POLIS

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O projeto nasce com foco no comportamento político nas sociedades contemporâneas e nos efeitos dos movimentos sociais e políticos atuais sobre as liberdades e processos emancipatórios, bem como seus impedimentos em escala local, nacional e global. Tem por objetivos o desenvolvimento de um campo interdisciplinar de reflexão e prática investigativa e divulgadora, reunindo debates em torno de questões como: preconceito, racismo, sexismo, xenofobia, movimentos sociais, violência coletiva social, relações de poder, movimentos emancipatórios de povos e nações, valores democráticos e autoritarismos, laicidade, análises de discursos e ideologias, de universos simbólicos e práticas institucionais. Nessa perspectiva, o Polis atua desde sua criação formal em 2013, como projeto de extensão e em 2015 como Blog para divulgação e atualização.

segunda-feira, 8 de abril de 2024

Nada será como antes

  



E não foi mesmo! Depois do clube da esquina, nada ficou como antes era, pelo menos na música popular brasileira. 

Adoro Minas e os mineiros. Até hoje não entendi como podem os mineiros terem escolhido para liderar seu estado tão maravilhoso uma criatura desclassificada de um partido igualmente desclassificado. Bom, vai entender. Aconteceu muito pelo Brasil e Minas não escapou da onda fascista que invadiu o país e criou muitos monstros, despertou muitos outros adormecidos nas pessoas. 

O que me interessa, contudo, é falar do filme/documentário que tem a turma de Minas como protagonista. Os críticos não decidem por mim se devo ou não ver esse ou aquele filme. Atento ao que dizem mas quero ver com meus próprios olhos se estão certos ou se se trata apenas de uma opinião a (não) se levar em conta. Então, apesar das críticas, “ah, é um filme monótono…” (Nada Será como Antes' vale como memória, mas pode soar monótono. Folha de SP).

Sim, fui assistir. E que bom que fui. Nada de monótono. Para ser no feitio de um documentário até surpreende no seu dinamismo, trocas de cenas, falas, reconstruções de lugares e pessoas, musicalidade etc. Educativo também, pois muitas informações e relatos, a presença de todos os que participaram do movimento, presentes ou já não mais, aguçaram a nossa memória e traçaram o desenho necessário para se compreender quem e onde teve esse ou aquele papel no fenômeno da música mineira da era Milton. Traz aquela Minas e aquele Rio que abrigaram o nascimento e apogeu daquela música misto de mpb, Beatles, Jazz, clássicos, geografia mineira (“as notas às vezes, em altos e baixos, desenham as montanhas de Minas”) e tudo o mais que influenciou aqueles garotos precoces e talentosos. Há novas histórias e outras curiosidades sobre as pessoas e o período em que o disco foi criado que vêm à tona tendo como pano de fundo (e de frente) suas músicas. Embaladas pelas icônicas canções do álbum, as imagens do filme conseguem traduzir (visualmente) a época.
Quem diria que a ida à padaria para comprar pão e leite para o café da manhã fosse decisivo para o encontro que virou a eternidade e nos forneceu o melhor da música mineira/brasileira! O mesmo Lô Borges, que disse “carinhosamente”, que ao descer as escadas do seu apartamento viu aquele “negrinho” cantando, o que o impressionou e o arrebatou,  fazendo-o até mesmo abandonar sua missão de trazer o pão da família. Talvez seja essa a única alusão/expressão de racismo no filme (não intencional?), o que  me deixou surpreso. Não sofreu quaisquer atos de racismo, naqueles dias, o Milton? Afinal era ele o único preto do grupo. O filme não aborda o tema, mas me deixou curioso para saber se em Minas “era outra coisa” (não creio) ou se preferiram se deter no quesito música e política estudantil da época, que também foi fundamental para definir os caminhos da musicalidade e textualidade do Clube da Esquina.  


“O Álbum Clube da Esquina é considerado por muitos críticos musicais como um dos melhores de todos os tempos. Milton Nascimento, Lô Borges - então com 16 anos - e músicos do porte de Nivaldo Ornelas, Toninho Horta, Beto Guedes, Robertinho Silva, Wagner Tiso, criaram uma sonoridade única, que ajudou a revolucionar a música brasileira e mundial. Nada Será como Antes mergulha na musicalidade deste time de músicos excepcionais para entender como referências musicais diversas, e influências de paisagens, história e poesia refletiram em cada um deles e na música atemporal que criaram. No filme, as imagens, impregnadas pelas canções, são traduções visuais deste clássico da música mundial”.


Direção: Ana Rieper



Nada será como antes

Beto Guedes e Milton Nascimento



Eu já estou com o pé na estrada

Qualquer dia a gente se vê

Sei que nada será como antes, amanhã

Que notícias me dão dos amigos?

Que notícias me dão de você?

Alvoroço em meu coração

Amanhã ou depois de amanhã

Resistindo na boca da noite um gosto de sol

Num domingo qualquer, qualquer hora

Ventania em qualquer direção

Sei que nada será como antes amanhã

Que notícias me dão dos amigos?

Que notícias me dão de você?

Sei que nada será como está

Amanhã ou depois de amanhã

Resistindo na boca da noite um gosto de sol

Num domingo qualquer, qualquer hora

Ventania em qualquer direção

Sei que nada será como antes amanhã

Que notícias me dão dos amigos?

Que notícias me dão de você?

Sei que nada será como está

Amanhã ou depois de amanhã

Resistindo na boca da noite um gosto de sol.


Fortaleza, 8 de abril de 2024.

Antonio CR Tupinambá


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