Mukuni Village Zâmbia -
Os órfãos do HIV
Zâmbia:
uma terra sem horizonte
Antonio C. R. Tupinambá
maio de 2018
Sem saída para o mar e
de certo modo, sem qualquer saída, a Zâmbia amarga índices de pobreza que se aprofundam
desde que foi proclamada a sua independência da Grã-Bretanha em 1964. São 54
anos de declínio e desesperança. A cada ano diminuem os motivos para sua
comemoração. Os problemas se avolumam, as pessoas não veem motivos para
festejos em um cotidiano de luta pela sobrevivência. Uma população que teve a
expectativa de vida decrescida de 54 anos na década de 1980 para 37 nos anos
2000, influenciada pela malária, má nutrição e Aids, esta atingindo proporções alarmantes,
cerca de 20% da população. Uma nação de órfãos:
mais de 600 mil crianças zambianas são
órfãs de pai e mãe. "Em muitas famílias
é a
avó ou a irmã mais velha
(algumas vezes com 12 ou 13 anos) que tomam conta dos mais novos. As projecções
indicam que, nos próximos cinco anos, vai
haver na Zâmbia mais de um milhão de órfãos. Um terço das crianças
entre os 7 e os 12 anos não frequentam a escola primária, e 75 por cento dos
jovens entre os 13 e os 18 anos não frequentam a secundária. Dados recentes
mostram que cerca de 60 por cento das crianças sofrem de má nutrição.”(http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EEFZVEuZFlVAqngwEg, consultado em maio de 2018).
O Território da Zâmbia, que mede
cerca de sete vezes o estado de Pernambuco, se localiza na porção centro-sul do
continente africano, limitando-se com a República Democrática do Congo (ao
norte), Angola (a oeste), Namíbia (a sudoeste), Zimbábue (ao sul e a sudoeste),
Tanzânia (a nordeste), Moçambique e Malauí (a leste). A maioria da sua área é coberta
por savanas e o país também abriga extensos rios, onde
estão as famosas cataratas de Vitória.
A Zâmbia (antiga Rodésia
do Norte) conquistou a independência no dia 24 de outubro de
1964. Desde então, o país passou a integrar a Comunidade Britânica – bloco
formado pelo Reino Unido e suas antigas colônias. O páis possui uma das
economias mais pobres do planeta, tendo na extração e exportação de cobre a
principal fonte de receitas. Outro minério importante para
o país é o cobalto. A agricultura, em especial a de subsistência,
emprega cerca de 70% dos zambianos, que cultivam batata, milho, mandioca,
amendoim, café, algodão, cana-de-açúcar e tabaco. A indústria,
pouco diversificada, atua nos segmentos de tratamento de minerais, produção de
cimento e alimentício. O turismo também contribui para o
Produto Interno Bruto Nacional (PIB). Esse setor é impulsionado
pelos parques nacionais e pelas cataratas.
A população, composta
de cerca de 70 etnias distintas, sofre com diversos problemas socioeconômicos.
A maioria dos habitantes vive abaixo da linha de pobreza, ou seja, com menos de
1,25 dólar por dia; o índice de analfabetismo é de
30 (https://brasilescola.uol.com.br/geografia/zambia.htm, consultado em maio de 2018)
Não se deve esquecer o
papel do país na luta contra o apartheid e o racismo na África do Sul e pela
independência dos seus vizinhos, Moçambique e Zimbabwe. A transição democrática
pós-colonial foi relativamente pacífica mas o novo regime sofreu as consequências
de uma colonização predadora e com poucos investimentos para o desenvolvimento
do próprio país e o bem-estar do seu povo, especialmente no que tange ao acesso
à educação e saúde.
O tempo pós
colonialismo foi mal aproveitado pelos governantes locais e levaram ao aprofundamento
de crises econômicas e sociais. A democracia que veio substituir um regime
fechado de partido único não trouxe os resultados esperados: a esperança que
suscitou nos seus primeiros tempos foi esmagada pelo pessimismo resultante de más
administrações, abusos de poder, intrigas políticas, corrupção e desrespeito
aos mais elementares direitos humanos que se possa nomear. Some-se a todas essas mazelas a falta de
apoio externo para o saneamento de dívidas e incremento do comércio
internacional, essenciais para um novo posicionamento do país no cenário
mundial.
Os políticos corruptos
e inescrupulosos se juntam a alguns líderes religiosos coniventes e
oportunistas para se aproveitar da população com pouca educação e submetida a
um “cristianismo de rebanho”, consolidando, assim, o círculo de exploração e
miséria. Edgar Lungu, presidente eleito em 2015, busca a intervenção divina
como ajuda para problemas de natureza terrena: a economia em crise, moeda em
queda, colapso no preço das commodities, crise energética, só para citar
algumas dificuldades que assolam e
impedem a governança da nação africana.
Decretar um dia de oração e jejum é uma das estratégias “políticas” do
presidente Lungu que deve fundamentar ou até substituir ações governamentais
para diminuir a miséria, tirar o país do caos e combater a crise em que se
encontra.