POLIS

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O projeto nasce com foco no comportamento político nas sociedades contemporâneas e nos efeitos dos movimentos sociais e políticos atuais sobre as liberdades e processos emancipatórios, bem como seus impedimentos em escala local, nacional e global. Tem por objetivos o desenvolvimento de um campo interdisciplinar de reflexão e prática investigativa e divulgadora, reunindo debates em torno de questões como: preconceito, racismo, sexismo, xenofobia, movimentos sociais, violência coletiva social, relações de poder, movimentos emancipatórios de povos e nações, valores democráticos e autoritarismos, laicidade, análises de discursos e ideologias, de universos simbólicos e práticas institucionais. Nessa perspectiva, o Polis atua desde sua criação formal em 2013, como projeto de extensão e em 2015 como Blog para divulgação e atualização.

terça-feira, 1 de agosto de 2023

Niger: uma aposta perdida

 



A tomada do poder pelos militares no Niger leva o Ocidente a rever sua aposta em transforma-lo num país democrático em meio ao caos de tantas outras nações que o cercam. O país que tem cerca de 25 milhões de habitantes se localiza na faixa de transição no continente africano, uma região semiárida conhecida por Sahel. Com três terços de seu território formados por deserto, tem à margem do rio Níger suas principais cidades e aglomerações urbanas. Assim como ocorre com muitos dos seus vizinhos, enfrenta uma luta permanente contra terroristas jihadistas, que empurram, com seus atos de extrema violência, centenas de milhares de pessoas para fora de suas casas. A grande presença ocidental no Níger não impediu mais um golpe que compromete sua frágil democracia, desestabilizando ainda suas instituições e forçando mais cidadãos a fugir e emigrar. O país é vítima desse novo golpe militar que se soma a quatro outros, além das muitas tentativas de golpe na sua recente história pós independência. O atual presidente Mohamed Bazoum representava a única esperança de se estabelecer um governo que viabilizasse a construção de uma democracia em uma região acostumada a movimentos golpistas e à imposição de regimes totalitários. Eleito há apenas dois anos, Bozoum foi a primeira experiência no país de uma transição de poder pacífica desde sua independência da França em 1960. O país que já travava uma difícil luta contra a violência jihadista deve agora sofrer as consequências da iminente saída de forças de apoio formadas por militares estrangeiros, principalmente europeus. Níger era um dos últimos aliados do Ocidente na região do Sahel, enquanto os vizinhos Mali e Burkina Faso sempre recorreram a outros parceiros, incluindo a Rússia. Várias autoridades já protestam contra a ação golpista militar e continuam tendo o presidente Bazoum como o legítimo mandatário no país. Organismos internacionais também apelam para que o presidente seja libertado e o estado de direito restaurado. A tomada de poder pela Guarda Presidencial e militares comprometerá o futuro da nação envolta em sérios problemas políticos e econômicos, que vinham sendo enfrentados pelo governo democraticamente eleito mas brutalmente deposto. Governo que tinha na França sua maior aliada, tendo em vista os interesses mútuos em combater a crescente onda de terrorismo jihadista na região. Já se observa, como oportunista, uma presença cada vez maior da Rússia em países africanos, o que vem de encontro ao fracasso dos ex-colonizadores que mantiveram sua influência no país, muitas vezes percebida como predatória. Hoje a França também paga o preço por conta de sua política colonialista equivocada e vê sua presença cada vez mais enfraquecida e questionada por parte da população local. O grupo de mercenários russo “Wagner” se diz satisfeito com a destituição do presidente nigerino e oferece ajuda aos golpistas, afirmando que aquilo que aconteceu nada mais foi do que uma luta do povo contra seus colonizadores, que querem mantê-los no mesmo estado em que se encontravam há centenas de anos. A França não reconhece o governo imposto pelo golpe liderado pelo general Abdourahamane Tchiani. Paris tem Mohamed Bazoum,  o presidente eleito, como  o verdadeiro presidente da República do Níger. A deposição de Bazoum se configura, para a França e outros países ocidentais, um poder ilegítimo e perigoso para o Niger e outros países naquela região.  A retomada de relações diplomáticas e a continuidade das colaborações econômicas e militares internacionais só acontecerão, segundo antigos parceiros, após a libertação do presidente Bazoum e o restabelecimento da ordem constitucional no país. Vozes na África também se levantam para mostrar a insatisfação com o golpe militar ocorrido no Níger. Vários líderes de países da África Ocidental emitiram um ultimato  aos militares que derrubaram o presidente e não descartam o uso da força para restabelecer a ordem constitucional no país, além da imposição de sanções financeiras. O presidente do Quênia, William Ruto, criticou duramente a insubordinação dos militares, considerando-a um ato inconstitucional em seus termos mais fortes, afirmando ainda que com esse golpe a África sofre um sério retrocesso em seu progresso democrático: "exortamos todas as partes a se engajar em um discurso construtivo para restaurar a paz nesta nação fraterna que se manteve firme como um baluarte contra o terrorismo e seus agentes na região do Sahel”, foram essas suas palavras ao condenar o golpe. 


Apoiadores das forças de defesa e segurança nigerianas atacam a sede do PNDS, o partido do presidente deposto Mohamed Bazoum, em Niamei  - Foto: AFP


Antonio C. R. Tupinambá

Fortaleza, 1 de agosto de 2023.

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