Atenas
O significado da aprovação, pelo parlamento grego, do projeto de casamento para pessoas do mesmo sexo vai além de uma conquista doméstica. A Grécia, país conservador de maioria cristã ortodoxa, oferece uma chance a seus cidadãos de superar erros do passado e se distanciar de outros países, igualmente ortodoxos e presos a dogmas, misturando Estado e Igreja. Além do casamento civil, a nova lei autoriza adoção de crianças por casais do mesmo sexo. Isso significa uma grande vitória para a comunidade LGBT+ do país. Houve muito trabalho e campanhas lideradas por organizações locais ao longo das últimas décadas, fundamentais para essa conquista. O Primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis foi o responsável pela estratégia nacional, que ganhou o apoio necessário para aprovar o projeto de casamento igualitário. Kyriaros não desistiu dessa empreitada apesar de gerar, com sua proposta, forte oposição em setores mais conservadores da sociedade e do parlamento. Segundo o Primeiro-Ministro, a ideia básica de legalizar a igualdade no casamento resulta na eliminação de qualquer discriminação baseada na “orientação sexual” e não se trata, portanto, de algo revolucionariamente diferente do que se aplica em outros países europeus. Dessa forma, no dia 15 de fevereiro de 2024, a Grécia se tornou o primeiro país ortodoxo, no qual as uniões matrimoniais para todos puderam ser celebradas.
Nicósia
Na União Europeia, alguns países permitem que casais do mesmo sexo realizem uniões civis, mas não que se casem. Esse é o caso da República Tcheca, Croácia, Chipre, Estônia, Hungria, Itália e, até então, a Grécia. Vale a pena lembrar que a maioria dos países do leste europeu não permite o matrimônio homossexual nem as uniões civis. A Turquia, eterna candidata ao clube europeu mas pouco afeita ao reconhecimento e respeito a direitos de suas minorias, distancia-se ainda mais da sua vizinha, a Grécia, que ora supera uma dívida histórica com o Bloco Europeu promovendo, com essa mudança constitucional, mais direitos igualitários para todos os seus cidadãos. Já no Chipre, a "ilha de Afrodite" que é próxima à Grécia geográfica e culturalmente mas dividida entre o norte turco e o sul grego, continua sem dar sinais de qualquer mudança na legislação sobre casamento igualitário. Falamos desse país que já fez parte do Império Grego e compartilha a mesma língua, cultura e religião com a terra mãe quando se considera, atualmente, a parte meridional do seu território. Essa proximidade entre os dois países traz alguma esperança para, quem sabe em um futuro próximo, o Chipre também abrace projeto semelhante de matrimônio para todos. Deixando-se tocar por esse sopro democrático que vem da pátria mãe, a Grécia, os cipriotas do sul poderão se diferenciar, como nação democrática, dos seus vizinhos a norte, avessos ao respeito das minorias e a práticas de direitos humanos, no modelo de sua patrocinadora, a Turquia.
Antonio C. R. Tupinambá — 16 de fevereiro de 2024.