POLIS

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O projeto nasce com foco no comportamento político nas sociedades contemporâneas e nos efeitos dos movimentos sociais e políticos atuais sobre as liberdades e processos emancipatórios, bem como seus impedimentos em escala local, nacional e global. Tem por objetivos o desenvolvimento de um campo interdisciplinar de reflexão e prática investigativa e divulgadora, reunindo debates em torno de questões como: preconceito, racismo, sexismo, xenofobia, movimentos sociais, violência coletiva social, relações de poder, movimentos emancipatórios de povos e nações, valores democráticos e autoritarismos, laicidade, análises de discursos e ideologias, de universos simbólicos e práticas institucionais. Nessa perspectiva, o Polis atua desde sua criação formal em 2013, como projeto de extensão e em 2015 como Blog para divulgação e atualização.

segunda-feira, 1 de julho de 2024

O Sudão é o inferno na Terra


        Refugiados sudaneses -- Zohra Bensemra/Reuters


Um exército genocida está violentando e massacrando milhares de pessoas. Há evidências da existência de crianças-soldado, lutando e morrendo, enquanto valas comuns acumulam corpos no deserto. Agora a capital da região de Darfur está sob ataque, com quase um milhão de refugiados sem poder deixar a cidade. Os especialistas se referem ao local como um matadouro. Essas atrocidades indescritíveis ocorrem em meio a um blecaute quase total de informações. O Sudão derrubou a Internet, prendeu repórteres locais e impede a entrada de jornalistas estrangeiros — o que significa que há muito pouca cobertura da mídia ou pressão sobre os governos.(1)





A oeste da região de Darfur, no Sudão, fica o Chade, considerada uma das economias mais pobres do mundo. Apesar das dificuldades com sua economia, o país fronteiriço se vê obrigado a lidar com a chegada dos emigrantes sudaneses, fugitivos da guerra. No extremo leste do Chade, mulheres com roupas coloridas tentam cozinhar numa fogueira improvisada, em frente às tendas dos refugiados. Fazem parte das famílias da região de Darfur, no oeste do Sudão, que conseguiram fugir para o outro lado da fronteira, em direção ao Chade. Estão vivas, mas ficaram sem nada”.(2) Uma guerra ignorada pela comunidade global. Falamos de um conflito que começou há dez meses e envolve grupos armados pertencentes ao governo e outros paramilitares: Forças Armadas Sudanesas (SAF) e Forças de Apoio Rápido (RSF). Os dois homens mais poderosos do país estão em conflito desde abril de 2023. De um lado Abdelfaftah al-Burhan, chefe do Exército e presidente do Conselho Soberano do Sudão, do outro, o seu antigo adjunto, Mohamed Hamdan Dagalo, que comanda as Forças de Apoio Rápido.(3)


Depois de terem tomado quatro das cinco províncias da região de Darfur nos últimos 12 meses, as Forças de Apoio Rápido (RSF) do General Mohammed Hamdan Dagalo – conhecido pela alcunha de Hemedti – estão a concentrar-se em torno da capital a Norte de Darfur, o último bastião da região sob o controle do exército sudanês, liderado pelo general Abdel Fattah Al-Burhan.(4)






Região de Darfur, no Sudão.


O conflito continua a provocar um sofrimento incalculável ao povo sudanês, especialmente em Darfur, à medida que a comunidade global desvia os olhos. No final de Janeiro, o procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI), Karim Khan, alertou que os crimes hediondos cometidos em Darfur correm o risco de se tornarem mais uma dessas atrocidades que serão facilmente esquecidas. Segundo a correspondente do jornal Le Monde, Eliott Brachet,(5) na cidade de El-Fasher todos podem se tornar reféns e se sentem como em um corredor da morte, esperando uma execução que pode acontecer a qualquer momento, como afirma Omar Mohammed Adam, que vive num campo para pessoas deslocadas a norte da cidade ocidental do Sudão. A cidade é estratégica, o que acirra o interesse dos paramilitares em captura-la. Essa captura lhes daria “o controle quase total sobre um território do tamanho da França”. Continua: Embora as escaramuças estejam atualmente concentradas no flanco nordeste de El-Fasher, os combates estão cada vez mais próximos…Há bombas caindo aleatoriamente, matando civis… Mais de 60 pessoas foram mortas em bombardeios ou trocas de tiros nas últimas quatro semanas”.


El-Fasher é densamente povoada. Desde 2003, a cidade acolhe centenas de milhares de sobreviventes do conflito que ceifou mais de 300 mil vidas quando o então presidente Omar al-Bashir lançou uma operação de limpeza étnica na província rebelde. Desde 15 de Abril, dezenas de milhares de civis de todo o Darfur juntaram-se aos mais de um milhão de residentes anteriores à guerra, fugindo do avanço da RSF.(6)


    Na busca insana de destruir a população não-árabe local e mudar o perfil demográfico em Darfur, se configura um iminente genocídio que vem sendo arquitetado deliberadamente para eliminar aquele grupo que foi considerado inimigo apenas por serem de outra etnia. Numa espécie de separação do “joio do trigo”, com a destruição de cidades inteiras e a infra-estrutura local, o plano é praticar, nos dias atuais, mais uma limpeza étnica, enquanto o Ocidente apenas faz que não vê e lhes vira as costas. 

Em curso a matança pela RSF e aliados de milhares de pessoas, além de lançar mão da estratégia de espalhar, deliberadamente, o terror entre os sobreviventes, forçando-os às centenas de milhares a deslocamentos com pouca chance de de encontrar qualquer porto seguro. Mais um grupo que configurará uma imigração regional ou para além das fronteiras do país, de modo forçado e levando muitos deles a uma terra de ninguém. 

Representantes de órgãos como o Instituto Tahrir para Política do Oriente Médio (TIMEP) Darfur Women Action Group (DWAG), Freedom House e Confluence Advisory discutem como a comunidade global pode deixar sua passividade, tomando medidas urgentes “para proteger os civis em Darfur, prevenindo novas atrocidades e facilitando uma responsabilização significativa, tanto em Darfur como de forma mais ampla, pelos abusos em todo o país”.(7) Outras questões que devem ser tratadas pelo grupo dizem respeito às necessidades humanitárias mais urgentes no terreno e quadro atuais e, finalmente, como pode ser dado um fim a essa guerra e quais mecanismos e ferramentas regionais e internacionais devem ser viabilizados para que isso aconteça.(8)



                Foto: site Avaaz.

Avaaz: doe o que puder agora para ajudar a pôr fim ao sofrimento silencioso no Sudão!


        SOLIDARIEDADE COM O SUDÃO


Para quem quiser se solidarizar com as famílias aterrorizadas que estão no meio do fogo cruzado em Darfur há canais seguros de doação, como o AVAAZ por meio de sua campanha de doação pró-Sudão: 


https://secure.avaaz.org/campaign/po/sudan_break_the_blackout_loc/


E-mail: avaaz@avaaz.org.


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(1) Alerta de Genocídios <avaaz@avaaz.org>

(2) Osios, A. Sudão: "A guerra mais esquecida do nosso tempo”. Disponível em: <https://www.dw.com/pt-002/sudão-a-guerra-mais-esquecida-do-nosso-tempo/a-67816270>. Acesso em: jun. 2024.

(3) idem

(4) Brachet, E. War in Sudan: In Darfur, city of El-Fasher under siege by Hemedti's paramilitaries. Disponível em: < https://www.lemonde.fr/en/le-monde-africa/article/2024/05/15/war-in-sudan-in-darfur-city-of-el-fasher-under-siege-by-hemedti-s-paramilitaries_6671570_124.html >. Acesso em: jun. 2024.

(5) idem

(6) idem

(7) Compare: The TAHRIR Institute for Middle East Policy. Darfur Under Attack: The Case for Civilian Protection and Atrocity Prevention. Disponível em: <https://timep.org/2024/02/13/darfur-under-attack-the-case-for-civilian-protection-and-atrocity-prevention/>. Acesso em: jun. 2024.

(8) idem.

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