POLIS

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O projeto nasce com foco no comportamento político nas sociedades contemporâneas e nos efeitos dos movimentos sociais e políticos atuais sobre as liberdades e processos emancipatórios, bem como seus impedimentos em escala local, nacional e global. Tem por objetivos o desenvolvimento de um campo interdisciplinar de reflexão e prática investigativa e divulgadora, reunindo debates em torno de questões como: preconceito, racismo, sexismo, xenofobia, movimentos sociais, violência coletiva social, relações de poder, movimentos emancipatórios de povos e nações, valores democráticos e autoritarismos, laicidade, análises de discursos e ideologias, de universos simbólicos e práticas institucionais. Nessa perspectiva, o Polis atua desde sua criação formal em 2013, como projeto de extensão e em 2015 como Blog para divulgação e atualização.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

SOBRE PESSOAS E LUGARES DISTANTES -- EDIÇÕES PLEBEU GABINETE DE LEITURA -- FORTALEZA (CE) 2022

 


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PREFÁCIO



Sinto-me particularmente honrado e feliz por prefaciar este trabalho, mesmo de maneira muito sucinta e rápida, considerando toda a gama de temas que este livro aborda. Diria desde já que se trata de um livro de grande utilidade pública e até de uma salutar “educação de massa”, visto que a desinformação e o império das “notícias falsas” são onipresentes nos dias de hoje, muito mais, infelizmente, do que qualquer coisa que possa ser considerada, honestamente, informação "real" e correta. Vindo de uma série de crônicas – muito bem informadas e ilustradas com exemplos muitas vezes tão brilhantes quanto impactantes – de tipo sociopolítico, espalhadas por vários anos de observação detalhada do que está acontecendo em nosso mundo, este livro é um caminho e um guia para não se deixar enganar pelas análises jornalísticas atuais, da mídia fatalmente subserviente ao "politicamente correto" e aos ditames daqueles de quem depende sua sobrevivência financeira. Estamos aqui, digo-o sem hesitar, perante uma obra de saúde pública, à qual desejo todas as divulgações e traduções possíveis, tanto esse gênero de escrita, corajosa, direta, expondo sem maquiagem as suas convicções e posições, quer as compartilhemos ou não, é raríssimo hoje em dia.

Em grande parte inspirado pelo movimento intelectual – e político – de Chomsky, o livro fornece informações valiosas sobre a leitura da atualidade e de suas várias "versões". Informações-chaves que, sem dúvida, constituirão muitas armas de resistência ideológica, cognitiva e analítica às inúmeras maquinações utilizadas massivamente no intuito de fazer incessantes transfigurações da realidade dos acontecimentos que abalam todo o nosso planeta. Assim, o leitor saberá quem são os verdadeiros "Estados-Vampiros", os verdadeiros Estados renegados, os verdadeiros terroristas (Estados), as ideologias reais e os "tipos de leitura" em jogo sobre o que pode ser dito, em particular, acerca da geopolítica global .e suas consequências. Ao longo deste trabalho, não posso deixar de pensar em uma aventura pessoal, conectando-me à própria figura de Noam Chomsky (incrível coincidência!) e que fornece algum tipo de prova adicional – se fosse necessário – de que este livro tenta dissecar, evento por evento e cada tragédia desse mundo. Essa “aventura” deveu-se à iniciativa de um empenhado cineasta canadense, Richard Brouillette, que deu origem à ideia de um documentário que foi produzido em 2007 e concluído – por sorte fazendo-o bem – logo a seguir aos grandes estragos advindos da crise de 2008, em 2010.

Intitulado L’encerclement, la mondialisation dans les rets du néolibéralisme (O cerco, a mundialização nas redes do neoliberalismo), é um longo documentário, com duração de duas horas. Richard Brouillette reúne uma boa dezena de palestrantes conhecidos por suas posições claras sobre o tema da mundialização, mas também sobre aquelas relacionadas aos jogos da geopolítica global. Cada um teve cerca de vinte minutos de apresentação para explicar e esclarecer seus pontos de vista. Metade desses palestrantes estava do lado dos argumentos "a favor" da mundialização neoliberal, e a outra metade do lado "contra", entre estes: Noam Chomsky, David Suzuki, Susan Georges, Normand Baillargeon, Bernard Maris, eu e, se não me falha a memória, Naomi Klein.

O resultado final mostrou de forma segura e inequívoca o quanto os argumentos do "a favor" eram muito mais de estilo jornalístico do que realmente intelectuais, de mau gosto, repetitivos, mil vezes refeitos, redundantes, com suporte extremamente fraco... beirando a ignorância… ainda que econômica. O filme mostra, acima de tudo, assim como o presente livro explica quase do início ao fim, em que medida este tipo de "novidade" da "globalização feliz” se alimenta desavergonhadamente de clichês os mais banais sobre o que são, ou não, “democracias”, "países civilizados”,“livres”, é claro,  com  seus vínculos irremovíveis com a adesão incondicional (até onde chega o limite da “fé”) às leis do “mercado livre”... (o protótipo sendo, evidentemente, os EUA). E isso é diferente das chamadas "ditaduras" de países desonestos — obviamente todos os países mais ou menos não amigos, não adotados nem amados por Washington - que impedem a liberdade humana fundamental de empreender e comercializar... etc., etc. E isso é diferente das chamadas "ditaduras" de países desonestos – obviamente todos os países mais ou menos não amigos, não adotados nem amados por Washington – que impedem a liberdade humana fundamental de empreender e comercializar... etc. etc.

Em completo contraste, os argumentos daqueles do lado dos “contra” à mundialização neoliberal) pareceriam muito mais baseados em argumentos sólidos, em uma bagagem intelectual muito mais variada, histórica e, epistemologicamente, fortemente apoiada e referenciada, que qualquer espectador sairia disso mais do que convencido do fato de que, nos discursos midiáticos dominantes, econômicos, políticos... até mesmo acadêmicos a "serviço", o tomam por um idiota polimorfo!

Mas, e é isso que ecoa com este livro, é fato que, da França, passando pela Escandinávia e chegando até o Japão, esse documentário recebeu muitos elogios, vários prêmios, vários artigos lisonjeiros em muitos jornais importantes, incluindo, respectivamente, o famoso diário francês e o semanário Le Monde e Le Canard Enchaîné, que o classificaram entre os filmes "imperdíveis". Em contraponto absoluto, nenhum cinema norte-americano ou canadense (exceto clubes privados e algumas cinematecas nos dois países) o apresentou, nenhuma palavra na mídia, nenhum canal de televisão nem sequer o mencionou. Quando sabemos, o mesmo aponta este livro, quem é dono da mídia, dos canais de televisão, dos cinemas, das distribuidoras... entendemos rapidamente o que será ou não mostrado, dito, levado ao conhecimento das massas. Como Noam Chomsky explicou repetidamente, a estratégia de "silêncio" sobre o que não queremos que as pessoas saibam é formidavelmente eficaz: "não falamos sobre isso", principalmente na televisão, isso “não existe. Não!” Essa experiência foi, para mim, uma magistral demonstração e prova a posteriori, realmente vivida, do que este livro tenta mostrar: um dos tipos de estratagemas, entre aqueles usados ​​pelos verdadeiros países desonestos, para mentir... nem que seja "por omissão", e fazer outros países, os "rebeldes", passar por mentirosos.

Aqui está uma das grandes utilidades, entre tantas outras, deste trabalho tão sério e meticuloso do meu amigo Antonio Caubi Tupinambá e seus colaboradores: desmantelar e denunciar, exemplo após exemplo, os mecanismos tortuosos pelos quais, parafraseando Chomsky, se “fabrica”, hoje em escala mundial, o “consentimento” passivo das massas que este poder, doravante não só global mas orwelliano, orquestrado a partir de Washington em particular, quer que o mundo engula sem ter o direito de (ou saber) discutir tal poder. Estamos na presença de uma espécie de "falsa consciência" (no sentido marcusiano do termo) mundialmente organizada, imposta, multiplicada, massivamente retransmitida... muitas vezes até mesmo por aqueles que são suas vítimas. 

Mais uma vez, repito que este livro é uma obra de saúde intelectual pública de cérebros e consciências. Mais do que nunca, o que ele denuncia deve ser retomado e gritado em voz alta e clara. É sobre a maneira como cada um de nós forma (ou acredita que forma) uma opinião ou uma consciência do que é o nosso planeta e do que estamos fazendo nele. Para concluir, gostaria de comentar um dos exemplos mais odiosos desses mecanismos de fabricação da falsa consciência: pode-se resumir em uma palavra, tão diluída e tão dramática: aquela pela qual designamos essa nova espécie humana vagando, errante e em desespero, por todos os lugares, chamada de “migrantes”. Não passa um dia sem que nossos ouvidos sejam alcançados pelos sons estridentes desses movimentos das multidões cada vez maiores, chamadas de "migrantes", que tentam de mil e uma maneiras, cada uma mais trágica que a outra, escapar da angústia, do terror, da morte, das carnificinas organizadas, de guerras por procuração, da devastação de multinacionais, da fome extrema, da decadência absoluta ... Eles enfrentam muros e muralhas, arame farpado e minas, balas de metralhadoras e cercas... para, como dizem ... “migrar". Mas existem apenas algumas espécies animais que migram, nenhum humano o faz. Alguns humanos podem emigrar, circular, transumar, viajar ... mas “migrar” não! Estamos perante o mais sinistro eufemismo público da história: esses pobres coitados, destituídos de tudo e ameaçados até na carne e na vida, não migram. Eles fogem! Eles fogem de condições tornadas além do desumano pela voracidade das multinacionais, pelas guerras petroimperialistas (o caso de todo o Oriente Médio, por exemplo), pelas desigualdades insuportáveis, pela ganância dos dominantes. Não se pode chamar isso de “migrar”. Mas se faz isso por um mecanismo que o meu irmão argelino Nobel de Literatura, Albert Camus, já havia denunciado na sua época: “Nomear mal é contribuir para a infelicidade da humanidade”. Hoje em dia, essa falsa nomeação se tornou um instrumento de desinformação e deformação sistemática da realidade: em vez de  chamar essas pessoas pelo que realmente são, isto é, verdadeiros "resíduos mortificados vivos", secretados por um mundo assassino de ordem econômica, por suas múltiplas consequências, por suas guerras de expansão infinita, se utiliza de um eufemismo asqueroso "tranquilizador", fazendo-os passar por caprichosos resmungões insatisfeitos com sua situação original, invejosos do sucesso alheio; "migrante" versus Disneylands e Eldorado sonhados, como crianças escalando as prateleiras para as caixas de doces.

Albert Camus teria reescrito seu livro Homme révolté (O homem revoltado)! Esses pobres, quase "restos humanos ambulantes", não são e nunca foram "migrantes": eles não são mais que vítimas das consequências das ações (pilhagem, devastação climática e ecológica, guerras, saques de terras e mares…) dos partidários desta ordem mundial neoliberal agora tão insustentável quanto criminosa, cujos governantes são tão loucos e cruéis quanto insaciáveis. Aqui está um exemplo do que o conteúdo deste livro estaria longe de negar. Mas, acima de tudo, tem o mérito de nos mostrar o porquê!

Desejo a este livro e a seu autor (e colaboradores) todo o sucesso e a ampla divulgação que ele merece. Mal posso esperar por traduções para o maior número de idiomas possível.


Dr. Omar Aktouf, PhD.

Professor Catedrático de Gestão econômica

HEC Montreal (École des Hautes Études Commerciales de Montréal — Canada)


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