POLIS

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O projeto nasce com foco no comportamento político nas sociedades contemporâneas e nos efeitos dos movimentos sociais e políticos atuais sobre as liberdades e processos emancipatórios, bem como seus impedimentos em escala local, nacional e global. Tem por objetivos o desenvolvimento de um campo interdisciplinar de reflexão e prática investigativa e divulgadora, reunindo debates em torno de questões como: preconceito, racismo, sexismo, xenofobia, movimentos sociais, violência coletiva social, relações de poder, movimentos emancipatórios de povos e nações, valores democráticos e autoritarismos, laicidade, análises de discursos e ideologias, de universos simbólicos e práticas institucionais. Nessa perspectiva, o Polis atua desde sua criação formal em 2013, como projeto de extensão e em 2015 como Blog para divulgação e atualização.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Participação nos Encontros Universitários - UFC 2017

A equipe Pólis, RINEPE e Revista de Psicologia, sob orientação do Prof. Dr. Caubi Tupinambá e da psicóloga e doutoranda Raquel Libório, esteve presente na edição de 2017 dos Encontros Universitários da Universidade Federal do Ceará, ocorrido de 8 a 10 de novembro.

Os bolsistas da equipe apresentaram trabalhos no XXVI Encontros de Extensão e II Encontro de Iniciação Acadêmica, com os seguintes temas:

- 10 anos da RINEPE: publicação e lançamento do livro "Liderança e empreendedorismo em perspectiva intercultural"

Apresentado pelo bolsista Italo Rafael (Administração), em 10 de novembro.

- Adaptação da Escala de Controle Sociopolítico para o Brasil no âmbito do Projeto Pólis

Apresentado pela bolsista Kelviane Freitas (Psicologia), em 09 de novembro.

- Indicadores de Desempenho da Revista de Psicologia da UFC em formato eletrônico.

Apresentado pelo bolsista Charles Oliveira (Psicologia), em 08 de novembro.

- Interface do programa RINEPE (Rede Internacional de Estudos  Pesquisas em Liderança e Empreendedorismo) com disciplinas da graduação e pós-graduação

Apresentado pela bolsista Leticia Silva (Administração), em 10 de novembro.

- Um estudo organizacional sobre Orientação Humana intra e extra grupal e sua relação com a satisfação no trabalho

Apresentado por Lucas Alves (Psicologia), em 09 de novembro.


Abaixo se encontram os registros fotográficos do evento





quarta-feira, 8 de novembro de 2017

A visita da pensadora




Por Gisele Pereira
historiadora e cientista da religião, professora do Ensino Básico; integrante da equipe de coordenação de Católicas pelo Direito de Decidir

A filósofa Judith Butler esteve no Brasil em 2015 para participar do I Seminário Queer, no Sesc Vila Mariana, em São Paulo. De volta ao País, a repercussão de sua vinda não ficou restrita ao meio acadêmico e militante familiarizado com a teoria queer. Antes mesmo de sua chegada, a norte-americana teve a oportunidade de experimentar o que costumamos chamar de tempos sombrios.
Butler é professora dos departamentos de Retórica e de Literatura Comparada e codiretora do Programa de Teoria Crítica da Universidade da Califórnia. A pensadora retornou ao Brasil para participar de dois eventos, com temáticas distintas.
O primeiro foi a conferência “Por uma convivência democrática radical: Israel, Palestina e Coabitação Plural”, realizado na segunda-feira 6 pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o Instituto de Cultura Árabe (Icarabe Brasil) e a Boitempo Editorial, com o apoio de CartaCapital. No evento também foi lançado sua obra “Caminhos divergentes: Judaicidade e crítica do sionismo”.
Assim que foi anunciada a conferência, a filósofa tornou-se alvo da fúria desvairada que paira sobre nós e que tentou transformá-la em persona non grata em nossas terras pretensamente democráticas e “amigáveis”.
Não houve êxito em impedir sua vinda. Em poucos minutos esgotaram-se as inscrições para ouvi-la no teatro Marcos Lindenberg, na Unifesp. A hostilidade manifestadas por grupos conservadores e reacionários nos serve, porém, de alerta e reflexão a respeito dos rumos que querem determinar às nossas vidas. Hostilidade que se tornou lugar comum na censura a exposições de arte, currículo escolar e agora na tentativa de impedir que uma das mais importantes intelectuais de nossa época pudesse sequer pisar em nossas terras e ser ouvida por quem tivesse interesse.
Está aí um componente perigoso ao qual devemos nos atentar. Para estes grupos, não basta boicotar uma exposição ou uma palestra. É preciso proibi-las, censurá-las. Fazem uso intimidatório da censura também para nos amedrontar e matar nossa vontade de viver e de criar. Uma concepção medieval de caça às bruxas, onde livros e indivíduos eram queimados em nome de crença e moral religiosas estabelecidas como lei.
De acordo com as palavras da própria Butler, “a postura de ódio e censura é baseada em medo, medo de mudança, medo de deixar os outros viverem de uma maneira diferente da sua.”
Ao contrário daquilo que supõe a turba conservadora, que sequer se dedicou minimamente a conhecer seu pensamento, Butler reflete não apenas em torno das questões de gênero e da luta feminista. Ética, judaicidade e efeitos psíquicos do poder social são apenas algumas das temáticas sobre as quais ela se debruça.
Para um auditório cheio de espectadores ávidos em absorver suas ideias, Butler falou sobre os conflitos políticos, sociais, religiosos e históricos entre Israel e Palestina. Propôs o estabelecimento de um Estado binacional entre as regiões. No teatro, a pensadora propôs a seguinte reflexão: nenhum grupo deve ser destituído de seus direitos. É preciso haver a possibilidade da coabitação por meio da dissolução do poder colonial. Não pode haver exercício de poder e de violência sobre o sofrimento de um povo.
Para além dos conflitos no Oriente Médio, podemos trazer a mesma reflexão para a realidade de nosso País, cuja história é demarcada pela colonização econômica, política e religiosa, que incorpora o racismo, o patriarcado e a intolerância religiosa em sua prática. Também é Butler quem nos leva a entender o valor desigual das vidas humanas dentro desse sistema. Na lógica capitalista, racista e patriarcal, algumas vidas importam, enquanto outras podem ser descartadas.
O segundo evento do qual Butler participou no Brasil foi o seminário internacional “Os fins da Democracia: Estratégias Populistas, Ceticismo sobre a Democracia e a Busca por Soberania Popular”, organizado pela Universidade de São Paulo (USP) em colaboração com a Universidade da Califórnia, e realizado no Sesc Pompeia entre 7 e 9 de novembro.
O evento no Sesc Pompeia igualmente dialoga com os tempos de democracia frágil vividos atualmente no Brasil, sem perder de vista o cenário latino-americano de constante esgarçamento das lutas populares em detrimento de agendas imperialistas e colonizadoras que se utilizam de uma ampla gama de opressões para pautar os rumos das nações.
Agendas que promovem e se sustentam no medo à igualdade. Não a igualdade liberal, indistinta frente às diferenças de necessidades e condições. Mas a igualdade que reconhece a legitimidade das diferenças. Este medo dos “corpos movendo-se livremente dentro de uma democracia” é também o medo da própria democracia, que, como afirmou Sérgio Buarque de Holanda, “foi sempre um lamentável mal entendido” em nossas terras.
Na pseudodemocracia atual, o ato de “manifestar sua opinião”, ainda que ela fira direitos fundamentais de diversos grupos sociais, é defendido como “direito”. Reivindicar projetos autoritários e excludentes de poder como solução política e moral de alguma maneira parece encaixar-se no que entendem por democracia. Censurar, enaltecer a tortura e a execução sumária de quem ousa pensar e questionar os privilégios também parece caber.
Os gritos de “queimem a bruxa” de manifestantes em frente ao Sesc não são figuras de linguagem. São expressão de quem, dominado pelo medo, não é capaz de conhecer.  E sabemos que a ignorância é a mais forte aliada da tirania.  
De fato se teme o que se desconhece e é preciso conhecer para superar o medo. Um paradoxo que precisa ser encarado. Como diz Butler:  ''Precisamos ser capazes de abrir nossas mentes para entender com quem co-habitamos no mundo, não para subordiná-los a uma forma de viver, mas para aceitar modos de vida no plural, a complexidade de que somos feitos.''
Só deve temer a igualdade quem na relação desigual sustenta-se no privilégio. E estes são muito poucos.

2º Encontro Sulamericano de Psicologia Política

O Projeto Pólis foi representado pelo seu professor coordenador no 2º Encontro Sulamericano de Psicologia Política promovido pela Universidad Piloto da Colômbia, em Bogotá, no período de 1 a 3 de novembro de 2017.

Para maiores informações sobre o evento, consultar o site oficial no link abaixo

https://2espp.wordpress.com/pagina-de-inicio/


Taller cordinado por el profesor Germán Andrés Cortéz: "La cuidad invisible y construcción del sujeto urbano"




sexta-feira, 29 de setembro de 2017

O massacre aos índios isolados da Amazônia brasileira




O massacre aos índios isolados da Amazônia brasileira
Antonio C. R. Tupinambá
Fortaleza, 27 de setembro de 2017.

Setembro é o mês de comemoração da independência do Brasil. Exatamente neste mês, o povo dono legítimo da terra, ainda remanescente, sofre um dos piores massacres registrados na historia recente da região amazônica. Não por acaso isso ocorre nos dias atuais em um país sem rumo político e em profunda crise moral e institucional. A Fundação Nacional do Índio (Funai), órgão federal que deveria servir para proteger a população originária vem sendo, pouco a pouco, loteada por incompetentes administradores de vocação duvidosa, com viés de exploração em benefício próprio e de seus grupos além de descarado proselitismo a partir da via institucional. Missões evangélicas, pressionam o governo para ter acesso às aldeias e agir para distruir culturas e povos. Na Funai a disputa pela sua presidência é rifada a favor do partido de fundamentalistas evangélicos, o PSC, que jamais atuou em defesa dos índios e apenas busca essa “fatia de mercado humano” para diversificar seus “negócios”, aumentar seus dízimos e poder. Nessas maldades travestidas de religião o céu é o limite. Basta ver os nomes de generais anti-indigenistas indicados pelo “partido" para liderar o órgão.
A pátria que se intitula cristã mostra-se cada vez mais contraditória, muitas vezes cruel e com atitudes de desrespeito e intolerância. Não é apenas nas favelas cariocas entre “traficantes evangélicos” destruidores de dignidade, terreiros e crenças, que essa brutal contradição se materializa. Eventos recentes de ataques a locais e objetos de religiões e cultos de matriz africana em favelas cariocas é a expressão máxima de atitudes nefastas de pessoas delinquentes que ousam se intitular “cristãs”. Reflexo de discursos e ações de setores da população capitaneados, por exemplo, pela aberrante “bancada evangélica” de Brasilia e suas similares em outros níveis de poder local, sejam em assembleias ou câmaras, com iguais comportamentos e ética duvidosos.
Na Amazônia, a exemplo dos demais retrocessos da nação, se testemunhou nesses últimos dias atos destrutivos de “não índios” e “bons cristãos” contra irmãos indígenas, bem no modelo do Brasil colônia, quando esses eram “caçados, adestrados ou escravizados" em nome da igreja e da coroa. Pouco evoluiu ou mudou nesse campo com o passar dos séculos. Torçamos para que movimentos sociais cobrem o respeito à cultura e à vida desses grupos de indígenas que se encontram em desvantagem e, além da fuga, quase nada podem fazer para se defender desses malfeitores e seus ataques em nome de evangelização ou da ganância, ou mais comumente, dos dois.
Muitas tribos ainda relutam em se integrar ao povo que massacrou seus antepassados e deixou na memória coletiva o fantasma da perseguição. Sabe-se pouco acerca desses povos isolados, no entanto é certo que o desejo de assim permanecerem é, muitas vezes, explicado por essa memória dos tempos em que foram explorados e escravizados, mesmo em se considerando a história mais recente da região.
Ações de bandos de “não índios” em ocupação destrutiva adentram, cada vez mais, regiões dantes impensáveis, muitas delas hoje com status de reservas que deveriam ser respeitadas e mantidas à distância. A mão do Estado em forma de construtores de estradas e hidrelétricas, de políticas de loteamento da Funai para partidos suspeitos e anti-indigenistas é determinante para a perpetração impune de tais atos de violência contra os índios. O que se frisa aqui é uma interferência comparável aos atos bárbaros de colonizadores no passado, em versão atualizada e piorada, pois se trata de uma época em que se espera civilidade e respeito a terras demarcadas e protegidas legalmente. Ações que contradizem a pretensa e falaciosa postura cristã da sociedade brasileira, que se vê como sujeito de direitos e, ao mesmo tempo, vê o irmão índio, como objeto a ser manipulado, desrespeitado, expulso e até mesmo assassinado em seu habitat, destituindo-o de sua vida e cultura:
Todos são extremamente vulneráveis a doenças comuns como a gripe ou o resfriado que são transmitidas por pessoas de fora e para as quais os índios não apresentam resistência imunológica: esses são bons motivos para evitar o contato. Mesmo neste cenário sombrio, algumas histórias notáveis de sobrevivência têm surgido. Karapiru, um homem Awá, sobreviveu a um ataque de homens armados e, durante dez anos, morou sozinho, se escondendo na floresta, até que, um dia, ele finalmente fez contato com alguns colonos e agora vive com outros Awá. As tribos isoladas do Brasil devem ser protegidas e terem seus direitos à terra reconhecidos antes que elas, juntamente com as florestas das quais dependem, desapareçam para sempre”. (Os índios isolados. Consultado em 27 de setembro de 2017 em: https://www.survivalbrasil.org/povos/indios-isolados-brasil).


No dia 21 de setembro de 2017 foi a vez dos órgãos da ONU e da OEA denunciarem o massacre a indígenas isolados na Amazônia. Evidenciou-se um aumento da violência contra o povo isolado da região. Testemunha-se, diuturnamente, atos de um governo de legitimidade contestada que estimula o latifúndio, o agro-negócio de qualquer tipo e a qualquer preço, tendo, há pouco e em nome de interesses escusos, planejado a destruição da floresta via decreto. Ainda preza o esvaziamento da Funai e silencia, em cumplicidade, face à atual maldade materializada com incursões e ataques em terras dos indígenas isolados realizados por garimpeiros, produtores e extrativistas de madeira ilegais. Em vez de omissão e cumplicidade com o lado forte e desonesto da população pseudo-cristã, o governo deve tomar para si o compromisso em defender os direitos dos povos indígenas, em ato humanitário, seja este um desafio do tamanho que for.

segunda-feira, 22 de maio de 2017

A CONJUNTURA INTERNACIONAL: GLOBALIZAÇÃO E CONSERVADORISMO

- Palestra de abertura das atividades Pólis 2017

Na última quinta-feira (18/05) o Projeto Pólis: Estudos em Psicologia Politica iniciou suas atividades no ano de 2017 com a palestra intitulada "A conjuntura internacional: globalização e conservadorismo", proferida pelo Prof. Dr. Jawdat Abu El-haj, do Departamento de Ciências Sociais - UFC. O evento contou com a participação da Profa. Dra. Adelaide Gonçalves, do Departamento de História - UFC e Prof. Dr. Caubi Tupinambá, coordenador do Pólis - UFC, ambos na função de debatedores.

Na ocasião, ocorreu a I Feira de livros do PLEBEU Gabinete de Leitura, coordenado pela Profa. Dra. Adelaide. A feira ofertou diversas livros a preços populares.

O evento ocorreu das 14:00 as 17:00h, no auditório Raquel de Queiroz, Departamento de Psicologia - UFC. Foi aberto ao público e contou com a participação de diversos acadêmicos e pessoas da comunidade. 

O Projeto agradece a todas(as) que participaram.









quinta-feira, 11 de maio de 2017

U POPULU CORSU ESISTE




Ilha turística que tem o cognome de Ilha da Beleza (Île de Beauté), a Córsega está localizada no Mar Mediterrâneo, sendo considerada uma coletividade territorial, segundo denominação do governo francês. A ilha é mais conhecida por suas belezas naturais e como destino de turistas continentais europeus, principalmente franceses. Historicamente conhecida como o berço de Napoleão Bonaparte foi independente por um breve período de tempo, nomeadamente entre 1755 e 1769, após ter sido parte da República de Gênova. A influência cultural italiana é inegável, inclusive na língua nacional, o idioma corso. Mas nem tudo são flores na ilha de belezas e natureza exuberantes. Com sua imensa extensão em praias de águas azuis, reservas e parques ecológicos, uma história que data de antes do Império Greco-Romano e cidades que ainda preservam sua arquitetura medieval, vive, a exemplo de outras regiões europeias, uma experiência e história de separatismo próprias.
No caso da “nação" corsa, os motivos para o movimento separatista é muito mais uma questão de natureza cultural do que econômica. Há por exemplo, a atitude governamental com relação ao idioma local que irrita os políticos e a população envolvida na questão independentista ou autonomista. O idioma corsa sequer é ensinado nas escolas e se encontra entre aqueles que correm o risco de serem extintos. Há dois movimentos locais que buscam mudanças específicas quanto ao status político da Córsega, que também se diferenciam em relação ao que apregoam acerca de métodos de luta.
O primeiro deles, autonomista, é representado pelo U Partitu di a Nazione Corsa (Partido da Nação Corsa, PNC), que defende uma maior autonomia regional. O segundo, Corsica Libre, defende a independência total da Córsega.
Para os jovens corsas que se identificam com a causa da independência do seu “país”, as iminentes eleições para a presidência da França, levando-se em conta os dias que a antecederam, não significava muito. Esses jovens nacionalistas apresentavam muito mais uma profunda indiferença às eleições presidenciais, pois para eles, tratava-se de um acontecimento distante, em um país distante, alheio a seus destinos locais. 

Já há quase sete anos, quando eleições regionais ocorreram na França, a Córsega parecia querer se apresentar como mais uma “nação" oprimida na Europa. Nessa altura, o independentismo, que foi se reafirmando com sua denominação "Córsega livre”, conseguiu quatro deputados e 9, 85% dos votos.

                            Placas bilingues (Francês e Corsa) com os letreiros em francês pixados.

Para os que fazem parte deste grupo de simpatizantes e favoráveis à viabilização de sua independência da França, a vida, nos seus diversos formatos, corre em uma ilha nação sem Estado. Uma ilha sob domínio francês desde o século XVIII, à revelia do movimento existencial e identidade de sua população, que continua sendo apresentada por seus representantes oficiais como uma região-balneário anexa à França, destino para o turismo continental.

A voz de Paul Salort, presidente da principal associação de estudantes da universidade local resume uma indiferença generalizada entre os jovens que se intitulam nacionalistas e simpatizantes, na Córsega. Segundo o estudante, o ceticismo sobre o papel do próximo presidente na questão corsa está por trás dessa indiferença e da promessa de muitos em anular o voto ou sequer comparecer às urnas. Não por menos, os resultados das eleições deste último domingo, dia 7 de maio de 2017, refletiram tanta indiferença na ilha, com uma clara divisão nos seus resultados: os dois candidatos que chegaram ao segundo turno, Emmanuel Macron e Marine Le Pen em um quasi ex-aequo, ao lado de uma abstenção que beirou os 36% obtiveram, respectivamente, 67.241 (51,48%) e 63.378 (48,52%).

U POPULU CORSU ESISTE: O povo corsa existe (em língua corsa). Frase proferida pelo Ministro Jena-Michel Baylet em 2016 durante sua visita a Ponte Novu: "Há um povo da Córsega…, eu não tenho nenhum problema em afirmar isso” e posteriormente pelo próprio presidente François Hollande ("peuple Corse”) durante sua fala na Assembléia da Córsega em 2 de março de 2017.

terça-feira, 9 de maio de 2017

ELEIÇÕES NA FRANÇA



Emmanuel Macron disputa o segundo turno de eleições na França




Neste domingo a França deve escolher o seu novo presidente. Desde sexta-feira, segundo critérios oficiais, foi encerrada a campanha aberta presidencial. Dois nomes tentam conquistar os eleitores e ,principalmente, o voto de indecisos e daqueles que pretendiam não ir às urnas, uma vez que na França o voto não é obrigatório. De um lado a extrema-direita populista representada por Marine Le Pen e do outro, o candidato de centro-direita Emmanuel Macron. Ambos usaram todas as forças argumentativas para convencer quem é o melhor para a França. No apagar das luzes da campanha  presidencial, hackers tentaram criar uma espécie de Macron-Leaks, para prejudicar o candidato de centro-direita, no entanto, pouco se espera de uma grande mudança ou surpresas nos resultados dessas eleições. Uma virada a favor de Marine Le Pen em função de estratégias obscuras, que por exemplo foram a tônica nas eleições americanas e beneficiaram Trump é improvável. O eleitorado francês, diferentemente do estadunidense, não se deixa convencer facilmente ou mudar de opinião por conta dessas estratégias camufladas, tendo em vista sua formação política e educacional superior a dos colegas americanos. Para Emmanuel Macron isso significa que no domingo, quando sua vitória desejada e esperada o leve a eufóricas comemorações em frente ao Louvre, não possa esquecer que trata-se apenas de uma conquista parcial, reflexo de uma solução encontrada por grande parte dos eleitores para a falta de alternativa. Os “novos eleitores” deliberadamente não querem contribuir com a subida ao posto presidencial da candidata de extrema direita. Desse modo, Macron não assumirá o governo com um cheque em branco em mãos, pois seu programa liberal vai encontrar, desde o início,  grande resistência também dentre muitos dos que colaboraram para a sua vitória.

sexta-feira, 14 de abril de 2017

MASSACRE AOS COPTAS NO EGITO














                                                                                


Dois ataques terroristas a igrejas coptas egípcias em um domingo de abril de 2017 com 44 vítimas fatais deixaram clara a incapacidade do Estado egípcio em coibir a reincidente e cruel agressão islâmica a minorias no país.  O Estado deliberadamente não protege a minoria cristã copta, o que resulta no recrudescimento de sentimentos anti-cristãos entre os muçulmanos. Já há cerca de sete anos em Massa Matrouh, cidade portuária a Oeste de Alexandria, uma turba enfurecida de muçulmanos saiu à deriva depois de um Imam exorta-los a fazer uma limpeza da cidade dos infiéis cristãos. Os coptas são originais daquela região norte-africana e anteriores à invasão árabe-muçulmana do Egito, já tendo sido confundidos com a própria nacionalidade, ou seja, houve um tempo em que ser egípcio era o mesmo que ser copta e cristão. A saga interminável desse povo teve início no século VII. Os coptas vêm sendo vítimas de um processo de lenta e progressiva dizimação, parte de um verdadeiro movimento de extermínio de culturas e religiões antes predominantes na região. Um grupo populacional outrora majoritário que hoje corresponde a apenas 12% da população local e perde fôlego por conta de uma perseguição que só aumenta após a queda da ditadura Kadafi em 2011. Os últimos ataques terroristas do domingo refletem estratégias de inspiração fundamentalista que, não por acaso, antecedem a planejada visita do Papa Francisco ao país. Atos extremos revelam o intolerância religiosa e o desejo irracional de aniquilar culturas minoritárias locais. Mas esse grupo minoritário no Egito não é exemplo único dos que sofrem com tais perseguições. A prática extremista se espalha por vários países africanos e atinge outras minorias, como se testemunha na Nigéria, onde a facção terrorista Boko Haram tem travado vários ataques contra outros cristãos; ou ainda no Sudão, onde a sharia (lei islâmica) é fonte de inspiração constitucional, o que permite perseguições a não muçulmanos. Não podem ser esquecidos os coptas sequestrados e a seguir decaptados por terroristas do Estado Islâmico (EI) no início de janeiro de 2015, simplesmente por conta de sua origem e confissão religiosa. Indignação é o mínimo que tais barbáries podem despertar em nós. Nesse momento temos que deixar claro de que lado estamos, gritando  para o mundo que sim, “somos todos coptas”.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

A ILHA DIVIDIDA




Ao norte vivem os turcos, ao sul os gregos e no meio, dividindo os dois povos, uma faixa de "terra de ninguém" controlada pela Organização das Nações Unidas (ONU), cujo acesso é proibido para os dois grupos populacionais. Os dois povos, com língua e religião diferentes vivem conflitos étnicos que remontam aos impérios bizantino e otomano. No ano 1959 houve negociações que envolveram as diversas partes do conflito e levaram a um acordo para a concessão de uma Constituição que tornasse o Chipre uma república independente da Comunidade Britânica, tendo seu funcionamento garantido pela Inglaterra, Turquia e Grécia. No ano seguinte, o Chipre, a Grécia e o Reino Unido assinam um tratado que declara a independência da ilha, o qual previa para os britânicos a soberania das bases de Acrotíri e Deceleia. A independência foi proclamada em 16 de agosto de 1960, sendo eleitos presidente o greco-cipriota Makarios, arcebispo ortodoxo; e vice-presidente, o turco-cipriota Fazil Kuchuk. No entanto, tudo isso não pôs fim a violência e conflitos entre as partes turca e grega. Makarios era presidente, sob uma Constituição que indicava a vice-presidência para os turco-cipriotas, com poder de veto, o que dificultou o funcionamento do Estado e as relações inter partes, culminando em arroubos de violência e explosões de ódio nos anos1963 e 1967. Em dezembro de 1963, as comunidades turca e grega da ilha entraram em conflito quando o presidente propôs alterações constitucionais que pressupunham a supressão do direito da minoria turca de exercer o veto legislativo. Os turco-cipriotas vislumbravam a divisão da ilha, enquanto os greco-cipriotas insistiam na existência de um Estado unido com garantias dos direitos das minorias nacionais. Em 1964 o governo entrou em colapso e uma força de paz da ONU teve de intervir.
            As nações mães, Turquia e Grécia divergem, há décadas, no que tange a questões geopolíticas na região. Tampouco a Grã-Bretanha, sua nação colonizadora até o início da década de 1960 deixou totalmente o Chipre, onde ainda mantém duas bases militares até os dias de hoje. A ONU, responsável pela paz mantida, a duras penas, entre os povos da ilha, não reconhece uma República Turca do Chipre do Norte e por isso, somente o governo da capital Nicósia, ao sul, representa oficialmente a ilha. Apenas o sul, com seu governo apoiado pela Grécia, é parte do bloco político econômico que forma a União Européia (EU). Apesar de desde de 2004 toda a ilha ser país membro da União Europeia, somente na parte grega valem os direitos e deveres inerentes à EU para seus países membros. Esse é o quadro da situação nessa ilha e nação conflituosa que, segundo a mitologia grega foi o berço de Afrodite, deusa da beleza e do amor.
            A sua parte grega ainda é hoje destino preferido para muitos turistas, principalmente europeus. A última tentativa de unir a ilha em um só Estado remonta ao ano de 2004, quando sob a coordenação do então secretário geral da ONU, Kofi Annan desenhou-se um acordo com esse objetivo. A proposta foi rejeitada pelo presidente em exercício do Chipre grego na altura do acordo, levando ao recrudescimento do problema e a animosidade entre seus povos. No entanto, Nikos Anastasiades, atual presidente do Chipre grego, vê como plausível uma solução que fortaleça o papel regional do país e que contribua para a estabilidade na região em que se localiza, nomeadamente, o Nordeste do Mediterrâneo e países adjacentes como Turquia, Líbano, Síria, Israel e Egito. Após os últimos 43 anos de busca de uma resposta à questão cipriota sem resultados concretos, vê-se uma luz no fim do túnel com a iminente rodada de negociações em Genebra que contará com a participação de representantes dos dois lados da ilha, além de outros nomes ligados à ONU e à União Europeia. O grande problema para a implementação de um projeto que una os cipriotas em um Estado único, soberano e com autonomia regional relativa se chama Recep Tayyip Erdogan, presidente turco afeito a decisões autoritárias e incompatíveis com o modelo democrático europeu. Erdogan se encontra por trás do atual líder da parte turco-cipriota, Mustafa Akinci, o que traz desconfiança quanto ao seu eventual papel no caso do estabelecimento de uma nova realidade geopolítica pós-união. A ideia de um Estado federativo cipriota com dois estados autônomos pode ter efeitos imprevisíveis, tendo em vista o status de membro da União Europeia do Chipre grego, que poderia ser estendendo a toda ilha e população. Portanto fica difícil prever se, nessas circunstâncias, uma reunião da ilha ainda se faz possível. A República do Chipre não reconhece o país do norte e vice-versa. O líder turco-cipriota, por seu turno, afirma que a República do Chipre, na sua configuração atual, está morta e que somente um sistema político com uma federação turco/greco-cipriota viabilizaria uma união que ainda em outros moldes, já era cogitada na época do seu maior líder, o ex-presidente arcebispo Makarios. Daí poderia renascer um Chipre em forma de Estado-nação unificado e respeitando as diferentes minorias locais, cuja capital Nicósia, representaria todo o seu povo. 

BERLIM, 13 de janeiro de 2017.


segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

CIDADE SITIADA






É inegável o efeito devastador do atentado em um mercado natalino da cidade de Berlim no último dia 19 de dezembro. O terrorismo, associado ao fundamentalismo religioso, teve consequências devastadoras no cotidiano de um povo que já luta para manter um frágil equilíbrio psicossocial face a questões internas e relativas à união continental a que pertence. Retrocessos em direitos conquistados a duras penas devem ser esperados.
A extrema direita alemã se alimenta da tragédia e se fortalece com o medo e a desesperança daí oriundos. No período pós-atentado, o maior partido da extrema-direita local, o AfD, veio de imediato a público colher os frutos do desespero da população e pedir a cabeça da primeira-ministra Angela Merkel, culpabilizando-a e sua política de imigração pelo atentado. Uma população acuada por todos os lados e vivendo um pesadelo de incertezas e inseguranças se agarra a promessas falaciosas e a jogos antidemocráticos de pretensos salvadores da pátria. O cenário é perfeito para líderes oportunistas nesse ambiente de mal estar nas relações sociais, especialmente com o fim iminente da débil esperança de integração dos imigrantes recém-chegados, na promoção de uma paranoia difusa com o objetivo de subtrair qualquer brilho e alegria que se espera dessa época de festividades, encontros, comemorações e reconciliações.
Como no filme de Wim Wenders, “Asas do desejo” ou no original alemão, “Um céu sobre Berlim”, a cidade espera por anjos cadentes que se materializem e redimam sua população da avassaladora aflição que sobre ela se abate.
BERLIM, janeiro de 2017.
Antonio C. Ribeiro Tupinambá
Professor da UFC. 
Originalmente publicado no Diário do Nordeste em 06 de janeiro de 2017.