Antonio C. R. Tupinambá
A
Índia já foi um porto seguro para os tibetanos refugiados do regime
chinês e de seus algozes na região do Himalaia. Tibetanos que
testemunharam os desmandos diuturnos dos ocupantes chineses, que
anexaram seu território sem conhecer limites para forçar um domínio
a ferro e fogo. Desde perseguição religiosa a um projeto de
dizimação da cultura local, o governo central da China, nesse
continuum
de atrocidades e desmandos perpetrados na ponta se seus fuzis, lança
mão das mais improváveis estratégias para consumar a ocupação e
o domínio de um povo e uma região que tem tanto de chineses como
temos, nós brasileiros, de guianenses. É como se o Brasil
resolvesse invadir o Uruguai por já ter dividido, no passado, um
reino em comum. No 59. aniversário do levante tibetano contra o
domínio chinês, dezenas de pessoas protestaram em frente à
embaixada chinesa na capital da Índia. Já não podem faze-lo com a
liberdade de outrora na república vizinha, que tradicionalmente, no
seu espírito democrático recebeu refugiados tibetanos
permitindo-lhes, por muito tempo, viabilizar suas vidas em uma nova
“pátria”, depois de ter deixado para trás suas histórias,
famílias e projetos de vida. O interesse econômico que se reflete
na busca de aproximação dos dois países leva o governo indiano a
mudar de postura e coibir demonstrações e protestos contra a China
em seu território. Esse é o novo cenário inamistoso para aqueles
que ora vivem como refugiados em solo indiano. O mais famoso desses
refugiados, o líder espiritual dos tibetanos, Dalai Lama, se mantém
discreto no país que o acolheu e prefere rodar o mundo com suas
falas de apoio ao povo do seu país, o Tibete. Com todas essas
restrições ainda se pode ver cerca de 50 pessoas protestando em
frente à embaixada chinesa na Índia, carregando cartazes com
dizeres contra a ocupação. Para conte-los e até mesmo dete-los, a
tropa de segurança indiana contava com quase duas centenas de
policiais. Apesar dessa mudança de rumo na política externa indiana
que visa a uma reaproximação com o vizinho, o Congresso da
Juventude Tibetana continua tentando organizar, corajosamente, esses
protestos, uma vez que nesses 59 de ocupação chinesa do Tibete, o
seu povo vem sofrendo uma perseguição implacável da força militar
de execução e de apoio à invasão, o que ceifa vidas e destrói
qualquer plano de futuro da população local. Uma “aculturação
chinesa forçada” que se encontra em curso na região Himalaia visa
à descaracterização da cultura e dos costumes locais, incluindo
língua e religião, passando pela arquitetura e pela destruição do
meio ambiente para fins comerciais: “o tempo que durar a ocupação,
o tempo que o governo comunista continuar com suas políticas ‘linha
dura’ - a luta e a resistência dos tibetanos continuarão”,
afirma o presidente da TYC, Tenzing
Jigme
(Tibetan Youth Congress). A estatística da resistência à ocupação
chinesa é cruel: desde 2009, mais de 152 tibetanos se auto-imolaram
dentro do próprio território tibetano. Segundo o ativista Tenzing
Jigme, essas auto-imolações ocorreram como protesto contra as
regras do governo central chinês e suas estratégias de domínio a
qualquer custo imposta desde 1950 à área de maioria budista. A
posição indiana de proibir os protestos anti-China em seu
território, tendo em vista seus novos interesses que implicam numa
busca de reaproximação com os ditadores chineses, ficou evidente
nesse último aniversário de 59 anos do levante contra a invasão do
Tibete, quando agiram com truculência face aos protestos dos jovens
tibetanos e simpatizantes da causa. Isso significa a necessidade de
difusão, ao redor do mundo, desses ações de protesto e
demonstrações de não aceitação da postura bélica chinesa contra
o povo tibetano, que reivindica, com razão, seus direitos de
autodeterminação. Como diz um dos cartazes durante o último
protesto em Nova Dehli: O TIBETE NÃO É PARTE DA CHINA.
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