O desfecho da Partição se deu à meia-noite, entre 14 e 15 de agosto de 1947, quando os britânicos dividiram o subcontinente indiano em duas nações soberanas, a Índia e o Paquistão. Na época, o Paquistão ficou formado pelo Paquistão Ocidental e Oriental em dois extremos do território que antes pertencia ao Estado indiano. A tensão continua elevada entre os dois países mesmo já tendo se passado quase 78 anos da divisão. Logo após esses acontecimentos, Índia e Paquistão entraram em guerra pelas províncias de Jammu e Caxemira e, desde então, o conflito escalou para confrontos em múltiplas frentes, com implicações mundiais. Trata-se de um grande conflito entre duas nações com poderio atômico.
Subcontinente indiano
A Índia acredita ser a autoridade sobre a região disputada, a Caxemira, assunto interno, enquanto o Paquistão quer internacionalizar a questão. A recente escalada entre os dois países na região da Caxemira leva-nos a crer em mais uma intervenção do “império” para fins políticos. Não pode ser descartada uma estratégia para desestabilizar o denominado “Sul Global”. “As cruas táticas refletem o clássico ‘dividir para conquistar’. Duplo golpe: um novo uso da Índia como arma e a desestabilização de uma frente-chave da Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI) da China: o Corredor Econômico China-Paquistão (CPEC). Um trunfo para o hegêmona: dividir o BRICS por dentro”(1) com mais uma guerra híbrida travada pelas superpotências ocidentais.
Protestos de hindus após o atentado
Um BRICS forte significa um confronto a uma ordem unipolar orquestrada pelos Estados Unidos da América e seus colaboradores. Mais uma vez, apenas a Rússia, que transita entre as duas nações, amigavelmente, seria capaz de impedir uma confrontação catastrófica das duas potências atômicas. “A terminologia russa é essencial: não apenas foi feito um apelo para que ambas as partes ‘entabulem um diálogo construtivo’. Moscou enfatizou: ‘Estamos prontos para enfrentar juntos a ameaça terrorista global’. A palavra-chave é ‘global’. Entretanto, Délhi e Islamabad ainda não parecem estar captando a mensagem”.(2) O jornalista e analista geopolítico Pepe Escobar disse ao Jornal Brasil 247 que a disputa se passa em um ninho de vespas, extremamente complicado, herança da partição colonial de 1947 desenhada, arbitrariamente, pelo império britânico. O jornalista, com razão, mostra suas suspeitas sobre o ataque ao ônibus de turistas hindus e muçulmanos no lado indiano da Caxemira atribuído a uma facção ligada ao grupo Lashkar-e-Taiba: o ataque ocorre em um momento curioso e bastante suspeito. Não seria essa uma guerra contra o BRICS? Uma confrontação entre os dois países conflitantes resultaria em um prejuízo das relações entre a Índia e a China, dois importantes membros do Bloco. Escobar vê nessas operações o dedo pobre da CIA. Afinal, como afirma o jornalista, é isso o que a CIA faz de melhor: “atentados de falsa bandeira, operações sujas financiadas por fundos ilegais, como nos tempos do contrabando de ópio no Afeganistão” e, acrescentaria, no período pós Partição, quando investiu na criação de grupos religiosos extremistas para conseguir dominar a região. Apesar da Rússia já ter começado a agir em busca de uma saída diplomática, levando os dois rivais a um diálogo para encerrar os ataques, sua eficácia é desejada mas incerta. Sabe-se do orgulho nacionalista e do apego fundamentalista de ambos, Índia e Paquistão, que têm de um lado o hinduísmo e do outro o islamismo, respectivamente, o que dificulta o trato, com racionalidade, das questões binacionais. A via diplomática costuma ser a melhor alternativa e o único recurso para evitar um mal maior na região. No entanto, é sempre com apelo bélico, que se dá qualquer negociação que implique a disputa pela Caxemira, isso, muito devido à postura extremista dos dois lados: na Índia um Modi racista e anti-muçulmano e no Paquistão, uma elite que preferiu construir um estado fundamentalista desde seu despertar e sempre se submeter ao Império. Os EUA, crê-se, levaram à destituição do primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan, em abril de 2022, que foi condenado a 10 anos de prisão sob falsas acusações de corrupção e espionagem. O que se viu foi uma ameaça direta dos EUA sobre o exército paquistanês, que por sua vez exerceu seu controle sobre o parlamento para cumprir o ultimato ianque. EUA e também a União Europeia queriam obrigar líderes estrangeiros, incluindo Khan, a se alinharem contra Putin e apoiarem as sanções ocidentais contra a Rússia, mas Khan resistiu.(3) Como um dos membros fundadores do BRICS, o Brasil não poderia deixar de se manifestar em face dos últimos acontecimentos. Sempre reafirmando seu firme compromisso com a promoção da paz, da estabilidade e do diálogo como único meio de resolução de controvérsias, o governo brasileiro se posicionou, oficialmente, encorajando "as partes a prosseguirem com os esforços diplomáticos com vistas à paz duradoura e ao bem-estar de suas populações, da região do Sul da Ásia e do mundo”.(4) O presidente Lula manifestou, por meio de um telefonema com o Primeiro Ministro indiano, a solidariedade do Brasil às vítimas do atentado terrorista ocorrido em 22 de abril. Lula reiterou o convite para que Modi participe da Cúpula do BRICS, no Rio de Janeiro, entre 6 e 7 de junho, bem como para que, durante o período, faça uma visita de Estado ao Brasil. Posteriormente, o Itamaraty saudou o acordo de cessar-fogo pactuado entre a Índia e o Paquistão; trégua que foi anunciada em 10 de maio..
Bandeiras do Paquistão e da Índia (Fragmentos)
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* Publicado originalmente no "Diálogos do Sul Global". https://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/caxemira-uma-peca-do-tabuleiro-imperialista-para-sabotar-o-sul-global/
(1) Escobar, P. “Dividir para conquistar”: tensão Índia x Paquistão mira Brics e Nova Rota da Seda. Disponível em: <https://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/dividir-para-conquistar-tensao-india-x-paquistao-mira-brics-e-nova-rota-da-seda/>. Acesso em: mai 2025.
(2) idem.
(3) Compare: Sachs, J. D. Paquistão: assim os EUA derrubaram Imran Khan. Disponível em: <https://outraspalavras.net/geopoliticaeguerra/paquistao-assim-os-eua-derrubaram-imran-khan/>. Acesso em: mai 2025.
(4) Santos, D. Governo Lula se manifesta sobre cessar-fogo entre Paquistão e Índia. Disponível em:
<https://www.metropoles.com/mundo/governo-lula-se-manifesta-sobre-cessar-fogo-entre-paquistao-e-india>. Acesso em: mai 2025.
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