POLIS

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O projeto nasce com foco no comportamento político nas sociedades contemporâneas e nos efeitos dos movimentos sociais e políticos atuais sobre as liberdades e processos emancipatórios, bem como seus impedimentos em escala local, nacional e global. Tem por objetivos o desenvolvimento de um campo interdisciplinar de reflexão e prática investigativa e divulgadora, reunindo debates em torno de questões como: preconceito, racismo, sexismo, xenofobia, movimentos sociais, violência coletiva social, relações de poder, movimentos emancipatórios de povos e nações, valores democráticos e autoritarismos, laicidade, análises de discursos e ideologias, de universos simbólicos e práticas institucionais. Nessa perspectiva, o Polis atua desde sua criação formal em 2013, como projeto de extensão e em 2015 como Blog para divulgação e atualização.

terça-feira, 18 de março de 2025

Cillian Murphy é corpo e alma do filme Pequenas Coisas como Estas





Cillian Murphy é corpo e alma do filme Pequenas Coisas como Estas -- 
Small Things Like These (2024)

 

Conheci Cillian Murphy do seriado da Netflix “Peak Blinders”. Sei que foi muito além disso, e retornei a encontrá-lo em Oppenheimer. Está também em The Dark Knight e 28 Days Later. É um Midas, não há nada que toque que não passe a reluzir. Mesmo na escuridão daquela Irlanda dos anos 1980 traz luz e brilho. 




É ele (Bill) corpo e alma do filme. Seu trajeto pela história a eleva e lhe dá sentido. Há, claro, a não menos magnífica presença de Emily Watson, a severa Irmã Mary, que também não veio fazer parte do filme para brincadeira.

Irmã Mary (juntamente com as demais integrantes do convento) personifica os subterfúgios e o que se sabe existir por trás das paredes altas e no claustro inacessível mas que se prefere ignorar.  A poderosa madre superior, também responsável por dirigir missas e administrar a escola da pequena cidade, tem um mundo obscuro que fica mesmo ao lado do depósito de carvão de Bill. Uma das jovens albergadas na instituição foge de abusos estranhos e não esclarecidos (mas certamente cometidos pelo clero) no meio do carvão, onde encontra esconderijo, o que obriga Bill a querer “salvá-la”, remetendo-o a seu passado e seus traumas infantis, quando também já foi salvo.

Vi o filme, por várias razões, também com recursos psicanalíticos (não sei se deliberados ou não) que fundamentam as vivências e elos criados entre presente e passado do protagonista. Nas entranhas do filme, nas  imagens  extraídas, nas falas e linguagem há muito de psicanálise. Enquadramentos dados pelo diretor de fotografia Frank van den Eeden que incluem mãos, olhos e todo o corpo de Cillian, centrais  para sugerir um homem profundo, observador e consequente em suas ações. Como já afirmou Guilherme Jacobs(1) em sua resenha, as fortes imagens nos colocam dentro da história e do seu enredo. Nada melhor poderia ter sido feito em termos de fotografia para penetrar a escuridão da cidade e de sua gente, que ao contrário de Bill (Cillian) prefere desconhece-la. Pequenas Coisas Como Estas me pegou muito rapidamente, já nas primeiras cenas em que Bill conduz o destino da história. O filme que foi dirigido por  Tim Mielants é tátil e minucioso. O carvoeiro da pequena cidade irlandesa de New Ross traz calor aos ambientes frios e invernais mas também uma densidade aos lugares e às pessoas. O ator que merecidamente levou o Oscar por Oppenheimer e neste filme interpreta um certeiro William (Bill) Furlong não é apenas o protagonista, é a alma do filme e sua própria história.


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(1) Jacobs, G. Cillian Murphy mantém as brasas de Pequenas Coisas Como Estas minimamente acesas.

 https://www.omelete.com.br/filmes/criticas/pequenas-coisas-como-estas-critica-cillian-murphy-explicado