POLIS

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O projeto nasce com foco no comportamento político nas sociedades contemporâneas e nos efeitos dos movimentos sociais e políticos atuais sobre as liberdades e processos emancipatórios, bem como seus impedimentos em escala local, nacional e global. Tem por objetivos o desenvolvimento de um campo interdisciplinar de reflexão e prática investigativa e divulgadora, reunindo debates em torno de questões como: preconceito, racismo, sexismo, xenofobia, movimentos sociais, violência coletiva social, relações de poder, movimentos emancipatórios de povos e nações, valores democráticos e autoritarismos, laicidade, análises de discursos e ideologias, de universos simbólicos e práticas institucionais. Nessa perspectiva, o Polis atua desde sua criação formal em 2013, como projeto de extensão e em 2015 como Blog para divulgação e atualização.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

A ILHA DIVIDIDA




Ao norte vivem os turcos, ao sul os gregos e no meio, dividindo os dois povos, uma faixa de "terra de ninguém" controlada pela Organização das Nações Unidas (ONU), cujo acesso é proibido para os dois grupos populacionais. Os dois povos, com língua e religião diferentes vivem conflitos étnicos que remontam aos impérios bizantino e otomano. No ano 1959 houve negociações que envolveram as diversas partes do conflito e levaram a um acordo para a concessão de uma Constituição que tornasse o Chipre uma república independente da Comunidade Britânica, tendo seu funcionamento garantido pela Inglaterra, Turquia e Grécia. No ano seguinte, o Chipre, a Grécia e o Reino Unido assinam um tratado que declara a independência da ilha, o qual previa para os britânicos a soberania das bases de Acrotíri e Deceleia. A independência foi proclamada em 16 de agosto de 1960, sendo eleitos presidente o greco-cipriota Makarios, arcebispo ortodoxo; e vice-presidente, o turco-cipriota Fazil Kuchuk. No entanto, tudo isso não pôs fim a violência e conflitos entre as partes turca e grega. Makarios era presidente, sob uma Constituição que indicava a vice-presidência para os turco-cipriotas, com poder de veto, o que dificultou o funcionamento do Estado e as relações inter partes, culminando em arroubos de violência e explosões de ódio nos anos1963 e 1967. Em dezembro de 1963, as comunidades turca e grega da ilha entraram em conflito quando o presidente propôs alterações constitucionais que pressupunham a supressão do direito da minoria turca de exercer o veto legislativo. Os turco-cipriotas vislumbravam a divisão da ilha, enquanto os greco-cipriotas insistiam na existência de um Estado unido com garantias dos direitos das minorias nacionais. Em 1964 o governo entrou em colapso e uma força de paz da ONU teve de intervir.
            As nações mães, Turquia e Grécia divergem, há décadas, no que tange a questões geopolíticas na região. Tampouco a Grã-Bretanha, sua nação colonizadora até o início da década de 1960 deixou totalmente o Chipre, onde ainda mantém duas bases militares até os dias de hoje. A ONU, responsável pela paz mantida, a duras penas, entre os povos da ilha, não reconhece uma República Turca do Chipre do Norte e por isso, somente o governo da capital Nicósia, ao sul, representa oficialmente a ilha. Apenas o sul, com seu governo apoiado pela Grécia, é parte do bloco político econômico que forma a União Européia (EU). Apesar de desde de 2004 toda a ilha ser país membro da União Europeia, somente na parte grega valem os direitos e deveres inerentes à EU para seus países membros. Esse é o quadro da situação nessa ilha e nação conflituosa que, segundo a mitologia grega foi o berço de Afrodite, deusa da beleza e do amor.
            A sua parte grega ainda é hoje destino preferido para muitos turistas, principalmente europeus. A última tentativa de unir a ilha em um só Estado remonta ao ano de 2004, quando sob a coordenação do então secretário geral da ONU, Kofi Annan desenhou-se um acordo com esse objetivo. A proposta foi rejeitada pelo presidente em exercício do Chipre grego na altura do acordo, levando ao recrudescimento do problema e a animosidade entre seus povos. No entanto, Nikos Anastasiades, atual presidente do Chipre grego, vê como plausível uma solução que fortaleça o papel regional do país e que contribua para a estabilidade na região em que se localiza, nomeadamente, o Nordeste do Mediterrâneo e países adjacentes como Turquia, Líbano, Síria, Israel e Egito. Após os últimos 43 anos de busca de uma resposta à questão cipriota sem resultados concretos, vê-se uma luz no fim do túnel com a iminente rodada de negociações em Genebra que contará com a participação de representantes dos dois lados da ilha, além de outros nomes ligados à ONU e à União Europeia. O grande problema para a implementação de um projeto que una os cipriotas em um Estado único, soberano e com autonomia regional relativa se chama Recep Tayyip Erdogan, presidente turco afeito a decisões autoritárias e incompatíveis com o modelo democrático europeu. Erdogan se encontra por trás do atual líder da parte turco-cipriota, Mustafa Akinci, o que traz desconfiança quanto ao seu eventual papel no caso do estabelecimento de uma nova realidade geopolítica pós-união. A ideia de um Estado federativo cipriota com dois estados autônomos pode ter efeitos imprevisíveis, tendo em vista o status de membro da União Europeia do Chipre grego, que poderia ser estendendo a toda ilha e população. Portanto fica difícil prever se, nessas circunstâncias, uma reunião da ilha ainda se faz possível. A República do Chipre não reconhece o país do norte e vice-versa. O líder turco-cipriota, por seu turno, afirma que a República do Chipre, na sua configuração atual, está morta e que somente um sistema político com uma federação turco/greco-cipriota viabilizaria uma união que ainda em outros moldes, já era cogitada na época do seu maior líder, o ex-presidente arcebispo Makarios. Daí poderia renascer um Chipre em forma de Estado-nação unificado e respeitando as diferentes minorias locais, cuja capital Nicósia, representaria todo o seu povo. 

BERLIM, 13 de janeiro de 2017.