POLIS

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O projeto nasce com foco no comportamento político nas sociedades contemporâneas e nos efeitos dos movimentos sociais e políticos atuais sobre as liberdades e processos emancipatórios, bem como seus impedimentos em escala local, nacional e global. Tem por objetivos o desenvolvimento de um campo interdisciplinar de reflexão e prática investigativa e divulgadora, reunindo debates em torno de questões como: preconceito, racismo, sexismo, xenofobia, movimentos sociais, violência coletiva social, relações de poder, movimentos emancipatórios de povos e nações, valores democráticos e autoritarismos, laicidade, análises de discursos e ideologias, de universos simbólicos e práticas institucionais. Nessa perspectiva, o Polis atua desde sua criação formal em 2013, como projeto de extensão e em 2015 como Blog para divulgação e atualização.

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Até onde pode chegar a liberdade na Síria? (Opinião- Jornal O Povo)

 


Artigo de Opinião publicado no Jornal  (1)




Mulheres curdas se tornaram símbolo de luta depois de sua participação na guerra contra o Exército Islâmico na Síria. Essas mulheres alcançaram o que poucos acreditavam após sua esmagadora vitória contra o terrorismo: parceria igualitária na política, na economia e na vida social em Rojava, região a noroeste do país. O modelo por elas implementado tinha um slogan na língua curda: "Jin, Jiyan, Azadi" (Mulher, Vida, Liberdade), desafiava o patriarcado e priorizava o equilíbrio no ambiente em que viviam por meio do estabelecimento de uma democracia direta. Esse sistema político, décadas à frente do que se conhecia naquela região, surgiu, não em tempos de paz, mas sob a sombra de um conflito que envolvia governos antidemocráticos, terrorismo local e internacional. O mundo testemunhou quando o movimento formado exclusivamente por mulheres liderou a luta vitoriosa contra o grupo terrorista ISIS. Essas guerreiras queriam não apenas derrotar extremistas, mas também quebrar tabus e construir um novo sonho de vida com justiça para o povo curdo. Terroristas do ISIS, conhecidos por não temerem a morte, supostamente temiam ser mortos por mulheres — um destino que acreditavam, os impediria de alcançar o paraíso. A resistência das mulheres curdas remodelou sua própria cultura, provando que a igualdade não é um ideal inalcançável, mas uma prática possível de ser exercida cotidianamente. Em janeiro de 2015, hastearam a bandeira da Unidade de Proteção à Mulher em terras sírias, onde as experiências da repressão feminina são a regra. A recente queda da família Assad na Síria foi, indubitavelmente, também para a população curda local, uma conquista histórica. Os curdos foram o grupo étnico-populacional que mais sofreu repressão durante o regime Assad: privados de direitos, com terras desapropriadas, expulsos de suas próprias casas e aldeias, perseguidos, além de serem, coletivamente, declarados como apátridas. O fim da ditadura poderia significar para esse povo perseguido uma esperança se, e somente se, não tivessem um vizinho como a Turquia. O país que tem um governo declaradamente anti-curdo e, sob a égide do nada democrático Erdogan, exerce uma política genocida interna contra seu próprio povo, lança agora suas garras além fronteiras, em busca do domínio também em território sírio. A alegria após a queda do regime Assad pouco durou nessa região semi-autônoma da Síria. A Turquia logo passou a colaborar com grupos aliados jihadistas em suas ofensivas, eclipsando a vitória que também seria curda sobre a ditadura em Damasco. A libertação do país para uma parte de sua população, já não é mais celebrada pelo povo curdo, que agora vive sob o temor de ameaça à própria sobrevivência e de retrocesso nas conquistas como região semiautônoma dentro da Síria. Além do temor aos vizinhos turcos que se aliam a milícias locais para atacá-los, há dúvidas sobre as reais intenções do novo governo sírio, quando se trata de liberdades democráticas e respeito a minorias e mulheres.


Fortaleza, 2 de ago. de 2025

Antonio C. R. Tupinambá

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(1) Opinião- Jornal O Povo: https://mais.opovo.com.br/jornal/opiniao/2025/08/02/antonio-c-r-tupinamba-ate-onde-pode-chegar-a-liberdade-na-siria.html

 



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