Poderosos dão sua última cartada (com milhões de US$) no jogo eleitoral para a prefeitura de Nova Iorque.
Ataques do perverso que ocupa a Casa Branca, o presidente Donald Trump, multiplicam-se e se tornam cada vez mais ameaçadores. Nessa segunda-feira (3/11) ameaçou restringir os fundos federais para a cidade de Nova York caso o candidato democrata Zohran Mamdani vença as eleições para prefeito, que ocorrerão na terça-feira (4/11). Milionários jogam somas nunca antes vistas na conta da campanha de Andrew Cuomo. Last but not least, doações de pagadores “por fora”, apoiadores independentes, alcançam um montante sete vezes maior para a campanha de Cuomo comparado com aquelas para a campanha de Mamdani. Calcula-se que só desses “independentes” Cuomo já recebeu US$ 36 milhões. Somas bilionárias vêm de apoiadores como o antigo prefeito Michael Bloomber; Ronald Lauder, o antigo chefão do conglomerado Estee Lauder; Joe Gibbia, o co-fundador da Airbnb, além de Bill Aman, somente este empresário, apoiador de Trump e conhecido apoiador de Israel, já doou US$ 2 milhões para se opor à campanha de Mandani.
Zohran Mamdani, que nasceu em Uganda e se tornou um New Yorker, também se provou um fantástico candidato no seu modo de fazer campanha; com naturalidade para enfrentar as armadilhas do democrata Cuomo, que se tornou o queridinho de Trump e dos zilionários, financiadores imodestos com avalanches de dólares. As políticas pragmáticas de Mandani visando o bem do povo de Nova Iorque são apenas detalhes para despertar o ódio nos grandes nomes estabelecidos na política local. Eles jamais esperavam encontrar no carisma, empatia, honestidade e na capacidade de comunicação de um “estranho estrangeiro” a muralha política a ser bombardeada. A luta para proteger seus interesses financeiros está recheada de outras mensagens que ficam mais claras com os terríveis ataques articulados pela turma anti-Mandani; ataques esses carregados de xenofobia, islamofobia, racismo, aporofobia e vários outros preconceitos e receios, muitas vezes infundados mas que preenchem o imaginário de parte do povo de Nova Iorque. Um povo que vê, pela primeira vez, a possibilidade de dar um passo além do establishment, ao levar a ocupar a cadeira de prefeito de Nova Iorque alguém com um outro modelo de administração, uma figura que nunca se pensou poder ali chegar. Na maior metrópole do país, a mais importante em várias perspectivas, inclusive financeira, um homem que se declara socialista, um "não-americano" que, para os padrões políticos do país, pertence a um grupo de “pessoas estranhas” está a um passo de acabar com a carreira de figurões da política antipovo.
Mamdani nasceu em Uganda, filho de uma indiana, Mira Nair, cineasta e diretora indicada ao Oscar, conhecida por dirigir filmes como The Namesake, Salaam Bombay! e Monsoon Wedding e de um intelectual que, ao chegar nos Estados Unidos, engajou-se na luta pelos Direitos Humanos. Mahmood Mamdani (o pai), é um renomado professor de relações internacionais e antropologia da Universidade Columbia. Ele é ex-aluno de Harvard.
Mamdani é um jovem, sobretudo, muito simples, autêntico e solidário para que os tubarões da política estadunidense o vejam, pelo menos, como um elemento que tenha o direito de com eles competir. Isso faz suas intenções de se tornar prefeito de Nova Iorque tremer até a cadeira do mandatário egocêntrico na Casa Branca.
Como muitas outras, mais uma cena imperdível ocorreu nesta manhã de terça-feira: Mandani voltando de sua inusitada campanha com, dentre outras coisas, a visita a vários clubes noturnos, inclusive um clube gay, com sua grande faixa na qual se lia OUR TIME IS NOW.
Além de manter, para padrão estadunidense, um inigualável e sincero sorriso no rosto, como todo alguém que exala energia positiva, ainda consegue se comunicar igualmente com vários grupos populacionais novaiorquinos em suas línguas de origem, seja ela o inglês, o hindi, o árabe ou o espanhol. Por tudo isso, Zohran Mamdani certamente provoca muitas reações distintas, muitas delas negativas.
Mamdani e Cuomo, o “papagaio do Trump” (Trump’s parrot)
A campanha ininterrupta anti-Mamdani tem o apoio escancarado da grande mídia como, por exemplo, do Wall Street Journal. “Ele não é quem você pensa que ele é”, dizia um anúncio de TV com imagens sombrias do deputado estadual de 34 anos, que se mantém como o favorito para a prefeitura da cidade de Nova York. O anúncio não deixa claro exatamente qual é a suposta desconexão, mas o slogan claramente visa fazer os eleitores refletirem e duvidarem de suas intenções e do seu caráter." "Há algo que você desconhece por trás daquilo que ele quer mostrar. [Insinua o tal repórter sem mostrar qualquer evidência para justificar o comentário maldoso]." (fonte: The Guardian).
Há sempre a mesma acusação de quem diz ter grande experiência administrativa, ainda que tenha se provado incompetente, tenha sido acusado de corrupção e até mesmo de vários crimes sexuais, como é o caso do seu oponente Andrew Cuomo. Chegam ao extremo de associá-lo a um potencial terrorista pelo simples fato de ser muçulmano.
No penúltimo dia de votação, teve-se o maior número de votantes (votos antecipados em uma situação de não obrigatoriedade) que compareceram às urnas para uma eleição não majoritária. Momdani é este homem que mobilizou, em uma campanha sem doações milionárias, cerca de 100 mil voluntários que saíram pelas ruas dos diferentes bairros de Nova Iorque, bateram em portas de casas desconhecidas e falaram com quem encontravam nas calçadas, nos mais diferentes locais e até no transporte público para dar a conhecer este nome antes estranho, hoje sinônimo de ousadia e determinação. Para os estadunidenses um nome que soa estranho; acostumados que estão a, no máximo, pronunciar um sobrenome italiano com sotaque de um candidato ítalo-americano, por exemplo Cuomo ou de um ex-cubano de extrema-direita que odeia Cuba, ao modo de Rubio.
Que se faça realidade aquilo que diz ao final de cada uma das incansáveis falas nos diferentes subúrbios de Nova Iorque e em Manhattan: “Escolhemos o futuro porque, para todos aqueles que dizem que nossa hora está chegando, meus amigos, nossa hora é agora.”
Que assim seja, Zohran Mamdani! Que você vença para trazer um sopro de democracia em Nova Iorque, nesse pedaço tão diverso dos Estados Unidos que também pariu Donald Trump, a abominável criatura que, unilateralmente, lhe transformou em seu arquirrival e, em seus delírios totalitários, quer impedir os novaiorquinos de lhe escolher para ser o prefeito da cidade que nunca dorme. Nós e todos os que também preservam o humanismo dentro de si torcemos por você! Que venha a vitória!
Antonio C. R. Tupinambá
Fortaleza, 3 de novembro de 2025.


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