É inegável o efeito devastador do atentado em um mercado natalino da
cidade de Berlim no último dia 19 de dezembro. O terrorismo, associado ao
fundamentalismo religioso, teve consequências devastadoras no cotidiano de um
povo que já luta para manter um frágil equilíbrio psicossocial face a questões
internas e relativas à união continental a que pertence. Retrocessos em
direitos conquistados a duras penas devem ser esperados.
A extrema direita alemã se alimenta da tragédia e se fortalece com o
medo e a desesperança daí oriundos. No período pós-atentado, o maior partido da
extrema-direita local, o AfD, veio de imediato a público colher os frutos do
desespero da população e pedir a cabeça da primeira-ministra Angela Merkel,
culpabilizando-a e sua política de imigração pelo atentado. Uma população
acuada por todos os lados e vivendo um pesadelo de incertezas e inseguranças se
agarra a promessas falaciosas e a jogos antidemocráticos de pretensos
salvadores da pátria. O cenário é perfeito para líderes oportunistas nesse
ambiente de mal estar nas relações sociais, especialmente com o fim iminente da
débil esperança de integração dos imigrantes recém-chegados, na promoção de uma
paranoia difusa com o objetivo de subtrair qualquer brilho e alegria que se espera
dessa época de festividades, encontros, comemorações e reconciliações.
Como no filme de Wim Wenders, “Asas do desejo” ou no original alemão, “Um
céu sobre Berlim”, a cidade espera por anjos cadentes que se materializem e
redimam sua população da avassaladora aflição que sobre ela se abate.
BERLIM, janeiro de 2017.
Antonio C. Ribeiro Tupinambá
Professor da UFC.
Originalmente publicado no Diário do Nordeste em 06 de janeiro de 2017.
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