POLIS

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O projeto nasce com foco no comportamento político nas sociedades contemporâneas e nos efeitos dos movimentos sociais e políticos atuais sobre as liberdades e processos emancipatórios, bem como seus impedimentos em escala local, nacional e global. Tem por objetivos o desenvolvimento de um campo interdisciplinar de reflexão e prática investigativa e divulgadora, reunindo debates em torno de questões como: preconceito, racismo, sexismo, xenofobia, movimentos sociais, violência coletiva social, relações de poder, movimentos emancipatórios de povos e nações, valores democráticos e autoritarismos, laicidade, análises de discursos e ideologias, de universos simbólicos e práticas institucionais. Nessa perspectiva, o Polis atua desde sua criação formal em 2013, como projeto de extensão e em 2015 como Blog para divulgação e atualização.

quarta-feira, 31 de julho de 2019

UM (DES)GOVERNO PELA DESTRUIÇÃO DA FLORESTA AMAZÔNICA E MASSACRE DE SEUS POVOS



Foto 1: Indígenas que fugiram para aldeia vizinha para se proteger da invasão à demarcação do território dos oiampis, no Amapá Foto: Reprodução/27-7-2018



Nenhum diálogo tem sido possível entre o atual governo brasileiro e lideranças indígenas e ambientalistas. Não há interesse do atual presidente em travar qualquer negociação desse tipo porque sua política é claramente genocida e visa a inviabilização da Funai para a consequente destruição da região amazônica juntamente com seus povos. Como já afirmou o Cacique Raoni1, o presidente deseja acabar com o povo indígena e não apresenta qualquer alternativa a suas intenções em acabar com as populações originárias do país. O discurso presidencial sobre as terras indígenas é letal àquele povo, pois legitima, promove e incentiva atos de violência na região. Com sua permissividade, todos se arvoram a reivindicar direitos sobre terras demarcadas para invadir, desmatar e praticar atividades destrutivas como a mineração, pecuária e lavoura não planejadas e sem quaisquer cuidados com o meio-ambiente. O que ele chama de impedir o desenvolvimento amazônico por conta de uma "indústria de demarcação de terras indígenas sustentada por integrantes da Funai" pode ser entendido como a óbvia tentativa de entregar a floresta para exploração por estrangeiros, principalmente pelos norteamericanos em um claro entreguismo e perda de soberania territorial e cultural: "Os primeiros passos para fortalecer essa relação foram institucionalizados no mês passado. Durante visita diplomática aos EUA, Roberto Castelo Branco, secretário nacional de Relações Internacionais do Ministério do Meio Ambiente, assinou uma carta de intenção junto à Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid - United States Agency for International Development, em inglês), defendendo a exploração estrangeira na Amazônia”2.  Neste mês (julho de 2019), garimpeiros invasores esfaquearam um líder indígena até a morte e expulsaram toda a população local passando a assumir, ilegalmente, o controle da aldeia. "A mineração ilegal de ouro está em proporções epidêmicas na Amazônia, e as atividades altamente poluidoras dos garimpeiros – como os mineiros de ouro são chamados – devastam florestas e envenenam rios com mercúrio. Segundo relatos, cerca de 50 garimpeiros invadiram nesse sábado a reserva indígena Waiãpi, de 600 mil hectares, no Estado do Amapá”3. De outro lado e em outro evento de agressão de invasores “não indígenas", guerreiros mundurucus realizaram uma expedição de cerca de 100 km, a pé, para expulsar madeireiros e palmiteiros de sua terra no sudoeste do Pará: “'Nós estávamos armados com nossos cânticos, nossa pintura, nossas flechas e a sabedoria dos nossos antepassados. E com muita pressão, eles passaram a madrugada toda retirando 11 máquinas pesadas, 2 caminhões, 1 quadriciclo, 1 balsa e 8 motos. Todos sem placa. Na retomada, andamos 26 km vigiando os ramais [estradas] que os madeireiros fizeram no nosso território e bebendo água suja do rio Jamanxim, que está poluída pelo garimpo’, afirma o texto dos munducurus.”5 Para Sônia Guajajara, coordenadora da Articulação de Povos Indígenas do Brasil (APIB), “a política do Bolsonaro tem se mostrado, desde a campanha, uma política genocida para os povos indígenas. A agenda dele pra Amazônia é uma agenda totalmente destrutiva. É isso que ele vem negociando: a entrega dos nossos recursos naturais para o estrangeiro.” Trata-se, segundo Guajajara, de uma agenda governamental, que visa a entrega de recursos naturais para países estrangeiros. Isso traz à tona a falácia do patriotismo pregado e explorado pelo presidente para convencer incautos eleitores e apoiadores. Tampouco seu “cristianismo” é convincente, ao criar as condições para matança desenfreada em nome de interesses pessoais (indicação do filho para a embaixada do Brasil nos Estados Unidos da América) políticos e econômicos questionáveis. Há somente em determinada região do Noroeste Amazônico cerca de 26 etnias coexistindo há milênios sem interesse de aculturação, o que vai de encontro à errônea tese de que todos os indígenas querem e devem ser retirados de seu habitat histórico e natural para serem integrados compulsoriamente. Portanto, a medida de transferir ao Ministério da Agricultura a identificação, delimitação e demarcação de terras indígenas e quilombolas (nesse último caso, brasileiros que foram por ele comparados a animais, ao referir-se a seu peso em arrobas) foi uma clara sinalização do desmonte das políticas indigenistas. Parcerias ditas em prol do desenvolvimento, muito visadas por setores estrangeiros na Amazônia provam a hipocrisia de um primeiro mundo, cuja maioria de governantes e grande parte da população dizem viver e agir segundo uma política correta e que respeita direitos humanos. No melhor estilo colonialista, vêm aqui e fazem o contrário do que pregam em seus países ditos desenvolvidos. A investimentos estrangeiros colaboracionistas com a destruição da floresta se soma um quadro irreversível de recrudescimento de atividades do agronegócio e da mineração nacionais e estrangeiras predatórias.6



Foto 2: Indígenas mundurucus realizam ação contra madeireiros ilegais que atuavam dentro da Terra Indígena Sawre Muybu, no oeste do Pará Anderson Barbosa


5 Consultado em 30 de julho de 2019 em https://www.brasildefato.com.br/2019/04/12/ao-oferecer-amazonia-aos-eua-bolsonaro-mira-funai-e-coloca-indigenas-em-risco/ 
6 Para maiores detalhes sobre o tema sugerimos a leitura da reportagem do Jornal Brasil de Fato de Lu Sodré intitulada  "Ao oferecer Amazônia aos EUA, Bolsonaro mira Funai e coloca indígenas em risco”: https://www.brasildefato.com.br/2019/04/12/ao-oferecer-amazonia-aos-eua-bolsonaro-mira-funai-e-coloca-indigenas-em-risco/ 

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