Antonio C. R. Tupinambá
Ghouta
é um enclave na periferia de Damasco, capital da Síria e ocupada
pelos rebeldes ao regime do ditador Bashar-al-Assad, o protegido de
Putin, o presidente russo. O avanço das tropas do governo tem
acontecido sem que as funestas consequências para a população
acossada encontre alguma forma de proteção. Sem chances sequer de
ser alcançada pelo comboios humanitários da ONU ou por algum acesso
aos “corredores” que as possibilitem evacuar e escapar dos
bombardeios generalizados, vivem à espera de algum milagre pois não
há qualquer lugar seguro na região. Ve-se anunciada uma catástrofe
ainda maior que aquela de Alepo, cidade ao norte do país que foi
destruída em combate anterior e em moldes semelhantes. Ghouta
Oriental — o último grande reduto dos rebeldes no país governado
por Bashar al-Assad é estratégica para seu governo, o que justifica
um ataque àqueles que são considerados terroristas remanescentes.
Com eles, contudo, está uma gente que já não sabe o que é
(sobre)viver e nem ousa ter qualquer esperança de fuga ou proteção.
Os bombardeios por meio de drones ou incursões militares diretas
não conhecem o perdão e em um intervalo de 48 horas conseguiram
matar mais de 150 pessoas e ferir mais de 800. Em um período de
menos de um mês, em uma área que é habitada por 400 mil pessoas,
os bombardeios e ataques ininterruptos já deixaram mais de 600
mortos (Observatório Sírio para os Direitos Humanos). Mais parece
que o regime quer dizimar a própria população e a esse preço
tirar o território das mãos dos seus inimigos, mesmo que o
resultado disso signifique uma conquista de ruínas em uma cidade
fantasma. Mais parece que o sócio russo do massacre ratificou a
campanha de aniquilação da população civil em Ghouta e, com isso,
quando os comboios da ONU conseguem se acercar da região para
assistir os doentes e famintos, soam como se trouxessem uma “
última ceia”. Os países ocidentais se comportam como se
estivessem acostumados a tais catástrofes humanitárias na Síria e
já não se preocupam em buscar meios para impedi-las. Esse estranho
costume em ver o avanço de ataques bélicos que atingem de frente a
população civil do país leva o povo, dentro e fora da Síria, a
pensar que é normal matar e morrer, sejam as vítimas crianças,
idosos, mulheres ou mesmo profissionais de saúde em ação nos
hospitais e postos médicos arranjados, ou no que deles ainda restou.
O conceito de dignidade humana e liberdade já não se aplica a esse
povo esquecido e abandonado à própria sorte.
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