estao-matando-manifestantes-em-mianmar-entenda-o-que-acontece-no-pais>. Acesso em: 16 mar. 2021.

3) Diaz, L. Mianmar: entenda o golpe de Estado e a história do país. Disponível em: <https://guiadoestudante.abril.com.br/atualidades/entenda-o-que-esta-acontecendo-no-myanmar/https://guiadoestudante.abril.com.br/atualidades/entenda-o-que-esta-acontecendo-no-myanmar/>. Acesso em mar. 2021.

4) Mianmar: Ao menos 54 pessoas morreram em protestos contra golpe militar, afirma ONU. <https://www.brasildefato.com.br/2021/03/05/mianmar-ao-menos-54-pessoas-morreram-em-protestos-contra-golpe-militar-afirma-onu>. Acesso em: 16 mar. 2021.

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