POLIS

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O projeto nasce com foco no comportamento político nas sociedades contemporâneas e nos efeitos dos movimentos sociais e políticos atuais sobre as liberdades e processos emancipatórios, bem como seus impedimentos em escala local, nacional e global. Tem por objetivos o desenvolvimento de um campo interdisciplinar de reflexão e prática investigativa e divulgadora, reunindo debates em torno de questões como: preconceito, racismo, sexismo, xenofobia, movimentos sociais, violência coletiva social, relações de poder, movimentos emancipatórios de povos e nações, valores democráticos e autoritarismos, laicidade, análises de discursos e ideologias, de universos simbólicos e práticas institucionais. Nessa perspectiva, o Polis atua desde sua criação formal em 2013, como projeto de extensão e em 2015 como Blog para divulgação e atualização.

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Milada Horáková - Uma combatente pela liberdade. Homenagem à mártir do nazismo e stalinismo no 70o aniversário de sua morte


 



Mais de dois bilhões de pessoas vivem sob ditaduras no mundo atual. Dedicamos este filme a sua luta por liberdade. 

A verdade prevalecerá 

(Milada - Filme de 2017 - Netflix. Direção: David Mrnka).



Exemplo de luta contra o totalitarismo, Milada Horáková foi vítima em dois momentos sombrios da história recente: o nazismo e o stalinismo. Com suas comprovadas e implacáveis perseguições a opositores, os dois regimes lançaram a sombra de sua destruição também sobre a pequena Tchecoeslováquia do antes e pós guerra. Milada lutou duas vezes heroicamente contra essas forças do mal, o que por fim resultou em sua condenação em julgamento teatralizado e conduzido por uma magistrada parcial, ciente de que a culpabilidade e a punição dos réus havia sido decidida antes do julgamento por representantes do poder comunista/stalinista estabelecido após o fim da Segunda Grande Guerra.  

O domínio comunista/stalinista no parlamento tcheco-eslovaco se encarregou de dar início a uma caça às bruxas e perseguir, impiedosamente, todos os opositores, inclusive aqueles que lutaram para a libertação do país das garras dos nazistas. Por um crime forjado de lesa pátria em uma Checoslováquia que ainda se recuperava do domínio nazista, Milada foi executada em 27 de junho de 1950, levando consigo o sonho de uma pátria livre e soberana que terminaria por se deixar dominar pelo totalitarismo stalinista com todas as suas nefastas consequências para o povo tchecoeslovaco.

Advogada e ativista de Direitos Humanos Milada, desde cedo, se engajou em muitas lutas a favor da emancipação feminina, direitos de salários iguais para homens e mulheres, guarda de filhos etc. 

Uma luta que iniciou em 1939 contra a ocupação nazista e posteriormente, se opondo ao domínio soviético em seu país. Milada comparava o comunismo ao nazismo e se referia a Hiltler como confuso, demente, maluco e alucinado. A luta por seus ideias libertários foi posto à frente de sua família, resultando em sua prisão pela Gestapo e condenação à morte. Teve a pena de morte alterada para prisão perpétua no campo de concentração em Theresienstadt, sendo liberada da prisão em 1945, ao mesmo tempo em que seu país se libertou do nazismo.

Deputada eleita em 1946, renunciou ao mandato em 1948, após a tomada de poder pelo Partido Comunista, dominado por ela de "ocupação soviética". Foi detida em 1949 pela STB (Polícia Secreta Tchecoslovaca), acusada de ser líder de um (falso) golpe para derrubar o regime comunista, submetida a métodos de interrogatório brutais e a torturas – físicas e psicológicas – incluindo ameaças a sua família, vendo-se forçada a uma confissão de participação em atos de traição e conspiração, para que pudesse ser liberta, o que não ocorreu.

Um nome para não ser esquecido, uma voz reverberando contra os absurdos do nazismo e stalinismo em seu país, ecoando naquelas paredes frias da burocracia dos dois regimes subsequentes e abomináveis, silenciada há exatos setenta anos. A repercução dos seus feitos patrióticos e libertários continua nos dias de hoje. Há um desejo de reparação tardia para o erro incorrigível, que se faz atender em dimensões e perspectivas variadas. Uma delas, a celebração de um “Dia comemorativo das vítimas do regime comunista” que ocorre na data de sua morte. Outra, a anulação de seu veredicto em junho de 1968 durante a Primavera de Praga, mesmo que posteriormente à ocupação soviética do seu país não fosse efetivada a pretendida reabilitação, o que só ocorreu após a Revolução de Veludo de 1989. Ainda em 1990 foi dado seu nome a uma importante rua em Praga.

Em 2007 a justiça considerou sua execução um “assassinato legal” e não mais um “erro judicial”, tendo sido a magistrada responsável pela condenação que levou Milada à forca sentenciada a 6 anos de prisão.

As palavras proferidas por Milala durante o julgamento parcial em corte manipulada pelo poder dos representantes de uma ditadura que se cristalizava naqueles anos do pós-guerra, não foram suficiente para sensibilizar seus algozes e evitar o desfecho trágico da condenação injusta. Ao contrário, foram motivo de escárnio pelo juri vendido aos comunistas. Palavras sinceras que retratavam o desejo de emancipação humana pela qual sempre lutou, e lhe custou a liberdade com os nazistas e a própria vida com os stalinistas: "Liberdade, igualdade, democracia, compaixão… foi pelo que lutei. Ninguém nesse país deveria ser preso ou morto por suas crenças”.

Em carta escrita durante no cárcere nos dias que antecederam o seu enforcamento, Milala escreveu poeticamente e revelando a coragem que lhe acompanhou por toda a vida: 


A vida é dura, ela não mima ninguém, e para cada vez que ela lhe agrada, ela lhe golpeia dez vezes. Ninguém vive nesse mundo sozinho. Há uma grande felicidade nesse fato, mas grande responsabilidade também. Nossa obrigação é não agir de forma egoísta, mas pensar nas necessidades e objetivos de outros.” Aprenda a ser modesto. Não será infeliz por causa de bens materiais que não tenha. Quando considerar algo justo, seja tão decidido a ponto de lutar e morrer por isso. Não fique triste por minha causa. Eu tive uma vida linda. Eu aceito minha punição com humildade. Minha consciência está tranquila e eu acredito e rezo para que eu passe pela provação do tribunal da mais alta corte, a de Deus. Visite prados, campos e florestas. lá, em meio ao cheiro das flores desabrochando,  você encontrará uma parte de mim.



Milada Horáková deve ser vista como exemplo de honra e luta para a geração presente e futuras, principalmente em um cenário de retrocessos e ameaças às liberdades que se apresenta pelo mundo nos nossos dias. A advogada e ativista de Direitos Humanos, cuja história se passa na Checoslováquia dos anos 1930 aos anos 1950 merece ser lembrada e ter seu legado reavivado como exemplo de luta e coragem no combate aos biltres do totalitarismo.



Telegrama de Albert Eintein pedindo clemência da Milada