Organização: Professora Adelaide Gonçalves
Apoio: Projeto Pólis-UFC
20 e 21 de novembro de 2018
terça-feira, 4 de dezembro de 2018
quarta-feira, 16 de maio de 2018
ZÂMBIA: UMA TERRA SEM HORIZONTE
Mukuni Village Zâmbia -
Os órfãos do HIV
Zâmbia:
uma terra sem horizonte
Antonio C. R. Tupinambá
maio de 2018
Sem saída para o mar e
de certo modo, sem qualquer saída, a Zâmbia amarga índices de pobreza que se aprofundam
desde que foi proclamada a sua independência da Grã-Bretanha em 1964. São 54
anos de declínio e desesperança. A cada ano diminuem os motivos para sua
comemoração. Os problemas se avolumam, as pessoas não veem motivos para
festejos em um cotidiano de luta pela sobrevivência. Uma população que teve a
expectativa de vida decrescida de 54 anos na década de 1980 para 37 nos anos
2000, influenciada pela malária, má nutrição e Aids, esta atingindo proporções alarmantes,
cerca de 20% da população. Uma nação de órfãos:
mais de 600 mil crianças zambianas são
órfãs de pai e mãe. "Em muitas famílias
é a
avó ou a irmã mais velha
(algumas vezes com 12 ou 13 anos) que tomam conta dos mais novos. As projecções
indicam que, nos próximos cinco anos, vai
haver na Zâmbia mais de um milhão de órfãos. Um terço das crianças
entre os 7 e os 12 anos não frequentam a escola primária, e 75 por cento dos
jovens entre os 13 e os 18 anos não frequentam a secundária. Dados recentes
mostram que cerca de 60 por cento das crianças sofrem de má nutrição.”(http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EEFZVEuZFlVAqngwEg, consultado em maio de 2018).
O Território da Zâmbia, que mede
cerca de sete vezes o estado de Pernambuco, se localiza na porção centro-sul do
continente africano, limitando-se com a República Democrática do Congo (ao
norte), Angola (a oeste), Namíbia (a sudoeste), Zimbábue (ao sul e a sudoeste),
Tanzânia (a nordeste), Moçambique e Malauí (a leste). A maioria da sua área é coberta
por savanas e o país também abriga extensos rios, onde
estão as famosas cataratas de Vitória.
A Zâmbia (antiga Rodésia
do Norte) conquistou a independência no dia 24 de outubro de
1964. Desde então, o país passou a integrar a Comunidade Britânica – bloco
formado pelo Reino Unido e suas antigas colônias. O páis possui uma das
economias mais pobres do planeta, tendo na extração e exportação de cobre a
principal fonte de receitas. Outro minério importante para
o país é o cobalto. A agricultura, em especial a de subsistência,
emprega cerca de 70% dos zambianos, que cultivam batata, milho, mandioca,
amendoim, café, algodão, cana-de-açúcar e tabaco. A indústria,
pouco diversificada, atua nos segmentos de tratamento de minerais, produção de
cimento e alimentício. O turismo também contribui para o
Produto Interno Bruto Nacional (PIB). Esse setor é impulsionado
pelos parques nacionais e pelas cataratas.
A população, composta
de cerca de 70 etnias distintas, sofre com diversos problemas socioeconômicos.
A maioria dos habitantes vive abaixo da linha de pobreza, ou seja, com menos de
1,25 dólar por dia; o índice de analfabetismo é de
30 (https://brasilescola.uol.com.br/geografia/zambia.htm, consultado em maio de 2018)
Não se deve esquecer o
papel do país na luta contra o apartheid e o racismo na África do Sul e pela
independência dos seus vizinhos, Moçambique e Zimbabwe. A transição democrática
pós-colonial foi relativamente pacífica mas o novo regime sofreu as consequências
de uma colonização predadora e com poucos investimentos para o desenvolvimento
do próprio país e o bem-estar do seu povo, especialmente no que tange ao acesso
à educação e saúde.
O tempo pós
colonialismo foi mal aproveitado pelos governantes locais e levaram ao aprofundamento
de crises econômicas e sociais. A democracia que veio substituir um regime
fechado de partido único não trouxe os resultados esperados: a esperança que
suscitou nos seus primeiros tempos foi esmagada pelo pessimismo resultante de más
administrações, abusos de poder, intrigas políticas, corrupção e desrespeito
aos mais elementares direitos humanos que se possa nomear. Some-se a todas essas mazelas a falta de
apoio externo para o saneamento de dívidas e incremento do comércio
internacional, essenciais para um novo posicionamento do país no cenário
mundial.
Os políticos corruptos
e inescrupulosos se juntam a alguns líderes religiosos coniventes e
oportunistas para se aproveitar da população com pouca educação e submetida a
um “cristianismo de rebanho”, consolidando, assim, o círculo de exploração e
miséria. Edgar Lungu, presidente eleito em 2015, busca a intervenção divina
como ajuda para problemas de natureza terrena: a economia em crise, moeda em
queda, colapso no preço das commodities, crise energética, só para citar
algumas dificuldades que assolam e
impedem a governança da nação africana.
Decretar um dia de oração e jejum é uma das estratégias “políticas” do
presidente Lungu que deve fundamentar ou até substituir ações governamentais
para diminuir a miséria, tirar o país do caos e combater a crise em que se
encontra.
terça-feira, 3 de abril de 2018
MUITO PIOR QUE EM ALEPO
Antonio C. R. Tupinambá
Ghouta
é um enclave na periferia de Damasco, capital da Síria e ocupada
pelos rebeldes ao regime do ditador Bashar-al-Assad, o protegido de
Putin, o presidente russo. O avanço das tropas do governo tem
acontecido sem que as funestas consequências para a população
acossada encontre alguma forma de proteção. Sem chances sequer de
ser alcançada pelo comboios humanitários da ONU ou por algum acesso
aos “corredores” que as possibilitem evacuar e escapar dos
bombardeios generalizados, vivem à espera de algum milagre pois não
há qualquer lugar seguro na região. Ve-se anunciada uma catástrofe
ainda maior que aquela de Alepo, cidade ao norte do país que foi
destruída em combate anterior e em moldes semelhantes. Ghouta
Oriental — o último grande reduto dos rebeldes no país governado
por Bashar al-Assad é estratégica para seu governo, o que justifica
um ataque àqueles que são considerados terroristas remanescentes.
Com eles, contudo, está uma gente que já não sabe o que é
(sobre)viver e nem ousa ter qualquer esperança de fuga ou proteção.
Os bombardeios por meio de drones ou incursões militares diretas
não conhecem o perdão e em um intervalo de 48 horas conseguiram
matar mais de 150 pessoas e ferir mais de 800. Em um período de
menos de um mês, em uma área que é habitada por 400 mil pessoas,
os bombardeios e ataques ininterruptos já deixaram mais de 600
mortos (Observatório Sírio para os Direitos Humanos). Mais parece
que o regime quer dizimar a própria população e a esse preço
tirar o território das mãos dos seus inimigos, mesmo que o
resultado disso signifique uma conquista de ruínas em uma cidade
fantasma. Mais parece que o sócio russo do massacre ratificou a
campanha de aniquilação da população civil em Ghouta e, com isso,
quando os comboios da ONU conseguem se acercar da região para
assistir os doentes e famintos, soam como se trouxessem uma “
última ceia”. Os países ocidentais se comportam como se
estivessem acostumados a tais catástrofes humanitárias na Síria e
já não se preocupam em buscar meios para impedi-las. Esse estranho
costume em ver o avanço de ataques bélicos que atingem de frente a
população civil do país leva o povo, dentro e fora da Síria, a
pensar que é normal matar e morrer, sejam as vítimas crianças,
idosos, mulheres ou mesmo profissionais de saúde em ação nos
hospitais e postos médicos arranjados, ou no que deles ainda restou.
O conceito de dignidade humana e liberdade já não se aplica a esse
povo esquecido e abandonado à própria sorte.
O TIBETE NÃO É A CHINA
Antonio C. R. Tupinambá
A
Índia já foi um porto seguro para os tibetanos refugiados do regime
chinês e de seus algozes na região do Himalaia. Tibetanos que
testemunharam os desmandos diuturnos dos ocupantes chineses, que
anexaram seu território sem conhecer limites para forçar um domínio
a ferro e fogo. Desde perseguição religiosa a um projeto de
dizimação da cultura local, o governo central da China, nesse
continuum
de atrocidades e desmandos perpetrados na ponta se seus fuzis, lança
mão das mais improváveis estratégias para consumar a ocupação e
o domínio de um povo e uma região que tem tanto de chineses como
temos, nós brasileiros, de guianenses. É como se o Brasil
resolvesse invadir o Uruguai por já ter dividido, no passado, um
reino em comum. No 59. aniversário do levante tibetano contra o
domínio chinês, dezenas de pessoas protestaram em frente à
embaixada chinesa na capital da Índia. Já não podem faze-lo com a
liberdade de outrora na república vizinha, que tradicionalmente, no
seu espírito democrático recebeu refugiados tibetanos
permitindo-lhes, por muito tempo, viabilizar suas vidas em uma nova
“pátria”, depois de ter deixado para trás suas histórias,
famílias e projetos de vida. O interesse econômico que se reflete
na busca de aproximação dos dois países leva o governo indiano a
mudar de postura e coibir demonstrações e protestos contra a China
em seu território. Esse é o novo cenário inamistoso para aqueles
que ora vivem como refugiados em solo indiano. O mais famoso desses
refugiados, o líder espiritual dos tibetanos, Dalai Lama, se mantém
discreto no país que o acolheu e prefere rodar o mundo com suas
falas de apoio ao povo do seu país, o Tibete. Com todas essas
restrições ainda se pode ver cerca de 50 pessoas protestando em
frente à embaixada chinesa na Índia, carregando cartazes com
dizeres contra a ocupação. Para conte-los e até mesmo dete-los, a
tropa de segurança indiana contava com quase duas centenas de
policiais. Apesar dessa mudança de rumo na política externa indiana
que visa a uma reaproximação com o vizinho, o Congresso da
Juventude Tibetana continua tentando organizar, corajosamente, esses
protestos, uma vez que nesses 59 de ocupação chinesa do Tibete, o
seu povo vem sofrendo uma perseguição implacável da força militar
de execução e de apoio à invasão, o que ceifa vidas e destrói
qualquer plano de futuro da população local. Uma “aculturação
chinesa forçada” que se encontra em curso na região Himalaia visa
à descaracterização da cultura e dos costumes locais, incluindo
língua e religião, passando pela arquitetura e pela destruição do
meio ambiente para fins comerciais: “o tempo que durar a ocupação,
o tempo que o governo comunista continuar com suas políticas ‘linha
dura’ - a luta e a resistência dos tibetanos continuarão”,
afirma o presidente da TYC, Tenzing
Jigme
(Tibetan Youth Congress). A estatística da resistência à ocupação
chinesa é cruel: desde 2009, mais de 152 tibetanos se auto-imolaram
dentro do próprio território tibetano. Segundo o ativista Tenzing
Jigme, essas auto-imolações ocorreram como protesto contra as
regras do governo central chinês e suas estratégias de domínio a
qualquer custo imposta desde 1950 à área de maioria budista. A
posição indiana de proibir os protestos anti-China em seu
território, tendo em vista seus novos interesses que implicam numa
busca de reaproximação com os ditadores chineses, ficou evidente
nesse último aniversário de 59 anos do levante contra a invasão do
Tibete, quando agiram com truculência face aos protestos dos jovens
tibetanos e simpatizantes da causa. Isso significa a necessidade de
difusão, ao redor do mundo, desses ações de protesto e
demonstrações de não aceitação da postura bélica chinesa contra
o povo tibetano, que reivindica, com razão, seus direitos de
autodeterminação. Como diz um dos cartazes durante o último
protesto em Nova Dehli: O TIBETE NÃO É PARTE DA CHINA.
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