Torcedora senta na chuva após a derrota do Brasil contra a Alemanha - Jorge Silva/AP
2014 foi o ano da goleada histórica da Alemanha sobre o Brasil. Na partida que decidiria um dos finalistas da 20a Copa do Mundo da FIFA no Brasil, a seleção canarinha foi humilhada pelo time alemão, perdendo o jogo por 7 a 1.
A derrota massacrante no último jogo disputado pelo Brasil na semi-final dessa copa no Estádio Mineirão, em Belo Horizonte (MG), o famoso 7x1 se estendeu pelo país e poderia representar sete derrotas nacionais que também tivemos naquele ano.
A merecida goleada tomada pela nação de chuteiras foi apenas o coroamento de sucessivas goleadas que a população brasileira levaria ao longo do ano de 2014.
O primeiro gol contra o Brasil veio do Maranhão. Um vídeo divulgava rebeliões, fugas e mortes por decapitação com requintes de barbárie no Complexo Penitenciário de Pedrinhas. Retrato da falência do sistema prisional com superlotação, falta de eficiência do poder judiciário, de medidas sócio-educativas e de reabilitação etc. além da má administração prisional com seus muitos vícios.
Em fevereiro o segundo gol revela, simbolicamente, uma involução social que se aprofundava no país: um adolescente que teria tentado fazer um assalto foi espancado e preso nu a um poste na zona sul do Rio de Janeiro. Os justiceiros se sentiram bem representados pela jornalista do SBT, Rachel Sheherazade, que afirmou em rede nacional ser compreensível a atitude dos vingadores. Os monstros da TV e da mídia começavam a por as garras de fora e mostrar a que vieram.
Um terceiro gol de placa veio também com a abertura em 17 de março da Operação Lava Jato, que não só quis desestabilizar esquemas de corrupção na Petrobrás mas fez um pacto com o lado podre da nação, tornando-se uma farsa e levando o país ao caos atual.
O quarto gol, de não menor repercussão, gerando incredulidade e perplexidade na platéia se espalhou pelas ruas em um movimento crescente que havia começado em 2013. Começaram a dividir esse país perplexo e manipulado, agora também pelas forças da internet e seus recursos midiáticos. O fundamento para um futuro golpe político estava sendo plantado e regado.
No gol de número cinco, cinco dificuldades que representam e impediram Dilma Rousseff, presidente reeleita, a tomar as rédeas em Brasília e viabilizar seu novo mandato. As circunstâncias econômicas e políticas dificultavam o anúncio de um comandante para a área econômica, a de maior expectativa do mercado; continuou sua saga com o imbroglio na “manobra fiscal” para que o governo pudesse cumprir a meta de superávit primário estabelecida em 2013; as repercussões da Lava Jato e o escândalo de corrupção na Petrobrás continuariam em pauta por um longo tempo, minando suas bases de apoio e seus planos de governabilidade; o início e intensificação de protestos a favor da implementação de um impeachment contra a presidente recém reeleita, inclusive com acenos para a “volta do regime militar” seguido por suas dificuldades face a uma iminente derrocada na economia, que a candidata Dilma havia se esforçado para esconder durante o período eleitoral.
O sexto gol também reverberante no estádio e fora dele, o gol que antecipou o fiasco brasileiro no campo também refletiu o estado geral da nação insatisfeita, frustrada, manipulável e, portanto, favorável à idéia de impeachment. Forças ocultas posteriormente catalisadas por um PMDB traidor e ardiloso, que maquiavelicamente desembarcou do projeto de governo do qual fazia parte mantendo, na surdina e com o aval do vice-presidente Temer, um algoz para Dilma Rousseff: o corrupto, inescrupuloso e agressivo deputado Eduardo Cunha.
O sétimo gol, o tiro de misericórdia efetuado pela Alemanha contra o Brasil no jogo que tiraria a pátria verde e amarela da disputa final, foi também o gol que desmoralizou a nação do futebol, e deixou-a sem chuteiras, ajoelhada frente à nova potência internacional do esporte, o time de Toni Kroos. A seguir, restou ao Brasil assistir à Alemanha consolidar sua prestigiosa campanha na 20a Copa do Mundo da FIFA, ao vencer a Argentina na partida final, quando levantaria a taça, merecidamente, de campeã em 2014.
Em dezembro o Prêmio de consolação para o Brasil e para Dilma Roussef, o único gol, foi a finalização do relatório da Comissão da Verdade, que havia investigado os crimes cometidos durante a ditadura. O documento apontou 377 pessoas como responsáveis pela tortura e assassinatos entre 1964 e 1985. Dilma, que também foi presa política e participou da luta contra o regime militar afirmou na ocasião: “Estou certa de que os trabalhos produzidos pela comissão resultam do esforço pela procura da verdade, respeito da verdade histórica e estímulo da reconciliação do país consigo mesmo, por meio da verdade e do conhecimento”. O que poderia ser o início de um necessária prestação de contas histórica para que o país se redimisse de seu passado recente sanguinário e cruel foi ofuscado pela política suja com seu crescente estímulo à adesão a atos antidemocráticos que culminou com o golpe de 2016 contra a presidente.
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