Birmaneses protestam em Tóquio contra militares de Mianmar
e pela libertação de Aung San Suu Kyi.
O país pode ser chamado de Birmânia, Burma ou Mianmar, pois para a junta militar, o que importa é destruir o que resta de sua democracia e manter seu controle a qualquer custo. A “terra dourada”, antes conhecida por suas riquezas naturais e relativa paz social, já não recebe qualquer benefício resultante do esforço e do trabalho excessivo de sua população, que quase escravizada, é mantida à margem das decisões política. Os militares, que permaneceram décadas à frente do país, sempre comandaram ditaduras sanguinárias e novamente não aceitaram a vitória clara da oposição nas últimas eleições de novembro de 2020. O partido "Liga Nacional para a Democracia", liderado pela Prêmio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, não pode, portanto, sentir o gosto da vitória por muito tempo. As Forças Armadas anunciaram na madrugada desta segunda-feira (1º/02) a tomada do poder no país asiático. O golpe se consumou com a prisão da líder de facto, Aung San Suu Kyi, e outros membros importantes do seu partido no comando do governo, juntamente com o presidente eleito Win Myint. Antes de ser detida pelos algozes da ditadura que se reinstala em Mianmar, Suu Kyi escreveu afirmando que as ações dos militares colocaram o país novamente sob uma ditadura e pediu aos partidários apoiadores para não aceitar esse desfecho e para que os correligionários protestem contra esse novo golpe. A história dos Estados Unidos através da CIA em Mianmar remonta aos anos 1950 quando mantinha seu apoio ao tráfico de drogas como um bastião na luta contra a China comunista, ajudando a converter o “Triângulo de Outro" (Tailândia, Laos e Mianmar) no maior produtor mundial de ópio. As conturbadas relações diplomáticas entre os dois países se aprofundaram nos períodos dos subsequentes golpes militares que enfraqueceram a democracia local e tornaram a vida dos opositores e da população em um verdadeiro inferno. Após este mais recente golpe militar, Os Estados Unidos voltam à cena e ameaçam reimpor sanções ao país. O governo estadunidense recém eleito pensa em reinstituir as sanções suspensas após 2011, quando Mianmar havia saído da ditadura militar que já durava décadas. O presidente Joe Biden classificou as ações do Exército birmanês como um ataque direto à transição rumo à democracia e ao Estado de Direito que vinha se delineando em Mianmar. A transição à democracia acordada após 2011 que possibilitou a suspensão de sanções contra Mianmar mal completou uma década. No entanto, o fim desses esforços para a transição democrática pode levar o governo dos Estados Unidos e de outros países ocidentais a retomar as sanções que façam com que os militares venham a suspender o golpe. Sanções que também, mais uma vez, trarão sofrimento a uma população já massacrada e sem esperança pela permanente situação de miséria do país. A experiência da maior líder política de Mianmar com as agressões dos militares contra ela e seu povo que se testemunha em 2021, já vem da década de 1980 com seu ápice em 1990, através do golpe militar, que proibiu a organização e atuação de qualquer partido de oposição ao regime. Como consequência da sanguinária atuação das forças armadas nesse golpe de 1990, os EUA forçaram um isolamento diplomático do país. Devido a seu histórico de repressão direcionada principalmente contra os civis, como ocorreu em 1988 com o brutal ataque a estudantes durante as manifestações pró-democracia, os EUA retiraram, em protesto, seu embaixador do país, que ficou isolado diplomaticamente. Dois anos depois, a Casa Branca adotou sanções econômicas em desagravo às eleições de 1990, quando apesar da vitória da líder oposicionista, a cúpula militar não reconheceu o resultado. Os mesmos militares que transformaram Mianmar, com seus subsequentes golpes, em uma das mais pobres nações do planeta, com um crescimento vertiginoso de várias mazelas: aumento do trabalho infantil, decadência econômica e perseguição política generalizada. O povo birmanês contava com mudanças que poderiam vir com o novo governo por ele escolhido nas urnas; mudanças essas asseguradas pela participação de Aung San na configuração da equipe do presidente eleito. O partido militar foi o grande derrotado nas últimas eleições e se recusou a aceitar os resultados, pois significaria abrir mão de seus privilégios e do controle absoluto do país. A experiência já mostrou aos birmanêses o que significa esse controle: prisão arbitrária de políticos e religiosos que se manifestem contra seus desmandos, negócios espúrios e corrupção. Apesar da má reputação internacional por ações políticas em detrimento da minoria Rohingya no país, Aung San continua sendo uma referência para os birmanêses e a única esperança de luta a favor da população no combate à ditadura militar que afronta diretrizes de órgãos internacionais, abriga abertamente patrocinadores do narcotráfico e leva o país à ruína. Todos os que torcem pela vitória da democracia em Mianmar acreditam que os apelos do partido de Aung San Suu Kyi para a imediata libertação de sua líder sejam atendidos imediata e incondicionalmente pelos golpistas. Espera-se que a veemente condenação internacional somada às ameaças vindas de Washington de adotar sanções contra o governo ilegítimo e uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU para tratar do tema pressionem os militares a recuarem e a devolver o poder aos legítimos representantes do povo birmanês escolhidos nas urnas. "O Exército tem que reconhecer o resultado das eleições de novembro!”
Antonio C. R. Tupinambá
Fortaleza, 02 de fevereiro de 2021.
Nenhum comentário:
Postar um comentário