POLIS

POLIS
O projeto nasce com foco no comportamento político nas sociedades contemporâneas e nos efeitos dos movimentos sociais e políticos atuais sobre as liberdades e processos emancipatórios, bem como seus impedimentos em escala local, nacional e global. Tem por objetivos o desenvolvimento de um campo interdisciplinar de reflexão e prática investigativa e divulgadora, reunindo debates em torno de questões como: preconceito, racismo, sexismo, xenofobia, movimentos sociais, violência coletiva social, relações de poder, movimentos emancipatórios de povos e nações, valores democráticos e autoritarismos, laicidade, análises de discursos e ideologias, de universos simbólicos e práticas institucionais. Nessa perspectiva, o Polis atua desde sua criação formal em 2013, como projeto de extensão e em 2015 como Blog para divulgação e atualização.

sábado, 1 de novembro de 2025

A Bukelização e a Trumpização da Política Brasileira: a morte como projeto

 


Foto: MAURO PIMENTEL / AFP


Fabio Sobral*

Um enorme massacre ocorreu no Rio de Janeiro ontem, 28/10/2025, decorrente de uma operação policial. O governador daquele estado comemora, o que parece indicar que esse será o modelo a ser implementado daqui por diante.

Não que já não haja uma longa história de massacres e mortes em operações policiais, mas parece ter surgido um novo estágio, um novo modelo a ser implementado pela administração estadual.

Cláudio Castro quer se projetar nacionalmente. Espera, quem sabe, assumir o vácuo deixado pela ausência de Bolsonaro em uma disputa presidencial. Nenhum dos que buscaram até agora a bênção do clã Bolsonaro se mostrou digno de confiança: nem Tarcísio de Freitas, Caiado, Zema ou Ratinho. Eduardo Leite nunca esteve plenamente aceito, mesmo se esforçando bastante para agradar.

Dessa forma, Cláudio Castro busca ser a alternativa no interior da extrema direita. E o programa desse grupo é simples: retirar direitos, beneficiar grandes grupos empresariais, violência contra os mais pobres, educação destruída, nenhuma atenção à saúde coletiva, privatização de todos os serviços públicos que podem dar lucros.

Esse é um fenômeno mundial. Onde a extrema direita chega ao governo o programa é imediatamente aplicado. Seja com Viktor Orban na Hungria, com a perseguição aos sindicatos e a ampliação da jornada de trabalho, Bukele em El Salvador e sua transformação do país em um caos sem a existência de leis, no Equador com a violência estatal atingindo patamares brutais, Trump explodindo barcos no Caribe sem provas de tráfico e nem julgamento, Trump perseguindo opositores nos Estados Unidos e ameaçando lançar tropas contra manifestantes. Trump anseia por sangue escorrendo nas ruas daquele país.

Não esqueçamos Bolsonaro. A privatização de partes importantes da Petrobras, o genocídio promovido e impulsionado na pandemia, a devastação ambiental, a permanente trama para tomar o poder com golpe de Estado, a liberação de armas de calibre pesado que acabaram parando nas mãos de facções criminosas. A leniência com o contrabando de madeira e de ouro, a tentativa de destruir as reservas indígenas e ambientais. Há um sem fim de outros crimes.

A extrema direita quer o mundo sem lei. Ou melhor, o abandono de legislações e a sua substituição pelo reino da “lei do mais forte”. Tal grupo político quer o banho de sangue para obter votos, não apenas dos que deliram de prazer com a morte de pobres, mas com os que ficam submetidos ao seu reino de terror e acham que essa é a saída mais fácil. 

Porém, há um terceiro grupo que pode ser conquistado para apoiar esses políticos de extrema direita. Um grupo improvável e que não foi ainda mostrado: os próprios traficantes e integrantes de facções.

Ora, a ameaça permanente de massacres e vinganças pode subjugar os grupos criminosos. Eles seriam facilmente controlados pelo poder instalado em governos. Aqui promovo uma inversão do que tem sido discutido: o tráfico talvez não queira simplesmente estar em posições governamentais, mas esteja sendo obrigado a ajudar a extrema direita a se manter no poder.

Vejamos mais de perto. Pequenos soldados do tráfico podem ser exibidos como troféus de caça, com seus corpos exibidos para o mercado consumidor de imagens. Os grandes traficantes estão seguros, mas ameaçados em seus negócios por chantagens permanentes de expedições policiais punitivas. Pagamentos regulares podem ser negociados, parcelas pagas mensalmente. A qualquer sinal de descumprimento dos acordos são enviados policiais como bucha de canhão para o campo de batalha. Caso algum policial morra os poderosos lucram ainda mais, reforçam seu discurso de exterminação física dos inimigos. 

Mas onde estão os inimigos? Talvez estejam em palácios de governos estaduais ou na oposição. Talvez eles mandem que mortes do tráfico se espalhem para fazer certos governos de esquerda serem desacreditados e possa surgir um candidato de oposição que prometa a “salvação” com banhos de sangue. 

Talvez eles já estejam no governo e precisam controlar os grupos de traficantes a manterem os acordos antigos. Que morram policiais e pequenos traficantes. Para a direita eles são descartáveis, carne barata a ser sacrificada para manter governos brasileiros. Porém, é a direita que faz discursos mais sofridos pelos policiais mortos. Um teatro fúnebre que é comemorado em suas taças de espumante.

Flávio Bolsonaro, senador pelo Rio de Janeiro, pediu a Donald Trump que matasse pessoas na Baía da Guanabara, como está fazendo no Caribe.  Mortes sem provas, sem julgamento, sem lei, apenas com a vontade ditatorial de Trump. Cláudio Castro, o governador, imediatamente percebeu a oportunidade. Uma semana depois promove um banho de sangue. E promete outros. O sangue ali derramado não foi o suficiente. Já há quem chame os membros das facções criminosas de “narcoterroristas”, termo cunhado na Casa Branca.

Bukele o presidente de El Salvador inaugurou a nova fase da extrema direita. Trump se inspira nele. Flávio Bolsonaro prega a sua aplicação nos mares brasileiros. Cláudio Castro passa a uma aplicação mais ampla. Ele agora detém o medo em suas mãos. O medo de vários setores. Dos vampiros da extrema direita, dos cidadãos comuns e sem compreensão política dos perigos que se avizinham e medo entre os próprios membros de organizações criminosas.

Cláudio Castro inaugura a “bukelização/trumpização” da política brasileira. O tráfico não será destruído e nem combatido, só servirá como espetáculo brutal para o controle da sociedade e a instauração dos vampiros do povo, com suas bocas sujas de sangue, satisfeitos em seus projetos ditatoriais.

Ainda há tempo de combater essa monstruosidade. Pouco tempo, mas ainda há tempo. 


Foto:AFP

 ______________________________

Fábio Maia Sobral

Graduado em Ciências Econômicas (Universidade Federal do Ceará -- UFC), mestre em Filosofia pela UFC e doutor em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Professor associado da Universidade Federal do Ceará dos curso de graduação em Economia Ecológica e Ciências Econômicas e do mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente da UFC – Prodema.

Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0528887610181340

E-mail: fabio.maia.sobral@gmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário