Há
quase uma década surgia um novo grupo ou uma elite entre países
emergentes formado pelo Brasil, Rússia, Índia e China, que passou a ser
chamado de “Bric”. Hoje, com a adesão da África do Sul, o bloco cresceu e
viu ser acrescentado um “s” a sua sigla. A
primeira visita oficial da presidente Dilma Rousseff à Índia, onde
participa da IV Cúpula do Brics, não tem importância apenas simbólica.
Na pauta da visita estão assuntos vitais para os países integrantes do
bloco, como, por exemplo, a análise da crise mundial, seu impacto no
comércio e a criação de um banco de desenvolvimento constituído com
capital dos cinco países e que financiaria projetos nos próprios
integrantes do Brics e em outras nações em desenvolvimento. A cúpula
reúne, portanto, os líderes daquelas consideradas as principais
economias emergentes do mundo. Para se sentir a importância crescente desse grupo no cenário econômico mundial, basta observar o grau de sua participação na expansão da economia global em 2012. Segundo
o FMI, os países que formam o Brics serão responsáveis, neste ano, por
cerca de 56% da economia mundial. A ideia de criar um banco de
desenvolvimento reflete essa importância sem, necessariamente,
comprometer a participação dos países integrantes em organismos
multilaterais, aos quais essas economias emergentes ainda reivindicam
uma maior presença e poder de voto nas grandes decisões. O crescente
peso econômico do Brics ratifica a tese da mudança do centro de
gravidade da economia mundial. Demografia,
potencial de mercado e outros fatores justificam o tratamento especial
ao grupo. Trata-se de um mercado que soma mais de 800 milhões de novos
consumidores e um potencial para competir com os demais grupos
econômicos. Vale a pena salientar que durante
sua visita à Índia, a presidente Dilma debaterá, além desses temas
eminentemente econômicos, assuntos de interesse bilaterais nas áreas
científicas, tecnológicas, educacionais, de igualdade de gêneros e de
cooperação. Isso reflete o reconhecimento, por parte dos dirigentes, da
necessidade de atenção a outras questões que transcendam os interesses
econômicos, especialmente aquelas de natureza cultural que pautam
acordos internacionais. Dentro do Brics, temos o exemplo do caso
indiano, no qual ainda se identificam a necessidade de investimento e o
respeito a pequenas comunidades produtivas, comuns durante o movimento
da luta pela independência do império britânico e que ainda hoje
funcionam como bastiões da cultura local. Deve-se ficar atento a
questões de natureza cultural e social no âmbito dos países do bloco.
Essas questão se relacionam a políticas consideradas
“culturalmente corretas” e se ocorrem em respeito às comunidades
locais, ou se, ao contrário, trata-se de simples estratégias para o
combate a eventuais resistências a projetos dominantes. Apesar
da extraterritorialidade de modelos econômicos, a condição humana
demanda seus significados e seus sentidos. Não se pode esquecer dos
efeitos radicalmente desiguais dessa nova condição globalizante que pode
a ela se sobrepor.
Antonio Caubi Ribeiro Tupinamba
Professor e Psicólogo
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